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26 de abril de 2010

RUAS DE NATAL


SEPARADOS - Saudosa, pus-me a andar numa cidade que me é praticamente desconhecida e a pensar em palavras que se colavam às situações. Texto de março de 2003. | imagem: Paraíso Niilista

VALDÍVIA COSTA

No céu, ocorre um fenômeno estranho que me chama a atenção, pois as nuvens viravam fumaça. Como fumaça me lembra o cigarro que você fuma antes de dormir, seria um efeito propositalmente aceito por mim pra lembrar disso? A lua imediatamente se cobre e se transforma numa luz embaçada, opacamente tímida, me forçando a sentir saudades.

Se a lua tivesse olhos, talvez estivessem como os meus, no horizonte, perdidos em alucinações celestiais. Isso, se ela, como eu, soubesse abstrair uma atenção larga ao pensamento. Nas ruas, ando em imensos corredores convidativos à caminhadas. Mas me contive devido aos perigos urbanos noturnos.

Mecanicamente olho as plantas que pendem de um lado pra o outro, com um ventinho gostoso, como se estivessem brincando de "tô no poço", espiando em quem apontar a fruta preferida. Os postes platônicos iluminadores das ruas impediam de ver a luz real do céu.

Alguns sapos, caçadores de inconvenientes e inocentes insetos pretos, coaxam mais baixo quando me notam perambulando em receios. Se incham, como me ameaçando, caso resolvesse competir com eles aquele suculento besouro. Percebo vizinhos curiosos me espiando. Sinto os olhares como setas que me perfuram procurando identificação. Mas não me incomodam.

Sou a estrangeira que está de passagem na rua que lhes pertence. Logo, amanhã, talvez, me despedirei dos Reis Magos, guardiões de belas praias. E nem verei os estudantes passarem para seus apartamentos, comentando as aulas e seus projetos. Nem ouvirei o barulho dos carros passando velozes de madrugada... Hoje, durmo pensando no seu abraço.

Pra onde vou, em meio aos meus, a noite não me inquieta menos do que aqui, mas, lá, tenho alguns elementos que me amparam. Eu os toco, os cheiro... Não deixo de sentir saudade daí, de onde você ficou. Mas aqui eu noto o quão distantes estamos e o quão andarilha fica minha vontade de ir te encontrar, caminhando...

Um comentário:

Ligia Coeli disse...

'Se a lua tivesse olhos, talvez estivessem como os meus, no horizonte, perdidos em alucinações celestiais.'

Na verdade, as minhas órbitas ficam perdidas e 'perambulantes' por cada linha escrita por aqui - muito bom :D