9 de abril de 2010
EXPERIMENTAL DE TONINHO BORBO
URBANO - O som do Borbo tem da noite o que mais gostamos: o perfume, o vento carinhoso e muito desejo pra gastar na cidade; dada a curiosidade, vamos saber do experimental. | imagens/montagem: Val da Costa
VALDÍVIA COSTA
Atualmente é comum dizer que um som é experimental. Vários trabalhos novos da música popular brasileira usam o termo pra designar o que a palavra diz: um experimento. E assim vimos e veremos vários músicos cientistas experimentando sons, ritmos, instrumentos etc. Como Toninho Borbo. Paraibano, sempre munido de composições brasileiras e populares, o músico está divulgando o show Experimental Samba Groove.
Além de ser isso tudo que escrevi, esse som apresenta as letras mais novas do músico. Lindas letras que se misturam aos ritmos mais modernos como o ragga e o funk. Nesse samba que só sabe saborear um sabido, a mpb ganhou nova roupinha, vestiu o vestido mais simples e foi de chinelo dançar. Essa foi a simples forma que o artista encontrou na música, acompanhado pelo baterista Edmar Travassos, o baixista Orlando Freitas e o DJ Frequência Zero (fHz0).
O resultado tem de sofisticado o quanto tem de gostoso. Só dá pra avaliar assistindo a apresentação. Por falar nisso... Amanhã, dia 10, tem uma! Pelo horário (20h00), dá pra levar toda a família pra ver essa sonoridade que mistura instrumentos com bits eletrônicos. O show será no Sesc Centro em Campina Grande e terá a abertura de uma banda nova da cidade, A Valsa de Molly.
DE ACORDO COM " - Você começou a carreira artística tocando mpb. No seu quarto trampo nota-se uma transformação, um experimento com o estilo. Explique o que é o som Experimental Samba Groove e o motivo da adaptação.
TONINHO BORBO - Comecei a tocar violão na década de 90 e a minha fonte de inspiração direta foi o João Gilberto. Esse momento foi de extremo encantamento em ouvir aqueles acordes dissonantes, que logo depois, conhecendo melhor a música brasileira, descobri que a sutileza, a leveza e o suingue do João, não era nada mais que a mistura do samba com o jazz, tocado por um instrumento típico popular da boemia underground dos guetos do Brasil, o violão. Isso foi legal e fez do João, Tom, Vinícios e tantos outros, caras de vanguarda dos anos 50. Na sequência, o Caetano Veloso, o Gil, e o Chico Buarque aumentaram o meu repertório diário na fissura que tinha em tocar violão e ficar pensando naquilo que os caras estavam dizendo nas letras. O meu apego ao instrumento, às músicas e às letras, foi na verdade um valor incalculável dado aquilo que no momento estava transformando a minha vida e construindo minha indentidade. O Chico Science e a "galera mangue" entrou em paralelo. Aí foi onde vi que os artistas de vanguarda eram os que eu mais gostava de ouvir. Todos esses que citei foram pontas de lança. Hoje o meu trabalho é um reflexo desses irreverentes gestos. Por isso Experimental Samba Groove. É uma forma despretenciosa de dizer que vou deixando as minhas contribuções possíveis à mpb do meu tempo. Experimental Samba Groove é o meu jeito de fazer agora minhas canções, com total desapego do resultado e testando a liberdade de usar música eletrônica e outras coisas pra dizer que o processo está aberto.
" - Até que ponto o mercado baliza a sua música? Há algum obstáculo mercadológico que impeça um melhor desdobramento profissional? Qual?
TB - O mercado só baliza o meu trabalho do ponto de vista da formatação do produto. O obstáculo existe quando você não tem as informações úteis para difundir o seu trabalho. Como é fato em alguns casos mais locais, o artista não sabe e não compreende o circuito independente brasileiro. Eu particularmente trilho um caminho no qual eu possa ter o tempo de produzir um trabalho com qualidade e, de acordo com o possível, difundi-lo de forma rápida e planejada.
Existem dois mercados na música mundial, o grande mercado da indústria fonográfica de massa e o independente. O circuito independente é muito exigente quanto à forma como o artista deve apresentar o seu produto. É preciso ter um trabalho artístico consistente e além disso um CD bem gravado, com o material gráfico super bacana e uma certa incersão na cadeia produtiva da música no Brasil. Que é dado também pelo seu tempo neste circuito.
" - O que é o mercado independente e o que o diferencia do grande mercado fonográfico?
TB - O mercado independente é uma forma do artista fazer ele mesmo todo o trabalho que supostamente seria feito pelas gravadoras, selos e produtoras. As tecnologias de gravação se popularizaram muito durante as decadas de 80 e 90, facilitando o artista gravar o seu trabalho e a partir daí planejar alguma coisa. Hoje este circuito está organizado de forma tal que os trabalhos produzidos pela música independente como um todo, não devem em nada em qualidade aos de grande estruturas industriais de reprodução e difusão. Pelo contrário, são produtos de exportação extremamente bem acabados. Que, além do mérito artístico, são gravados, mixados e masterizados em grandes estúdios.
" - Como compositor, o que significa a letra numa música? Quantas letras você já compôs, quantas foram gravadas?
TB - A letra na música é a outra margem do rio que corre no Brasil (risos). É uma expressão milenar. Na música brasileira sou suspeito de falar. Porque sou daquele tipo que coloco um CD que gosto e fico cantando-o até acabar a vontade. Como falei, a literatura dentro da música foi uma coisa na qual me influenciou desde pequeno. E, naquilo que eu faço, se torna uma coisa evidente. Tenho todo o cuidado com o que escrevo e, mais ainda, como fica na música. Caetano foi um dos caras que me fez enxergar um jeito poético de escrever e tomar partido por temas que hoje pouco se vê e lê na música popular. Ouço sim, na voz de artistas da música independente mais engajados que estão completamente despreocupados em fazer parte de um grupo de artistas que procuram fórmulas de sucesso. Já compus quase 200 músicas e gravei 26.
" - Depois de participar de uma coletânea internacional, o Brazil More than Samba, que já circulou em vários festivais como a Womex e Midem, quais são os projetos de agora em diante?
TB - A meta é gravar o EXPERIMENTAL SAMBA GROOVE e fazê-lo circular o máximo que eu puder. Estou entusiasmado com o resultado do show, creio que vamos fazer um bom disco. Com relação à coletânea foi muito massa a minha inserção. Gostei muito do material. Ali está a nata da música paraibana e eu estou lá, com a música Ser Humano, que faz parte do repertório do Experimental. A coletânea demonstra que a música independente paraibana vem se estruturando e amadurecendo do ponto de vista de mercado. Foi uma iniciativa super bacana e necessária para dar visibilidade a grandes artistas que vivem na Paraíba.
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3 comentários:
Conheço o trabalho do Toninho desde 2002, quando ainda era a "Quebra Quilos" ant. banda que o acompanhava, hj com o trabalho bem maduro, vejo o crescimento desse compositor e musico de grande talento e que em breve estará voando bem mais alto, é um prazer poder dizer que no meio de todo o meu acervo eu tenha "a discografia completa" desse musico paraibano do mundo, os seus quatro discos estão sempre tocando no repertorio do Pocoloco, o Bar do Tenebra.
Um abraço ao Toninho Borbo, e parabéns Val da Costa pela materia.
VIVA A MUSICA INDEPENDENTE DA PARAIBA!!!!!
A música do Borbo para mim, traduz meu sentimento por Campina Grande, minha cidade. Campina para mim ecoa urbanidade , como a música de Toninho Borbo ( ahhhh adorei a ilustração da matéria!O Borbo e a banda tocando o seu Experimental Samba Groove no meio do Açude Velho, nosso maior cartão postal! rsrsrs)
As canções de Borbo são canções para o mundo inteiro, tenho a absoluta certeza de que ele o conquistará (bom, já nao sei se o Borbo é quem conquistará o mundo ou o mundo que conquistará o Borbo... rs)
Sempre tive apego quase que paranóico com letras das músicas...talvez seja por isso que fico estomagada cada vez que ouço tantas mÚsicas com letras sem sentido... ou com um sentido apenas , a exemplo do rebolationvoutecomernaboquinhadagarrafa ....
mas as letras do Borbo me fascinam , me emocionam ... choro de alegria, acreditem ! Por saber que em minha querida Campina nasceu um cara como ele, que me fez respirar PARAHYBANIDADE de um jeito contemporâneo, atual. Que me mostrou como lutar para que talentos como ele ecoem em sons e letras como as dele.
Parabéns , Toninho Borbo!
Obrigada por sua existência!
Obrigada por sua música em minha vida!
AVANTE!!!
Sou eu o que envelhece a cara de um povo.
sou eu quem desfaço e faço tudo de novo.
Só eu que tenho o poder de ser o absurdo,
de ser o forte e o fraco em um só segundo.
Sou eu, sou eu, sou eu...
Sou eu que tiro o pouco do pobre. Sou eu que levo a prostituta à morte.
Sou eu que tenho o hálito forte, de fel misturado com a má sorte.
Sou eu o sistema do país enlouquecido,
um governo pobre, velho e enfraquecido.
Sou eu, a chacina de vários meninos,
os tais, em meio a um desatino.
Sou eu, sou eu, sou eu...
(SOU EU O SISTEMA - TONINHO BORBO - 2002)
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