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24 de março de 2010

QUADRINHOS NELES!


DOIDONA - A personagem que criei tinha um pouco de mim, tinha um pouco dos heróis bonachões que admirava nos HQs raros, que só encontrava em cidades maiores. Tinha episódios dela parecer super feminina, mas sempre com esse cabelo eletrizado. | imagem: (de 1990) Val da Costa

VALDÍVIA COSTA

Posso até estar enganada, mas me apaixonei por arte na adolescência, através, principalmente, da comunicação. Tive sorte de poder ir a uma lanchonete me refrescar com um picolé e ler as revistas e gibis que quisesse. Na cidade onde nasci nunca houve muito incentivo às artes e eu achava que era privilegiada de ser colega dos vendedores de revista.

Via quadrinhos como o Chiclete com banana e acompanhava os roteiros inacabáveis de Conan, o Bárbaro. E assim, colando pedaços de memórias com tantinhos de histórias criei minha primeira e única revista em quadrinhos. A HQ era sobre uma menina irreverente, mas antenada com a realidade, chamada Lobona (em homenagem a quem???).

Bastava esse pequeno incentivo diário de leitura, antes e depois da aula, pra viver em companhia dessa personagem. Andava com Lobona na cabeça e corria pra casa para rabiscá-la em situações surreais de opressão e desdobro da heroína. Parte dessa criatividade ganhava ao ler os quadrinhos na lanchonete.

Ando pelas ruas e esbarro, às vezes, em adolescentes ocos de inspiração, vazios de arte e crentes em correntes eletrônicas, como seguidores do vácuo da ignorância. Como não ser insensível sem a noção da realidade? Eles não tiveram a chance de saber que a arte é o fio condutor da catarse, nem sentiram tal envolvimento com uma obra de arte.

Sem as percebermos, sem deixarmo-nos tocar por elas, sem as entedermos, seremos adultos estúpidos que não sentiram o prazer da contemplação. Cegos dessa parte quase abstrata da vida, os insensíveis se questionam o que é arte, confundindo-a com um produto descartável, até imitável, mas jamais igualável. A arte nos pega num arrebatamento e nos põe no colo, acalentando nosso gosto com luz, cor, forma, som, textura, poesia...

Independente de sermos jovens ou velhos, a arte pode se apresentar na vida. Mas não são todas as pessoas que entendem uma obra ou um artista. De tão exclusiva, a arte é elitizada. Não por ser boa demais. Mas por causa do nível rastejante de conhecimento da maior parte dos habitantes do planeta. A luz do saber é fosca em determinados casos.

Depois dessa definição não totalizadora do significado da arte, imagine então um sujeito sem estudo (de vida e de língua), totalmente metido a moderno e chic por ter grana, ganhando uma obra de Salvador Dalí, por exemplo. Ele vai fingir felicidade por algo que ele nem conhece, nem entende, nem faz a menor questão em saber.

Em dois dias, ele decide pendurar "o quadro" na sala menos usada da casa. Não pra esconder a raridade do público, mas por achar "aquilo" muito esquisito e pensar que os amigos vão perguntar demais pra que serve uma galinha, um relógio, tudo derretendo... Aí é quando eu completo a ideia da minha personagem Lobona, de que "tudo é um tédio", principalmente por causa da minha intolerância à cafussagem.

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