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23 de agosto de 2010

QUE POLÍTICA?


INVERSÃO: O Brasil nos empurra para uma politicagem sem fim e o povo pensa que faz parte do processo... | imagem: Fúria Vespertina

VALDÍVIA COSTA

Somos tão medíocres que esquecemos quem elegemos para governar os estados e o país. Nem recorremos ao direito de cobrar, ao dever de fiscalizar quem a gente elegeu ou a simples vontade de participar do processo político de fato que construimos. Mais um ano eleitoral chegou, novamente aquela sensação de falta total nos invade. Principalmente quando assistimos a propaganda eleitoral gratuita.

A politicagem (tão confundida com o conceito pregado por Aristóteles, por exemplo) não nos seduz, por isso não vou falar tanto dela. Partimos para um post educomunicativo, discorrendo um pouco sobre ser parte de uma "polis", como os gregos chamavam as cidades-estado. Nos regimes democráticos, a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância. Hoje, usamos a internet para "participar", com redes sociais e alcance das "promessas" dos candidatos.

Como "polis" loucas, nem encontramos força num brado plebeu nem na veracidade de um discurso engomado dos que se dizem políticos. Por isso esse desinteresse de alguns em votar. Aí criam armadilhas pra gente se sentir culpado, não querer votar nulo etc. Pra que tudo permaneça como está e o nível da politicagem cresça até dominar geral, ocupar lugar do sentido real da política e excluir mais e com maior intesidade.

Mas por que temos que saber distinguir política de politicagem? Pra não contribuir com falcatruas. Política é um texto do filósofo grego Aristóteles de Estagira. É composto por oito livros e não existem dúvidas acerca da autenticidade da obra. Acredita-se que as reflexões aristotélicas sobre a política originam-se da época em que ele era preceptor de Alexandre, o Grande.

Na filosofia aristotélica, a política é a ciência que tem por objeto a felicidade humana. Ele bolou um esqueminha, para cientifizar mais sua definição, que se divide em: ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na pólis) e na política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade coletiva da pólis).

Investigar as formas de governo e as instituições capazes de assegurar uma vida feliz ao cidadão. Isso era o que deveríamos fazer, atuar. Mas a gente vive assistindo a tudo, pela internet ou pela TV, e só espera. Por ser esse mecanismo de união entre gestores e o povo para se governar territórios, a política situa-se no âmbito das ciências práticas, ou seja, as ciências que buscam o conhecimento como meio para ação.

Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade e toda comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras tem mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política (Aristóteles; Pol., 1252a).

Todo discurso é bonito, ainda mais vindo de Aristóteles! Só não se sabe por que tudo foi caminhando para o outro lado, para uma propriedade privada, para uma formação de quadrilha... Ou sabemos? Será que não contribuimos com essa inversão de sentido do termo ao nem percebermos em quem estamos vontado? Despertar pra esta questão inicial é necessário a todo o processo que temos que refazer para nivelar a felicidade humana.

O nó é cego e duro quando entramos nestas vias, nas quais nos deparamos conosco dentro do processo e não fora, como costumamos nos manter após votar por votar. Contribuimos sim. E precisamos demais da comunicação para nos posicionarmos melhor na vida, nesse processo coletivo e sério que é dar poder e estatus a um representante legal para mexer no patrimônio público, aprovar leis etc.

Segundo o artista multimídia Pedro Osmar, "existem poucos candidatos em condições de encarar de frente o desafio de trabalhar pela ética e dignidade na política! Cabe ao povo organizado cobrar posturas e compromissos de todos os eleitos!". Como artista consciente, Pedro elencou 12 exigências que um plano de governo popular e democrático deve ter. Leiam e pensemos em votar sério e responsavelmente!

Um comentário:

Anderson Ribeiro disse...

Muito boa reflexão. Se contribuimos? Nossa! mais do que pensamos... aiás, é o que falta-nos, pensar em quem estamos votando e por que. Explico: O pensar individual (que seria a ética, no pensamento do texto) virou egoísmo. Se me fazem 'favores', voto. Esquece-se não só do coletivo, mas também que ele, o político, está cometendo uma coruptela, para mais tarde, depois de eleito, cometer grandes corrupções. E depois, posso reclamar? Não, acho que não. Não sou digno disso, pois sou altamente corrompível e não posso bradar mais. Sou tão sujo e grotesco quanto ele.