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13 de março de 2010

SEGUNDO DEVANEIO SOBRE A MORTE

ISOLAMENTO - Essa é a sensação de qualquer pessoa que é pega de surpresa com um fato drástico, aterrador. | imagem: Deivy Costa, no blog Universo HQ

VALDÍVIA COSTA

Glauco desenhou um de Los três amigos que eu mais curtia na adolescência. Era o único que, na revista Chilete com banana, parecia ter movimento. Suas várias perninhas e cara de lesado me cativaram. Foi por causa dele e dos desenhistas de HQs dessa revista que eu desejava ser uma deles, até os 14 anos. Hoje revi esses personagens de duas décadas e me deu uma sensação triste de solidão.

Não temos certeza mais humana do que a morte. Mas a realidade, muitas vezes, nos faz questionar a tudo e a todos. Tem coisas que nos soam, na vida, como contracensos. No caso do Glauco, ele era um líder espiritual do Santo Daime, morto com tiros à queima roupa, como prega o jargão policial. Soa-nos uma injustiça esse violento fato devido ao outro pacificador, de que ele era religioso, vivia com divindades, ou acreditava nelas, pelo menos.

Dá-nos uma sensação de querer vingarmo-nos, de querer entendermo-nos, ao mesmo tempo, descobrir porque somos assim, humanamente mortais. Temos tanta importância para uns, acreditamos tanto nos ensinamentos desde pequenos, construimos vidas interessantes aos olhos humanos, criamos, amamos, firmamos nosso nome na história, para, um dia, pura e simplesmente, acabarmos sem explicações.

Acredito ser essa ausência, esse vácuo de conhecimento, que nos faz pensar se pai e filho se encontrarão no mundo espiritual o qual eles cultivavam aqui na Terra. Não sou tão cética ao ponto de me perguntar isso sem respeitar o que os daimistas creem. Já participei de duas reuniões do Santo Daime, como curiosa, e vi que há uma ligação muito forte entre pessoas, plantas, animais e divindades. Quem sou eu para duvidar?

Porém fiquei cobrando de algum deus os porquês. O primeiro, bem maniqueísta, era: por que eles eram religiosos, estavam tentando fazer um 'bem' para um ser humano desequilibrado e receberam o 'mal'? Pode ser ignorância espiritual, pode ser preconceito religioso, pode ser até burrice de sensibilidade mesmo. Mas ninguém consegue entender porque a mão dura e contraditória da morte atingiu pai e filho, desviando-se do assassino.

Fiquei com o silêncio do nada me cercando, me provocando e me fazendo escrever meias-revoltas. Somos um nada mesmo. Mas, é como escreveu Nietzsche: "facilmente ninguém tomará por verdadeira uma doutrina porque ela torna felizes ou virtuosos os homens (...)". Isso porque, para ele, "a felicidade e a virtude não são argumentos".

Há algo mais do que o bem e o mal na ideologia daimista, eu sei e percebo isso. Talvez o pai e o filho já soubessem dessas respostas e eu, tola descrente, desconheça. Tomara que sim, que eles tenham encontrado o sentido da vida, mesmo depois da morte. E que eles sintam-se em casa, misturados ao verde da paz, do amor e da luz, como um dia idealizaram e desejaram.

Um comentário:

São disse...

A morte é a única certeza que todo o ser humano tem.
Por muito dolorosos que seja, ninguém morre nem antes nem depois de seu tempo.

Se não nos tivessem apavorado com ideias estúpidas acerca do que há depois, não nos afligiriamos assim face ao inevit+avel.

Bom final de semana.