Entre nomes, apelidos e outras palavras, jaz um possível touro desenhado a milhares de anos; "Rosilda", uma anônima, reescreve a história sobrepondo uma das mais antigas artes, a rupestre. | Fotos: Val da Costa |
Por Valdívia Costa
Shiii... Agora a gente vai fazer um esforço telepático para
ouvir um pedido de socorro. Fui à Pedra do Touro, na cidade de Queimadas, no
Agreste paraibano, e ouvi gritos. Ao subir ofegante o rochedo de 50 metros de
altura, as brutas, duras, rijas e aparentemente insensíveis pedras do sítio
arqueológico começaram a chorar. Suas inscrições rupestres, incluindo a do
touro, que deu nome ao local, e até as formas rochosas, são violentadas
diuturnamente.
Riscos grosseiros escrevem nomes anônimos... acreditam numa
súbita aparência naquele lindo e colossal lugar? Desenhos horrendos, que
contornam as inscrições como se as destacassem... fingimento para cobri-las,
apagando-as? Tintas das mais diversas naturezas impregnantes... Um plano
terrível para substituir a arte rupestre? Assim é o atual panorama de um dos 12
sítios arqueológicos que esta cidade “preserva”. Onde estão os guardiões da
floresta e das pedras, que não derrubam esses vândalos e constroem defesas para
a Pedra?
Na falta de internet e papel, vândalos preferem deixar seus recados amorosos no sítio arqueológico Pedra do Touro |
Para chegar lá em cima só exercitando muito a panturrilha...
É sacrificante – para quem é sedentário, lógico. Mas, ao chegar no alto e ver
tanta beleza num giro de 360 graus, tudo passa... Ai, ai... só fica a sensação
de bem estar. E o vento, que insiste em conversar. Isso, para quem vai apreciar, conhecer e até pesquisar a
Pedra do Touro. Porque tem gente bem mais dura que essas pedras, e que esmagam um
patrimônio... Porque existem estúpidos que têm cérebro, mas não usam. Aí, suas
cabeças embrutecem, mais do que as pedras...
Um achado desses, que guarda nossa história humana em
expressões artísticas, devia estar atraindo pessoas interessadas em preservação
ou turismo ecológico. Segundo a historiadora Melissa Araújo (UEPB), no Complexo
da Pedra do Touro é possível fazer trilhas, práticas de rapel e ainda visitar
mais de 13 sítios arqueológicos existentes no local.
“Assim, a cidade de Queimadas é um verdadeiro museu a céu
aberto, que merece ser protegido e conhecido para que as gerações futuras
tenham a possibilidade de aproveitar aquilo que foi deixado pelos
antepassados”, escreveu em artigo publicado recentemente no site do Sicoob.
Em cada pedra, uma pichação grande e feia |
Como chegar - Quem
vem de Campina Grande sentido Queimadas, é encantadoramente recebido por pedras
poéticas que formam um bloco esticado, do lado direito, às margens da BR 104.
É a Pedra do Touro, que chama a atenção pela sua grandiosidade. Um paredão simpático,
que se pudesse falar diria: “Sejam bem-vindos! Subam em mim e tomem uma fresca,
por gentileza!”
De acordo com o blog Tataguassu,
a rocha é do tipo granito intrusivo e tal afloramento constitui um dos mais
incríveis monumentos de pedra da Paraíba. Fica no Boqueirão da Serra do
Bodopitá. O paulista, geógrafo e professor universitário brasileiro Aziz Nacib
Ab'Saber, considerado a maior autoridade em Geografia da atualidade no País, fotografou
a Pedra do Touro.
“A Serra de Queimadas, nas bordas do Boqueirão, que separa
as colinas de CG, com relação às estiradas estepes do sertão dos Cariris
Velhos. Diaclases tectônicas verticais e horizontais, blocos tombados e
cancluras; vegetação rupestre e matinhas de vertentes baixas”, legendou.
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Esta inscrição está numa fenda, ainda protegida dos vândalos |
Itacoatiaras – A
Paraíba é rica em pedras e arte rupestre. O sítio arqueológico Pedra do Ingá, outra
cidade bastante visitada, é o exemplo de como manter essas riquezas. Mais preservado e transformado em ponto turístico, o
que protege mais o local, essa Pedra é um conjunto rochoso repleto de
intrigantes inscrições rupestres, chamadas Itacoatiaras, produzidas em
baixo-relevo. O paredão tem 46 metros de comprimento por 3,8 metros de altura e
fica no lajedo do riacho Bacamarte.
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Itacoatiaras do Estreito de perto |
Itacoatiara é uma palavra de origem tupi que significa Ita =
pedra + kwatia = lavrada, rabiscada. Esse tipo de “escrita” surgiu não se sabe
exatamente onde, quando e nem quem foram os autores.
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Inscrições do Estreito estão quase encobertas pelo lodo e também pichações |
Nas pedras paraibanas, as
Itacoatiaras mais conhecidas são as do Ingá e do Distrito do
Estreito, em Campina Grande. Gravados em rochas duríssimas com perfeição
extraordinária, segundo a revista Tarairiu, tais gravuras repousam em rochas no
leito de rios, riachos, poços e pequenos mananciais hídricos de todos os
continentes (SANTOS, 2008).
Descida em pedras do Estreito, caminho para Itacotiaras |
As inscrições apresentam-se com diversos sinais ambíguos.
Segundo pesquisadores, compõem um surpreendente sistema de signos que foram
gravados no passado através de sulcos largos, profundos e muito bem polidos. Uns
dizem que os desenhos são atribuídos a finalidades e artífices diversos, desde
antigas etnias indígenas até povos vindos de outros continentes ou alienígenas
vindos do firmamento sideral.
Pinturas Rupestres
- A arte rupestre é um dos mais importantes vestígios deixados pelos paleoíndios,
conhecidos como caçadores-coletores. É o período que se estende desde os
primeiros sinais de ocupação humana até o estabelecimento da agricultura e
outras práticas. No Brasil são encontradas diversas manifestações dessa
expressão.
Os locais mais conhecidos são em Naspolini (SC), no Sul do
país, em Lagoa Santa, Varzelândia e Diamantina, próximo à cachoeira da
Sentinela, em Minas Gerais, na região de Prata, próximo a Serra da Boa Vista. No
Nordeste, destacam-se a Toca da Esperança, região central da Bahia, no estado
do Piauí, na Serra da Capivara e muitos registros no Rio Grande do Norte,
principalmente nas regiões do Seridó e na chapada do Apodi, como o Lajedo de
Soledade.
Em Pernambuco encontram-se pinturas rupestres no município
de Itapetim, nascente do rio Pajeú, nos sítios Boa Vista e Riacho Salgado e nos
municípios de Afogados da Ingazeira e Carnaíba, na Serra do Giz, próximo ao
povoado da Serra Carapuça. Segundo informação da Fundação Museu do Homem
Americano (FUMDHAM), de São Raimundo Nonato, há 260 sítios arqueológicos com
pinturas no Parque Nacional da Serra da Capivara, criado em 1979.
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