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14 de dezembro de 2011

RANCORES

"Como é bom não ouvir nem ver ninguem." | Alone Henri Toulouse Lautrec: A vida não vale um conto

As pessoas ficaram, magoadas, para trás. Muitas esperam, até hoje, uma retratação, um pedido de desculpas que seja... Mas nada chega a elas. Dobraram e guardaram os maus momentos no baú. Colocaram duas ou três bolinhas de naftalina e o fecharam com cadeado.

De tanto que fizeram isso, com todos, a solidão se acentuou. Sabe como é sozinho? É a insuficiência de acordar e dormir sem ninguém.

De tanto que se isolaram, esqueceram como se comunicar, como tratar um ser humano... Nada demais! Até porque todos são propensos a erros, defeitos... Mas a sensação é que não basta ser único.

As pessoas ficaram, amurrinhadas, bem para trás... Feriado. Passa-se um deles com elas e nota-se que a companhia é espinhosa.

A cautela é servida com o almoço. O convencimento de uma nova atitude vem com a sobremesa. Um neto, às vezes, consegue ganhar um sorriso ou um carinho... Mas os filhos, todos, são imprestáveis. Mesmo eles fazendo os netos...

O tempo foi passando e arrastando uma imensa corda com rancores pendurados. Um barulho enorme que muitos fazem questão de exibi-los no peito...

Blééém, blééémm... vai passando a avó. Prumpt! sentou o tio... (quase esmaga um bem-estar matutino)... nhé-nhé, nhé-nhé, nhé-nhééé... mexe a mãe na porta que ninguém conserta.

Não dá pra dormir com tanta mágoa!  

#valdíviaCosta

1 de dezembro de 2011

INTOLERANTES

 Jurandi é um descrente. Não vê a novidade. Aliás, isso não existe para ele, que já viu de tudo e "não se surpreende mais com nada". De tão arrogante em sua sapiência, Jura se tornou intolerante. Não compreende processos da modernidade, não se relaciona com "diferentes", não sabe o que significam as doenças, confunde Aids com câncer... 

Mas, na boa, não reclama, se encontrá-lo! Ele odeia quando o percebem agarrado aos seus preconceitos. Hoje, por exemplo, é um dia como outro qualquer. ele não sabe o que significa, para os soropositivos, o Dia Mundial de Luta contra a Aids.

Muitos, estão reivindicando tratamentos adequados para a doença. Outros, a distribuição gratuita dos medicamentos pelos governos. São várias linhas de frente que, pessoas como Jurandi, nem sonham que existam. Por isso, as pessoas com HIV/Aids, no Brasil, têm ainda um outro desafio, tão feio quanto: o preconceito social. 

Para fazer frente ao problema, instituições se envolvem e tentam encontrar soluções. Campanhas de sensibilização envolvendo os jovens, que  são, para pessoas como Jurandi, os "grandes causadores da desordem". Não há ordem. Somente pessoas convivendo socialmente num caos.
 A única coisa que Jurandi sabe sobre Aids é mentira. Ele e demais colegas acreditam que essa é uma "doença de gay, viciado ou puta". Nem sabe que o maior grupo de risco hoje é o de heterossexuais, grande parte por mulheres. Jovens com idade entre 15 e 24, que se acham "invulneráveis", é o grupo mais atingido.

Enfim, só dá para crer que precisamos nos informar mais, ler mais, conhecer mais e melhor nossa realidade. Avançar um pouco mais e entender de vez essa luta. Alguém, por favor, lembre ao Jurandi que o estigma é o que mata mais rápido um soropositivo.

Apontar um doente na rua, falar dele para outras pessoas fortalece essa imagem do enfermo "coitadinho", que afasta mais as pessoas. Tudo isso porque se contagia com Aids na prática sexual. E as pessoas têm vergonha de falar de sexo, por consequência das doenças sexualmente transmissíveis. 

O preconceito só existe na nossa cabeça. Reforcem ao Jurandi e a qualquer um que viva atormentado, com diversas intolerâncias, que só não aceitamos aquilo que construímos com uma falsa verdade absoluta. Quando aprendemos a reconhecer que erramos no olhar, já sabemos conviver melhor com todos. #valdíviaCosta