19 de junho de 2008
*música* JOÃO GONÇALVES - "Duplo sentido tem que ter arte"
EXPERIENTE - compositor de "Severina Xique Xique" já gravou 21 LPs e CDs
Com quase 40 anos de carreira profissional, o “Rei do Duplo Sentido”, João Gonçalves, 72, continua na ativa e ácido em relação aos adeptos do estilo “Chupa que é de uva”, sem qualidade e nem romantismo. “Duplo sentido tem que ter arte. Nada do que se faz hoje com esse rótulo tem a ver com o meu trabalho”, diz o artista, enfatizando que não criou um estilo pornográfico.
João não gosta da objetividade das letras de forró da atualidade e diz que da sua escola não há seguidores. “Hoje, a gente escuta estas músicas como se fossem de duplo sentido, mas na verdade são como uma pessoa que tira a roupa de uma vez só na sua frente. A gente se choca quando isso acontece. Além de não acrescentar nada de novo no estilo verdadeiro, tira nosso romantismo, marca dos artistas da minha época”, explica.
A sutiliza é a chave do negócio para quem quer dizer uma coisa, mas diz outra, segundo João. Criador de célebres composições que se tornaram sucessos radiofônicos, como a inesquecível “Severina Xique Xique”, a intenção usada nas músicas de João não lhe pesa na consciência como a necessidade urgente de falar de sexo para vendê-las.
Para não errar, o músico remenda aos compositores que pretendem brincar com temática regional e erótica, a combinação de palavras do cotidiano nordestino com situações que insinuem uma atração sexual.
“Tem que ter cuidado, pois a qualquer momento você pode criar uma pornografia. Não vem ao caso colocar a intenção claramente, mas usar palavras que casem com aquela intenção maliciosa e não explícita”, diz João, que prefere definir o seu trabalho como uma erotização e não um desejo escancarado.
Romântico irreparável, João Gonçalves representa uma época em que “más intenções” só existiam na nossa cabeça. O estilo “diz, mas não diz” lhe rendeu fama e muitas parcerias como a do amigo Messias Holanda, que foi o responsável pela guinada em sua carreira, em 1970, com o sucesso “Minha Margarida”, e do companheiro Genival Lacerda, que moldou seu estilo às composições de João, gravando três de suas músicas na fase mais produtiva, como “Galeguim dos zói azul” e “Mate o veio”.
Espontâneo - O estilo de João Gonçalves não surgiu de maneira planejada. Ele gravou “Minha Margarida” com o ritmo do “iê-iê-iê”, um rock “nordestinizado” dos anos 70, em homenagem ao “Rei” Roberto Carlos. Como o parceiro Messias Holanda estava querendo um forró, achou possível transformar a música num arrasta-pé. João gostou da versão que o amigo deu ao som e gravou num Long Play.
A música não tem nada de intencional, apenas o trecho “...tem um pé de pega-pinto” que despertou a curiosidade dos ouvintes de rádio. “Aonde eu chegava tinha gente falando neste duplo sentido que eu não planejei inventar. Foi algo natural. O pega-pinto é um tipo de mato que tem no Nordeste, mas o pessoal do Sudeste teimava em dizer que a Margarida queria era prender um pinto”, relembrou, sorrindo.
A partir do primeiro hit, João partiu para ousadias maiores e resolveu falar com Genival Lacerda, que já era um cantor renomado. Ele deu a Genival uma fita cassete com oito composições, incluindo Severina Xique Xique, que estourou e ainda hoje é regravada. “Descobri que essa música já foi regravada 130 vezes”, contou o artista, que se orgulha de ver Rita Lee, Marisa Monte e outros fazendo releituras de suas músicas.
Recorde de vendas - Na época dos discos de vinil, João Gonçalves foi recorde na venda de LPs, conseguindo emplacar por ano cerca de 100 mil discos vendidos. O “Rei do Duplo Sentido” também gravou pela CBS, Tapecar, Continental, Chantecler, entre outras.
A primeira composição que deu nome ao primeiro disco, “Pescaria em Boqueirão” regravada na década de 1990 pelos jovens do grupo “Das Bandas da Paraíba” rendeu um titulo de cidadão boqueirãoense. “Vendi mais de 100 mil cópias desse LP. Foi por causa disso que eu me dediquei mais ao duplo sentido porque percebi que existia uma grande receptividade, as pessoas achavam engraçado. Fui considerado um gênio, entre os colegas, por ter inventado esse estilo”, relembrou João Gonçalves.
Novos projetos - Com 21 trabalhos gravados, entre LPs e CDs, João Gonçalves disse que não vive mais de shows, mas adora compor e gravar. Como prova de que as atividades intelectual e artística lhe fazem bem, ele está preparando um DVD pelo Fundo Incentivo à Cultura (Fic) Augusto dos Anjos. O trabalho segue o roteiro do CD “Onde foi casa, é tapera”, gravado em 2008.
------------------------
Valdívia Costa
para o CORREIO DA PARAÍBA
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Olá,
Amei seu blog! Te add na minha lista de blogs favoritos, ok?!
Abraços.
Postar um comentário