29 de março de 2009
*opinião - O povo não decide nada - Val da Costa
Teatro do Oprimido (TO), uma semana depois do protesto, encenando o momento em que uma das estudantes foi agredida pelos policiais | imagem: Leidiane Alves
Por Val da Costa*
Um adendo ao caso do descaso aos usuários de transportes coletivos em Campina Grande-PB. Para quem não ouviu falar, no início desse mês uma liminar baixou do céu nas cabeças preocupadas dos usuários de ônibus na cidade. Isto causou revolta, protestos e muita confusão. De um lado, os empresários justificando que usaram do recurso da Justiça porque há muito tempo não se aumentava a passagem. Do outro, os estudantes, que apanharam da Polícia por defender seus direitos de protestar contra um abuso autoritário.
O protesto do aumento da passagem foi teatralizado em pleno centro de Campina na semana passada. Nas ruas, os estudantes somaram mais de mil, de várias escolas e universidades. Mesmo assim, o poder do dinheiro, da "cega" Justiça e da violência foram, unidos, mais fortes. De bandeiras e faixas em punho, com palavras perigosíssimas exigindo direitos, que representavam uma “ameaça a paz e a ordem da sociedade”, os estudantes foram agredidos pela Tropa de Choque da Policia Militar. As agressões foram registradas pelos estudantes, que não cochilam depois dos celulares com câmeras.
A Polícia Militar, em seu constante e repetitivo corporativismo, não é a única instância que desconsidera o direito ao protesto, neste caso de Campina Grande. A Justiça, em suas vestes de carrasco “igualitário”, não quis nem saber de consultar algum representante ou instituição representativa do povo. Pra quê? O povo não decide nada, a Justiça sim, decide tudo. Decide até nas surdinas, se assim ela achar relevante.
Vejam vocês como não vivemos em democracia nenhuma e como o povo não decide nada. O episódio ocorrido com esses estudantes deixou, passado uma semana do fato e nenhuma alteração no preço (que subiu mesmo de R$ 1,55 para R$ 1,70), uma sensação de negligência ao direito de opinar. Uma coisa simples, parte de qualquer democracia, afinal tudo começa por este gesto primeiro da comunicação, a fala.
Mas é difícil aceitar os contrapontos da vida. Principalmente se a pessoa é policial ou juiz. Só que o povo não pode desistir de gritar quando pisam em seus calos. Embora muitos sejam secos, todos doem, quando remoídos nos conceitos de “ordem e progresso” às avessas que a Polícia impõe. Outros direitos já foram abandonados e passam despercebidos, como este, que os estudantes tentaram recuperar.
Democracia? - No Orkut da estudante Leidiane Alves, a gente pode perceber o despreparo da Polícia ao abordar um cidadão comum. Apesar de indignado por ter sido excluído da democracia, onde se decidem as ações que recaem sobre a sociedade em coletivo, os protestantes eram apenas civis, desarmados e sem fichas criminais.
Respeito? - Os policiais estavam com armas carregadas e engatilhadas, como se estivessem a desfilar com brinquedos, com aquele ar de criança “pequeno burguesa” que morre de feliz ao ganhar um revólver de plástico pra oprimir os outros. “Um deles chegou a deixar a arma cair no chão, os protestantes pisaram em cima do revólver e muitos com medo da arma disparar”, disse o representante do Centro Universitário de Cultura e Arte – Cuca de Campina, Ítalo Jones.
Depois dessa poeira levantada, que impressão tiramos da segurança pública do Estado? Ao partir pra cima de protestantes que não estavam quebrando nada, nem a tradicional fogueira de pneus foi feita no meio das ruas, eles foram truculentos. O protesto, ao meu ver, estava pacífico e até brincalhão, somente pra reivindicar o direito de opinar sobre a decisão da Justiça. Em nenhum momento a violência era necessária. Mas o que esperar de quem bomba demais os músculos e menospreza a força do cérebro?
*Val da Costa é jornalista, defensora do direito à fala, mesmo num mundo sem boca.
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Um comentário:
Saudações camarada!Passei para parabenizá-la e pedir um pequeno favor. Linka o o novo blog do cuca ai no deacordocom o endereço é: comcuca.blogspot.com
Tem uma reportagem narrativa que fiz sobre a manifestação estudantil, da uma olhada lá e deixa a tua opinião. Um grande abraço e até a vitoria.
Marcos Moraes ( estudante do 4° ano de comunicação social e coordenador do departamento de comunicação do CEntro Universitario de Cultura e Arte - CUCA.
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