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26 de junho de 2012

BICICLETADAS


Valdinei Calvento ... no econexos.com.br

# Encontro minha irmã mais velha em Jardim do Seridó (RN). A gente vive contando os causos familiares. Neta relembra nossa livre infância. “Val sempre gostou de uma bicicleta... A gente quando menos esperava, ela aparecia com uma”, comenta. Aí, surgem os contos das bicicletadas que sofri... Ai, ai... Foram tantas quedas!

É bom lembrar do meu esforço, primeiro, para aprender a andar de bicicleta. Eu não podia ter uma bike. As primeiras bicicletas que andei foram uma Monark e aquela que tem um bagageiro na frente... Com oito anos de idade, eu e minha concunhada Derela - abreviatura de Cinderela - decidimos aprender, de qualquer jeito.

Nada de papaizinho segurando ou mamãezinha arrumando bikes emprestadas. O negócio era bruto mesmo. O pai de Derela ia almoçar em casa com a Monarkzona e o irmão mais velho dela, também. A do irmão dela era bicicleta de entregas, tinha um quadro mais baixinho, que dava para gente de perna pequena andar.

Como nem tínhamos quem nos ensinasse, Derela inventou um jeito, com uma das pernas por dentro do quadro. Mas a Monark tinha um círculo no meio, não dava! Aí, nos restou a bike de entrega, com o quadro baixinho. Derela, logo nas primeiras tentativas e quedas, se feriu na perna, foi muito sangue... 
Extraído do marioav.blogspot.com.br

Mas noutros dias até conseguíamos dar umas pedaladas... sempre com as barulhentas quedas e os donos das bicicletas correndo atrás de nós. Neste mesmo período, tive mais duas amigas que ganharam bicicletas. Mércia, filha da professora Maria Meira, tinha uma pequeninha. Ela sempre visitava a avó, que era do lado da minha mãe.

Com essa bicicletinha, pude aprender a andar. Descia e subia uma pequena ladeirinha, na lateral da casa da avó de Mércia. Uma volta era minha e outra dela... Andava tanto e minha sede por aprender era tamanha, que quase não queria ir pra casa! Às vezes, Mércia dizia: “tou cansada” e eu respondia: “nada não, eu ando só...”. Amiguinhas.

Aí, conheci Marcileide, filha de um fazendeiro da cidade. Essa ganhou uma bike que toda pré-adolescente queria, uma Monareta. A dela era novinha, toda linda, cor púrpura parece... Enfim, depois de estudarmos e eu “copiar” os desenhos das capas dos cadernos para ela pintar, ela chamava: “vamos brincar de bicicleta???”

Saía feito uma doida... mas só podíamos brincar dentro de um quintal da mansão dela... Aprendi a fazer curvas (sempre caindo e me ralando) e a andar mais tempo sem tocar o chão. Estava tudo dando certo: andava de bike durante todos os dias da semana.

Nesse meio tempo, meu irmão Júnior comprou a primeira bicicleta da família, que era, para ele, “um instrumento de trabalho”. Era um modelo moderno, daquelas bikes de corrida, com o guidão em formato de C, curvado para baixo... Imensamente alto, o quadro dela! 

Eu tinha que andar subindo e descendo, escorregando o corpo para um lado e para outro, para poder conseguir pedalar. Vendo que eu adorava, meu irmão começou a me designar tarefas na bike. Eu caí horrores. Mas vou lembrar só de três magníficas quedas. 

Extraído do fravinhaartista.blogspot.com
A primeira, eu não fui castigada. Meu irmão me pediu para eu ir comprar uns três ou quatro galetos pequenos congelados... na bike! Eu era pequena, magra e sem forças. Mas sempre me achei o máximo! Minha autoestima me impulsionou a dizer que conseguia trazer os galetos.

Ao descer pela pista da BR com o sacão de galetos pendurado no guidão direito, aparece um caminhão buzinando atrás de mim. Com muito medo, desci do asfalto à direita para o aterro lateral. Mas a bike tinha os pneus fininhos, daqueles que quicavam no chão quando cheios. Com o pula-pula dos pneus, os galetos puxando o lado direito do guidão e eu raquítica, a bike caiu aterro abaixo.

Havia um bueiro e... Pow! Caí de uma altura de meio metro no chão. Vi o mundo rodando, os galetos voando e a bike escorregando abaixo de mim... Me arranhei toda! Sorte que foi o desajuizado do meu irmão quem me incumbiu da tarefa. Assim me livrei do falatório e de um possível castigo pela bike ter ficado imprestável.

Depois, teve o acidente do poste. Com uns 11 anos, eu desci uma rua comprida nesta mesma bike. Esqueci que, depois da curva da calçada, tinha um poste. Ai! Bati de frente! O pneu quase vira uma boca sorrindo e eu colidi minhas “partes” no guidão. Nem caí, mas o impacto ferrou a bicicleta. Fiquei com braços e púbis doloridos.

Não teve desculpa. O castigo foi cruel. Júnior me deixou sem andar de bicicleta e sem ir para a piscina do clube durante oito meses. Arrumei uma Monareta velha, da amiga Lolô, para dar umas voltinhas. Minha avó Albertina me via, me chamava, eu ia... Dava um cheiro na minha cabeça... “isso é uma catinga danada de negro!”. Mas eu pensava ser bacana cheirar a negro...

Extraído do andreaalves.blog.br
E, por último, com uns 14 anos, Júnior já morando fora de casa e eu me esbaldando na bike dele, resolvo ir rápido na casa de Alexandra. Tinha que pegar o caderno dela emprestado para copiar matéria do colégio. Vou lá, pego o caderno e desço a rua do Alto em toda velô. Só que o freio da bike estava meio ruim...

Desci com tudo a ladeira. Com aquele mesmo probleminha de quicar nos solavancos do chão, desci a ladeira, avistando a morte lá embaixo, no cruzamento com a Avenida Dr. Fernandes... eu já tinha conseguido virar um pouco o guidão para tentar entrar na Avenida e continuar em alta velocidade, até... Deus sabe onde!

Comecei a rezar quando percebi que a bicicleta estava sem freio... pedia para que nenhum carro passasse na hora que eu cruzasse a Avenida. Não pude fechar a curva completa para entrar na Avenida. O pneu dianteiro foi barrado pela calçada da casa, de modo que a bike me lançou por cima do guidão, eu voei e saí deslizando uns 10 metros pela calçada... Toda arranhada, claro. 

Essa queda foi grave. Ainda bem que foi do lado do Hospital! Pude fazer um curativo no joelho... depois fui empurrando a bicicleta, toda torta... Cheguei em casa desconfiada, calada... Guardei a bike para não despertar a curiosidade... Enfim, contei a meu irmão e ele levou de vez essa bicicleta... Se não “haveria mortes nela”!

Mas o melhor de tudo foi lembrar de um sonho que me embalou, antes até de aprender a andar de bicicleta... Meu cunhado Geraldo me prometeu uma BMX, uma bicicletinha lindinha, de "aventuras". Eu me comportei tão bem... sonhei que ela chegava numa caixa...

Ele tinha me iludido para eu ajudar minha irmã e eu acreditei. Rimos muito porque nosso pai foi quem me acordou do sonho... ele ficava tirando onda comigo, dizendo “BMX é!” e fazia um “joia”, imitando o garoto da propaganda. Tão inocente eu era que demorei para crer no sarcasmo dele. Era muito amor por duas rodas...