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27 de julho de 2006

Jornalismo e cidadania - opinião


Imagem do Google

Diariamente, os veículos de comunicação recebem um grande número de denúncias vindas de pessoas oriundas de vários segmentos da sociedade. As reclamações vão desde um esgoto estourado na rua, passando pela ausência de médico nos postos de saúde, até a falta de calçamento em um bairro. É a comunidade buscando exercer sua cidadania através da mídia.


É comum ouvir pessoas afirmando que já procuraram determinados setores oficiais para a solução de problemas sem que tenham sido atendidas e, por isso, procuram os órgãos de imprensa para denunciar. Entendem que só assim terão seus pleitos atendidos. Os programas de radiojornalismo são os preferidos, graças ao imediatismo com que atingem o público, seguindo-se da tv e do jornalismo impresso.


Essa forma da comunidade ter seus direitos respeitados, de certa forma, termina desvirtuando atribuições. Por um lado, os dirigentes de instituições públicas só se preocupam em solucionar os problemas da sociedade quando são denunciados pelos meios de comunicação de massa, que também são utilizados por eles com outros propósitos. Por outro, os órgãos de imprensa e os próprios jornalistas terminam atribuindo a si uma função executiva que, na verdade, pertence aos poderes públicos. E muitos terminam tirando proveito pessoal dessa situação.


Quanto mais as autoridades se afastam de suas obrigações, mais espaço da mídia é ocupado pela comunidade, causando, dessa maneira, uma verdadeira inversão de competências. Assim, os programas jornalísticos perdem, em parte, suas características e a informação jornalística vai sendo substituída pela utilidade pública, desvirtuando as funções de uma e de outra.


Uma constatação disso está no fato de que, praticamente, todas as repartições públicas possuem um setor para o acompanhamento diário das informações e denúncias veiculadas pelos meios de comunicação. São os chamados sistemas de monitoramento de mídia ou, em outras palavras, os famosos “rádio escuta”, clipagem impressa e eletrônica. Até aí nenhuma novidade. Mas, esses setores estão sendo supervalorizados porque as autoridades estão mais preocupadas em atender aos jornalistas do que em solucionar os problemas da população, sem intermediários.


Entendo que essa prática na busca de solução para os problemas cotidianos de uma sociedade não é a mais eficiente e nem eticamente correta, por conta dos desvirtuamentos gerados pelas opções político-partidárias, tanto de denunciantes quanto de profissionais de imprensa e das empresas para as quais trabalham. Não há liberdade de expressão para que as denúncias e os problemas sejam divulgados na sua essência. Geralmente, as empresas de comunicação estão atreladas a alguma facção política.


Apesar de tudo, há um aspecto positivo: a população está consciente de que é preciso exercer sua cidadania e, para isso, está utilizando os meios que dispõe. É claro que os órgãos de comunicação também têm a função de denunciar, mas, ultimamente, estão suprindo um espaço de responsabilidade dos poderes públicos. Pela freqüência com que isso vem acontecendo, pode-se deduzir que o povo está depositando mais confiança nos meios de comunicação do que nos organismos governamentais.


Orlando Ângelo: professor e jornalista

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