21 de maio de 2010
IGUAIS
CONFLITO - Uma confusão entre ser igual e diferente, ao memso tempo, como na novela mais famosa de Franz Kafka, A Metamorfose: "quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos encontrou-se em sua cama matamorfoseado num inseto monstruoso". | imagem: Paraíso Niilista
VALDÍVIA COSTA
Nós não nos aceitamos diferentes porque somos iguais. Escorregamos os olhos no outro, de cima à baixo, voltamos o olhar pra nós mesmos e não nos conformamos como diversos. Não somos todos iguais?! Homens, todos machões; mulheres: todas feminininhas? Por que não somos felizes?
Viver uma sociedade etnicamente híbrida é uma quimera. Corre sangue português, índio, negro, holandez em nossas caras, mas só queremos nos ver brancos. Só procuramos, em reuniões sociais, os iguais. Seja pela cor, forma ou vestimenta, nos atraimos. Quando o casal se apresenta alto e baixo ou rico e pobre, logo ligamos o pensador autômato: "isso não vai dar certo".
É como se quiséssemos nivelar o gosto ou a atitude preconceituosa com a estética mórbida de pasto com ovelhas soberanas monocromáticas. Ou como se uma única raça gritassse dentro de nós: "Hay, Hitler!" e nos guiasse, esse brado, a um genocídio imaginário de seres humanos distintos de nós.
Aqui no Nordeste, quando vemos, por exemplo, um homem educado, com delicadas maneiras, o taxamos de gay. Porque nossos hábitos cangaceiros, até familiares, nos moldaram delimitadamente para processar uma única forma de ser homossexual e uma solitária maneira de ser hétero.
Sendo que, com a globalização, cansamos de ver que as estéticas, performances e tendências de cada sexualidade, unclusive as denominadas mais recentemente, como a pansexual, mudaram, entrelaçaram-se numa gigantesca e colorida hegemonia indestrutível.
Mas nós, seres limitados no pensar e no agir, continuamos de olhos e ouvidos fechados, tal qual nossos avós, a um século atrás. E o pior: temos internet, essa rede que conecta tudo no mundo, mostra-nos os avanços e nos reeduca nessas posturas rígidas.
Vemos os transportes, ruas e meios se adpatando à realidades diversas, como com os cadeirantes. Mas nós, humanos desinteressados por humanos distintos, fingimos que eles não existem. Nos assustamos quando um surdo se comunica conosco. O que dizer para alguém que fala com o olhar? A mesma coisa é com o homem elegante quando a mulher determinadamente masculina o discrimina.
Se temos carro evitamos amizades com quem caminha. Se somos "bem relacionados" desviamos o olhar do instrospectivo. Se bebemos, não andamos com quem fuma. Se o amor nos falta, taxamos a doçura de exagero meloso. Somos, eternamente, insatisfeitos com nós mesmos e com os outros. E somos iguais, mas de diferentes jeitos.
Sentimos olhares escaneadores recusando nossas posturas, nossas ideias. Deve parecer estranho ser do contra, para quem assim não é. Mas não mordemos. Só nos confundem, esses pensamentos discriminativos. Como bem narrou Franz Kafka, "...mas Gregor não tinha a menor intenção de causar medo a ninguém...".
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Um comentário:
ah, o kafka... e o raulzito bem que completou bem- eu tambem prefiro ser essa metamorfose ambulante!
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