Texto e fotos: Valdívia Costa
Professora de Caldas Brandão mostra o cemitério da cidade |
Achei-a incrível. Não só pela sapiência, mas por ser tão teatralmente espontânea. Uma mulher de um metro e 60, cabelinho curto, sorriso com dois dentinhos à frente...
Ela diz logo, a quem percebe: “eu não ajeito meus dentes porque, quando morrer, quero ser enterrada sorrindo pra todos... assim, com os dentinhos pra fora”. Muitos risos na tarde dourada de Caldas Brandão, no agreste paraibano.Maria Canafístula nos deu uma tarde inteira de narrativas. Na verdade, Maria José, ex-professora e entusiasta da cultura. Foi ela quem me disse: “Caldas Brandão já foi chamada de Canafístula”. E deu-me seu livro, “um sonho realizado”, contando a história da cidade.
Eufórica, essa paraibana guerreira nasceu, se criou e vive até hoje na região desta cidade, atualmente numa comunidade de quase seis mil habitantes. Vive na cidade de Caldas, aproveitando o tempo pra fazer artesanato, vender umas coisinhas...
Mas, ela não se importa muito. Afinal, é detentora das chaves da igreja, de suas casas e até do velho cemitério. Vira e mexe, o Rio Gurinhém enche e alaga o local sagrado. Mas é um local bonito, “cheio de paz”. Ela mostra, entusiasmada, as grinaldas que confeccionou no último Dia de Finados. “Vendi 43. Estão todas aqui, olha”, aponta os túmulos.
De tanto idolatrar a cidade, ela plantou a única muda de Canafístula em seu quintal. Com o passar dos anos, a planta foi sendo extinta do convívio dos caldas brandenses. “Vou dar as mudas pro povo plantar”, diz.
Ah, se em todo lugar desmerecido, afastado, sem muitos atrativos, tivesse uma mulher assim: Maria em seu espírito, com Canafístulas caindo das mãos...