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11 de abril de 2010

BLOGUEIRA NA ESSÊNCIA


HÁBITO - A escrita, essência de todo blogueiro, é o que sei fazer diariamente, é o que me refresca e o que me satisfaz... até que perceba falhas e releia e reescreva o mesmo texto várias vezes. | imagem: Diário Gauche

VALDÍVIA COSTA

Substitui a coleção de cartas pessoais pela de agendas. Vista por alguns como um caderninho de utlidades, a agenda sempre fica me cutucando pra escrever. Por isso, mesmo tendo agendas eletrônicas, quando finda o ano, minha agenda física está cheia de opinião, poesia e anotações factuais, como os aniversários. Fazendo essa pesquisa empoeirada descobri que tenho essência de blogueira desde 2000.

Quando ainda eu nem tinha acesso diário a internet, lá pelo meio do curso de Comunicação, eu estava, cada vez mais, interessada no estilo opinativo. A prova está nas agendas! Todas com textos de letra caprichada (no começo), bilhetes, desenhos e compromissos. Verdadeiros posts! Chego a comentar nesse texto abaixo sobre essa necessidade de escrever diariamente. É uma reflexão de uma foca do jornalismo.

Ainda guardo comigo aquela velha e tola vontade de contar o dia em páginas escritas de um diário. Agora por exemplo preciso perguntar: a que se deve tanta agonia e reviravolta na minha vida de jornalista? Será que fui marcada precocimente pra não completar o que pretendo ser?

Por que temos tanto que mudar? Por que tudo que se escolhe fazer nessa profissão chega a ser sacrificante? Não quero parar no tempo e ficar me irritando tanto, mas gostaria de ouvir algumas explicações que justificassem tanto tumulto, tanta fofoca e tanto descaso. A profissão que resolvi seguir é realizada por pessoas, muitas vezes, maldosas, sádicas e pervertidas intelectualmente.

Está certo que o jornalista tem que ter um pouco de malícia. Porém não é saudável que esse veneno contamine os membros de uma mesma equipe. Acho que sou muito romântica. Mas não gostaria de abrir mão das minhas virtudes pra praticar o meu trabalho. Não queria trocar o termo falsidade por política da boa vizinhança, como é a praxe.

A relação que construimos num mercado globalizado tende a axigir de nós mais do que a vontade de ficarmos juntos. Algo concreto, como bens materiais, nos falta e vivemos compensando essa lacuna com nossos sentimentos utilitaristas. Às vezes acho-os tão frágeis pra suportar a tormenta.

Seria excelente se eu conseguisse notar que é possível viver em paz, sem sentir a pressão girando em torno da minha rotina, me cansando. É o medo que me faz pensar em desistir de tudo imediatamente. E é de mim mesma que eu tenho que me esconder. Para que eu consiga sobreviver mais um dia. Um de cada vez...

Final de maio de 2004

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