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8 de maio de 2010

O PARAÍSO DAS GARÇAS É NO SERTÃO


OFF - As milhares de garças vaqueiras fazem um caminho parecido com o nosso, ao voltarem do trabalho pra suas casas (algarobas brancas na faixa mais amarelada - clique na foto) depois de um dia de luta pela sobrevivência. | imagem: Val da Costa

VALDÍVIA COSTA

Se chegar num lugar desconhecido causa certa ansiedade, Sousa, no Sertão paraibano, ganha de todos ao amenizar isso com um lindo visual verde agarçado. A chegada nessa cidade plana, quente e de desorganizados atrativos cedo da manhã ou no entardecer é arrebatadora. Somos recepcionados pelas garças vaqueiras. Aos milhares, elas ocupam as algarobas num açude do município de pouco mais de 60 mil habitantes. Um atrativo visual e sonoro bem envolvente que batizei de Paraíso das Garças.

Seguindo uma definição científica não muito confiável, mas disponível para uma primeira guia, da Wikipédia, a garça faz parte da família da Ardeidae, aves ciconiformes como os socós. Elas vivem aos bandos, frequentam rios, lagoas, charcos, praias marítimas ou manguezais de pouca salinidade. Se alimentam principalmente de peixes, sapos e outros animais aquáticos. A vaqueira, mais comum no Sertão, se alimenta de insetos.

Ave branca, de longas e elegantes patas alaranjadas. A garça enfeita nossos desenhos infantis com suas asas esguias sobrevoando uma casa, às vezes representada apenas por um V aberto, de linhas curvadas. Calmo é o voo da garça. Suave é seu pouso ao redor das vacas. Como colegas camponesas, as duas passam o dia inteiro trabalhando juntas.

A vaca executando seu papel principal, pastando, e a garça... é curiosa a forma como a garça associa-se ao bovino para comer, numa parceria mais do que higiênica para a vaca, comendo insetos que sobrevoam suas melecas e até seus carraptos. Não pesquisei com nenhum órgão ambiental, mas acredito que Sousa abriga milhares dessas aves.

Não dá pra vê-las muito bem nas imagens que fiz desse habitat, não tenho uma lente potente e o acesso ao Paraíso das Garças está muito precário, inundado de água, coberto de matagais, gigantescas e frondozas algarobas. Mas valeu estar em contato com bichos tão parecidos conosco na forma de trabalhar. Elas passam o dia na sociedade com as vacas, inclusive, muitas vezes, pegam carona no lombo desses animais pacíficos mogedores.

Por volta das 17h00, acontece a revoada. Todas, de uma só vez, levantam voo. E saem de recônditos pastos, dos mais distantes, se agrupam em pequenas revoadas e passam por cima de todos os caminhantes da entrada de Sousa. Uém, Uém, Uém... É o som da tarde que acompanha quase todas as cidades sertanejas. É o branco cobrindo o verde, acompanhando uma faixa amarelada que vai passando por cima das árvores, dando lugar a um sombreado anoitecer.

Sousa também tem uma história com os dinossauros. Mais intensa, viva (apesar da extinsão desses bichos pré-históricos), revigorada com apelo turístico, mantida por todos os sousenses com o orgulho de quem defende uma identidade. Tem sauro em todo lugar do município, ns praças, nos estabelecimentos comerciais. E o único vestígio dessa vida dinossáurica fica no Vale, em gigantes pegadas fósseis.

Outra relação entre a população e a garça, que ainda não se extinguiu, deveria surgir. Já que o lugar foi escolhido por elas, a cidade deveria protegê-las. Mas já soube por lá que não há nenhum interesse em transformar esse paraíso garçal em atrativo embelezante. Vejo o sousense ainda desatento pra essa relação natural. Já estão populacionando essa entrada da cidade.

O terreno da frente desse habitat foi loteado. Em breve será morada de gente. Gente que vai ser privilegiada diariamente com todo esse movimento garçal descrito aqui. Mas assim não pensa o homem. Só interessa seu conforto. Soube pelos caminhantes que o terreno onde fica o habitat, que é privado, cercado, inclusive, ia ser loteado como o da frente. Senti profundo pesar ao ouvir isso.

Fiquei pensando, triste, como viveriam essas milhares de pássaros tranquilos sem suas árvores, sem suas casas ao voltarem desse trabalho árduo e interminável pra um ser vivo que é sobreviver. Mas notei que essa minha sensibilidade era ingênua e solitária, ao ouvir um sousense dizer, no momento em que fotografafa: "atire uma pedra que elas voam... é lindo". Salve a selvageria humana!

Um comentário:

Anônimo disse...

Valdivia, valeu por você apoiar a causa ambiental. Não faço isso
pelo o homem, se é ele quem causa tudo isso. Faço porque faço desde
criança, desde os anos setenta. Faço pelos animais, pelos inocentes,
crianças, e tudo onde ainda tem pureza. Nem sei mais porque
ainda faço, mas não posso abandonar a causa. Gosto de ajudar animais.
Foi sempre assim, não me importa se o homem tipo caçador, capturador,
político não goste das minhas atitudes. Acho que o
que eu faço me dar prazer, fazer o bem a essas criaturas me faz
sentir bem mesmo sem ter nada nos blsos, nada nas mãos. Os animais são
diferentes dos humanos, eles não precisam apertar a minhas mãos pedindo obrigado com falsidade. Se eu estiver na zona urbana tem um vira-lata rabujento que incoscietemente, sem apertar minha mão, agradece. Se
tou no campo milhares de criaturas me olham sem ganância, sem falsidade
etc... Vejo ONGs picaretas, isso me dar nojo. Sempre fiz de graça,
tirando de um bolso que não tem grana. Valdivia, tem hora que acho que sou meio maluco mesmo. Enquanto a sociedade estuda pra ser algo e
melhorar economicamente para comprar coisas, tou eu dentro da floresta ou fazendo algo em prol de animais. Acho que virou uma obsessão fazer algo
pelas criaturas, desde criança. Desculpe eu ter falado tudo isso,
acho que é tipo um desabafo. Pois nem todos me entendem, e ja que
escrevi, vai assim mesmo. Desculpe os erros de portugueis. Não sou super homem nem capitão planeta. A sociedade maltrata as criaturas e
depois todos vão pras religiões se purificar. Será que eles leem de
verdade a biblia? Eles compram animais e tratam como objetos, como se as criatura não sofresse. Não entendo nada disso tudo.

Aramy Fablício, ambientalista de Fagundes-PB