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18 de fevereiro de 2013

FOLGADOS

De olho nas facilidades, o folgado confunde muito esperança com espera. Imagem:  Riscando 7

Valdívia Costa

A folga e o abuso são manhas sorrateiras. De mãos dadas com a fala mansa e necessitada, a pessoa folgada sai, galgando confortos. Quem o sustenta? Inocentes. Eles são bons e, por isso, não cobram colaboração. Ao contrário. 

Por isso, largo é o sorriso e o modo de viver do que deita e rola se escorando nos outros. Uma pia de pratos sujos e uma lavanderia cheia não são corretivos suficientes para este ser totalmente imune à luta.

Agir com abuso, passando por cima da bondade alheia, usando de artifícios pouco convincentes, mas se livrando das responsabilidades... Uma rotina sem maiores preocupações ou manutenções a serem feitas. É a vida do folgado, este ser pré-histórico que se adaptou às modernidades.

Não fosse pelo duro trabalho de convencimento, o folgado seria apenas um mero preguiçoso, que, ao invés de ter cuidado da própria vida, ficou a espreitar e cobiçar a vida dos outros. Ou a “mendigar na família”, física e intelectualmente.

De todas as manhas, o discurso é uma das raríssimas habilidades em que o abusado mais se apoia para viver. Despreocupado, entre uma esquivadinha e outra, ele é quem se lastima sempre da falta de amigos, da ausência de oportunidades e ainda reclama do que conseguiu. 

O folgado acha que a vida deve sim lhe entregar reservas, mesmo ele não as providenciando. Afinal, tem sempre os bons, ouvindo, dando a mão ou um empurrãozinho.

Nas suas ânsias de escaladas sociais, folgados aos montes conseguem o sucesso explorando, sendo inconvenientes e maldosos. Muitos são tão escrotos que nem se dão ao trabalho de ocultar as falas ingratas ou os gestos excessivos, depois de conseguirem o que almejaram. 

Ah, como são ensolaradas as manhãs dos folgados! Assim, eles encontram a sombra e se deitam. Porém, dá para reconhecê-los (e evitá-los!) pelas atitudes despersonalizadas! Pequenas ações, como tomar emprestado e não devolver, demonstram falta de caráter. 

A folga, neste sentido pejorativo, devia ser crime de má conduta, como roubar e caluniar. Principalmente para atos mais requintados, que exigem persuasão, como ocupar cargos importantes e não corresponder com trabalho. Ou querer tirar dos outros serviços camuflados de “favores”.

Porque quem procura meios de vida mais “fáceis”, menos trabalhosos, acaba querendo se impor como superior. Consegue viver sem esforço próprio e ainda é recompensado pela pseudo existência. Que melindres tem o folgado! Sendo poupado da guerra que é o dia-a-dia para honestos e corajosos!
 

14 de fevereiro de 2013

AMARELITUDES

Quando os nós se desatam... | Imagem: Arte de Luiza Pannunzio, designer de São Paulo.

Valdívia Costa

Nessas manhãs em que o amor está pelo avesso... estendido em toda sua amarelitude, por cima de uma cadeira velha, exalando um cheiro de preguiça mofada... nem parece o amor... mas é. E ainda assim, desprovido de toda sua beleza, sujo, entregue ao comodismo, ela o ama.

Nessas tardes que se separam, que alimentam a intolerância um no outro, em que o amor fica por trás das coisas insignificantes, trêmulo, achando que não existe mais... ela sofre de inquietudes, mas esboça meio sorriso tingido de uma vontade que não há. Sobretudo, ela o ama...

Nessas noites de tremenda falta do que fazer, desfazendo as malas ou não, copulando com ondas cibernéticas ou sem elas... não se sabe onde o amor se faz! Muitas vezes, ele faz as falas dizerem bem mais do que a realidade exprime... “Queria dizer que amo... a alguém”.

Dela (e para ela!) parte esse desejo. Por isso ela o quer inteiro... Não só sem dúvidas como sem dívidas! Mas amar é bifurcação, uma divisão às vezes injusta, porque... Por mais que queiramos estar sós, o amor convida alguém...

Esse "aparecer" estende-se não só pelo corpo da pessoa, como segue por dentro da alma... Por isso que, um dia, ela o desamará, por não saber mais cuidar. Um dia o amor falecerá... Tão fraco e desbotado, tão sem forças que não resistirá ao verso da página a ser virada.