17 de março de 2010
DAS FASES E DAS VONTADES
ANTE-ANSEIO - Não querer é uma fase do existir, mas que faz a pessoa entrar em paranóia, pensando muito no que desejar ou se esconder as vontades vai aniquilar o direito delas surgirem. (texto confuso, de 2007) | imagem: Menina de trapos
VALDÍVIA COSTA
Fases que escapolem ao sol do meio-dia. Pensar nelas me causa uma angústia desmedida. E pensar que eu já senti muita vontade, que eu a causei ou que ela veio ao meu encontro é como afundar naqueles pufs fofos gigantes. São temerosas essas fases silenciosas, ocultas entre as ocupações da rotina e as preocupações do amanhã. Mas eu as encaro. São frias, porém verdadeiras, nos mostram o quanto nossos desejos podem nos desmotivar.
Para onde vai a vontade quando não se sente mais à vontade em vivê-la? Ponderar sobre o que queremos me dá equilíbrio, embora tenha gratidão pela revolta, pois só ela transforma. Por isso renego as fases frágeis e não me sujeito mais a guardá-las. Afugenta-se em mim, agora, o orgulho. Lembro-me das tantas vezes que esperava, anciosamente, as respostas.
Respostas não dadas, mas tomadas aos solavancos, devido à falta de encaixe nas vontades dos outros. Eu escalei minha própria montanha de questionamentos sobre a vida e sobre os momentos que enfretamos, com dúvidas e inseguranças. Não atingi o topo da irreverência, pois ainda preciso de gente, de trabalho, de tudo o que construimos. Mas criei meu escudo contra o que já vem pré-estabelecido, empacotado ou simplesmente entregue como verdade absoluta.
Pensar que posso querer e esse desejo me afetar direta ou indiretamente me deixa quieta, sem ação. Porém não faço dessas fases evitadas tormentas. Não as quero me assombrando por toda a vida. Por isso, às vezes, solto os meus receios pela casa... monstruosos são os quereres, tanto nos maltratam, tanto nos impugnam com seus rostos cálidos de desejos, pedindo, implorando nossa atenção.
Queria poder parar de querer. Parar a vontade para que o instante seja levado levemente, sem interferência planejada, direcionada ou apontada. Ligo a TV e vejo as cooptações publicitárias e marketeiras a pular na minha frente, alegres como crianças. Todas armadilhas de tantas outras vontades que se uniram e perfilaram os tipos de produtos de consumo.
Quero não querer mais assim, dessa forma predestinada. Queria ter um desejo limpo, nunca antes usado, nunca antes sugerido pelas mídias modernas ou pelo homem. Como não o consigo fabricar, nasce, consequentemente, a frustração por não aspirar. Essa é a fase que devo evitar, comentam. O que pretender, afinal?
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4 comentários:
Seu blog é muito bom. Lê-lo me leva ao mais profundo dos meus pensamentos, todos os dias tenho que acompanhá-lo. Você tem um dom muito bonito: o poder de manipular as palavras.
Thanks, conterrânea!
Essa energia poética e feminia percorre nossas veias, desde a outra também jardinense Lourdes Ramalho.
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"O que pretender, afinal?"
O querer!
Ter vontade férrea!
Ter direito á revolta!
Questionar, o quê? Temos que ser nós a dar-mos as respostas.
Talvez as que queríamos ouvir ... mas dadas por nós.
E o querer!
Mandar com autoridade, exigir, precisar, desejar, AMAR, (sim, que o amar é talvez o maior querer). A intenção de querer algo poético que nunca pertenceu a ninguém.
É uma utopia, uma quimera, uma fantasia.
É o que temos que fabricar.
A convicção, prova evidente e indubitável desse facto. O querer !!!
"... ah, bruta flor do querer" (Caetano Veloso)
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