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De olho nas facilidades, o folgado confunde muito esperança com espera. Imagem: Riscando 7 |
Valdívia Costa
A folga e o abuso são manhas sorrateiras. De mãos dadas com
a fala mansa e necessitada, a pessoa folgada sai, galgando confortos. Quem o
sustenta? Inocentes. Eles são bons e, por isso, não cobram colaboração. Ao
contrário.
Por isso, largo é o sorriso e o modo de viver do que deita e rola se
escorando nos outros. Uma pia de pratos sujos e uma lavanderia cheia não são
corretivos suficientes para este ser totalmente imune à luta.
Agir com abuso, passando por cima da bondade alheia, usando
de artifícios pouco convincentes, mas se livrando das responsabilidades... Uma
rotina sem maiores preocupações ou manutenções a serem feitas. É a vida do
folgado, este ser pré-histórico que se adaptou às modernidades.
Não fosse pelo duro trabalho de convencimento, o folgado
seria apenas um mero preguiçoso, que, ao invés de ter cuidado da própria vida,
ficou a espreitar e cobiçar a vida dos outros. Ou a “mendigar na família”, física
e intelectualmente.
De todas as manhas, o discurso é uma das raríssimas habilidades
em que o abusado mais se apoia para viver. Despreocupado, entre uma esquivadinha
e outra, ele é quem se lastima sempre da falta de amigos, da ausência de
oportunidades e ainda reclama do que conseguiu.
O folgado acha que a vida deve
sim lhe entregar reservas, mesmo ele não as providenciando. Afinal, tem sempre os
bons, ouvindo, dando a mão ou um empurrãozinho.
Nas suas ânsias de escaladas sociais, folgados aos montes
conseguem o sucesso explorando, sendo inconvenientes e maldosos. Muitos são tão
escrotos que nem se dão ao trabalho de ocultar as falas ingratas ou os gestos
excessivos, depois de conseguirem o que almejaram.
Ah, como são ensolaradas as
manhãs dos folgados! Assim, eles encontram a sombra e se deitam. Porém, dá para reconhecê-los (e evitá-los!) pelas atitudes despersonalizadas!
Pequenas ações, como tomar emprestado e não devolver, demonstram falta de
caráter.
A folga, neste sentido pejorativo, devia ser crime de má conduta, como
roubar e caluniar. Principalmente para atos mais requintados, que exigem persuasão,
como ocupar cargos importantes e não corresponder com trabalho. Ou querer tirar
dos outros serviços camuflados de “favores”.
Porque quem procura meios de vida mais “fáceis”, menos trabalhosos, acaba querendo se impor como superior. Consegue viver sem esforço próprio e ainda é recompensado pela pseudo existência. Que melindres tem o folgado! Sendo poupado da guerra que é o dia-a-dia para honestos e corajosos!
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