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23 de dezembro de 2009

*opinião - Pouca vergonha e muito dinheiro


imagem: Stiletto

*Por Emanoella Alves

Li no blog no Noblat, mas deu no jornal O Globo também, em novembro passado, que a Câmara dos Deputados decidiu retomar as obras de reconstrução do patrimônio parlamentar e lançou editais que preveem gastos de R$ 74,5 milhões para a reforma de prédios residenciais e a construção de um novo centro de tecnologia. Tudo para usufruto dos mais de 500 deputados brasileiros, nem pense em visitá-los para ver como ficaram os imóveis!

Como assim???!!! Me explicaram que os altos impostos que suamos para pagar no Brasil são para diminuir a desigualdade social e acho que isso não engloba reforma de apartamento de deputado nenhum. Principalmente quando essas obras parlamentares deverão consumir cerca de R$ 503 mil por unidade. É uma safadeza. Onde eles estão representando o povo? Estão fazendo o que deveriam fazer?

Colhi esses dados para se ter um comparativo. Para construir uma unidade habitacional, com 36,63 metros quadrados de área, são investidos cerca de R$ 33 mil por unidade, enquanto os nossos queridos deputados vão gastar mais de R$ 500 mil na reforma de um único apartamento. Aponto os dados que me foram passados recentemente em Uberlândia (MG). O programa habitacional desse município entregou 380 casas recentemente, e anuncia concluir um conjunto habitacional com 1.136 casas pelo valor de R$ 31,8 milhões.

Ou seja, com a simples reforma de um apartamento de um deputado dá para construir mais de 15 casas populares! Dá pra imaginar? Ao todo, essa reforminha parlamentar daria para construção de 2.257,5 casas. E aí, faltam recursos ou gente honesta para administrar o bem público?

Mas o que esperar depois de tantos escândalos das passagens e da verba indenizatória?! Dinheiro na Cueca, na meia, nos bolsos sem fundo. Eles pegam o que podem e aquilo que não dá pra ratear entre si, eles investem em programas prioritários como este. Pelo visto o dinheiro está sobrando, o que falta mesmo é vergonha na cara.

Blog do Noblat

Prefeitura de Uberlândia

Wikipedia
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nota: Quem quiser os e-mails de todos os deputados para dizer a eles o que é prioridade nos investimentos públicos, recolhido pelos assombrosos impostos brasileiros, se manifeste que o De acordo com envia o mailing.

21 de dezembro de 2009

*feminino - Abortar, no Brasil


SOZINHA - Pra criticar uma mulher que aborta, tem que abortar no Brasil e saber colocar as palavras... a pele não deixa mentir: é ruim ser mãe sem querer, pra mãe e pra criança. Pior que isso só abortar nesse país de médicos medíocres e sociedade hipócrita pra um ato humano que é milenar | imagem: Uma e Uma

*Por Valdívia Costa

Eu penso que abortar, no Brasil, não é fácil. A mulher se prepara clandestinamente, correndo o risco de ser presa por estar 'matando' um ser vivo. Vivo, apesar de ainda não estar fora do seu corpo. Ele não fala, não anda, não come só, não pode opinar sobre o que está sentindo dentro da barriga (dizem que o feto, ao ser fecundado, já sente tudo...?). Mesmo assim, a mulher que não está preparada pra ser mãe, por algum motivo, sente aversão à situação de desconhecimento e, consequentemente, ao ser que está gerando, que não é aceito imediatamente. Mas não foi algo que ela escolheu. Ela sente nojo, somente.

Pela sufocante falta de opção econômica, emocional e física até, essa mulher que "não tem coração" encara as tentativas desgastantes, frustradas e aterradoras de abortar só, tomando medicamentos fortes, às vezes causadores de males consequentes. Por isso, ela sai a procura dos famosos 'abatedouros' de bebês (na verdade são médicos que se aproveitam da clandestinidade pra ganhar mais por um procedimento cirúrgico que deveria ser público e de qualidade). Mas ela não pratica um aborto por querer, só pra sentir a "emoção" ou contar no seu blog no outro dia.

Acredito que basta somente uma hora numa sala de pré-parto de uma maternidade pra uma pessoa sentir o que é dar vida a uma criança. E, tragicomicamente, pra essa pessoa entender como as mulheres que praticam aborto são tratadas no Brasil. Basta pra uma pessoa qualquer (nem precisa ser tão sensível) passar alguns minutos numa sala de pré-parto pra saber que a maioria das mulheres abortantes sofrem uma silenciosa tortura por estar ao lado de outras mulheres tão felizes no processo inverso delas, que têm um 'erro' e não uma gravidez.

Qualquer uma de nós sente dor, medo, desespero e outras coisas ruins ao se ver na pele de uma mulher que é logo discriminada, humilhada na frente das outras que terão filhos. E elas, por estarem "matando as crianças", serão negligenciadas pelo preconceito de profisisonais que se limitam a dar atendimento igualitário a quem cometeu um "crime perante a vida"... Crime por crime, e perante a vida, muitos médicos já cometeram também e nem por isso são presos, ainda são investigados pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) etc.

Já a mulher que abortou sofre discriminação e negligência quando precisa dos cuidados médicos. E esse sistema 'legal' que nos 'livra' desses ser maléfico (uma mulher que aborta) só passa a mão na cabeça desses médicos preconceituosos em relação a uma prática tão antiga quanto o próprio ato de engravidar, que o digam nossas avós e mães, que tomavam os mais diversos tipos de chás para obter o mesmo resultado.

Tal atendimento que as mulheres do Brasil esperam para combater a mortalidade delas, que abortam sozinhas e sofrem as consequências, só será digno das mulheres ricas, como é de costume no nosso país de terceiro mundo. E ainda tem mulher pra criticar as abortantes! Precisam, sim, passar por um aborto pra saber como se posicionar, como escolher a saída nessas horas.

Não acredito que uma mulher, depois de passar por um aborto, queira fazer disso um vício, caso essa prática seja discriminalizada no país. Então só percebo burrice nisso tudo que vivemos, ou que discutimos em grupos feministas, de lutas pela igualdade etc. Pra que fingir que temos liberdade se não podemos tê-la na hora de decidir sobre o nosso próprio corpo?

15 de dezembro de 2009

*Feira - Shows e sons perfeitos


ALUCINADOS - O público emocore da noite do último sábado se rendeu aos ritmos de samba e latino que as bandas Fino Coletivo e Sílvia Machete promoveram na Feira | imagem: Val da Costa

*Por Valdívia Costa

Os shows da Feira Música Brasil não existiram de tão bons. Mas, pra se conseguir essa qualidade sonora, de iluminação e estilos tão impressionantes, os recifenses montaram um palco integrado, em forma de acento circunflexo, que possuía as mais avançadas tecnologias da atualidade. Os shows de Fino Coletivo e Sílvia Machete foram magnifícos. A irreverente Sílvia levou até o público do Fresno (aquela bandinha emocore) ao delírio.

Pra não ficar levantando impressões personificadas, é melhor ver do que falar...

fotos: Val da Costa

GIGANTE - Nem alto, nem baixo, o palco da Feira dava para ser visto a quilômetros de distância com uma iluminação especializada (show: FINO COLETIVO)




DESIGN - Atrás dos músicos, nas projeções eletrônicas, artes visuais de diversos artistas, além de imagens trabalhadas por profissionais conceituados de vídeo (show: FINO COLETIVO)




CONTAGIANTE - Sílvia Machete, que "rima com chacrete", fez um show hilário, com letras irreverentes e engraçadas, falando do universo feminino




INUSITADA - Sílvia usa técnicas circenses no palco, casando com a proposta musical, e leva a multidão aos gritos com a apresentação





INTERAÇÃO - Músicos têm que cair na onda da cantora, que faz piadas o tempo todo com eles: "bem atrás de mim, sempre atrás de mim, com a visão mais privilegiada do show, o baterista", apresenta, com voz dengosa




SURPREENDENTE - O ápice do show de Sílvia é quando ela acende um baseado de orégano no palco. Detalhe: sem deixar um bambolê cair, passando do pé à cintura e ao pescoço, retirando a seda, fechando o cigarro, socando o fumo e acendendo 'a coisa'


MACHETETES - Já tem mulher seguindo a pós-moderna Sílvia pelo Brasil, mas os homens também se apaixonaram por ela, que sempre é sensual e cativante

12 de dezembro de 2009

*Feira - Coluninha colorida e musical

*Por Valdívia Costa | imagens: Val da Costa


“Chico Science é o nosso Bob Marley”, descreveu o recifense Lenine à revista Trip no final da década de 1990. Chico foi uma das maiores expressões artísticas brasileira, que não deixou de ser lembrada durante a gravação do DVD da sua banda Nação Zumbi na primeira noite de apresentações musicais da Feira Música Brasil, na última quarta-feira. “Eu amo o mangue e amo o Chico!”, gritavam os recifenses, chapados de veneração no Marco Zero.








O calor de Recife é termostato.










Por onde andamos na Feira tem gente circulando, conversando, ouvindo e pensando em música. O evento tem um lay out bonito, de cores harmonizadas com os sons que se misturam no palco à noite.





Mais de 270 empresas rodaram nestes dias de rodada de negócios no Terminal Marítimo. Hoje, dia 12, será o último dia e ainda chegou empresas novas para trazer oportunidades de negócios. O Centro Cultural BNB entrou ontem, dia 11, mas não deu para avisar há todos os inscritos e convidados. O selo de Nova York, Nublu Records, também está desde o início.




O Som na Rural, uma proposta televisiva do Roger de Renor (antigo programa Sopa Diário), está também na Feira. Além do carrão que circulou em 26 localidades este ano, a produção está oferecendo um release criativo que vira uma ruralzinha pra dobrar. Amanhã, dia 13, haverá uma surpresa no local onde a Rural se encontra, nos estandes da Feira. Quem quiser sacar pode chegar a partir das 17h00.




Jogos musicais são divertidos, mas instruem muito para a percepção musical. Pensando em desenvolver mais essas aptidões que todos têm, mas às vezes não conseguem demonstrá-las, a Petrobras está expondo o Rock Band “The Beatles”. É uma onda com o público da Feira. Todo mundo para pra tocar um pouquinho. Ah, o Programa Petrobras Cultural já está aberto até o dia 10 de janeiro de 2010. Se liguem...




Hoje, o jornalista freelancer Francis Gay, atuante na Alemanha, os produtores Carlos Eduardo Miranda e Roger de Renor, mostraram diferentes pensamentos sobre o rádio que, vira e mexe, o povo quer “matar” na Era digital. O nome do painel foi “A rádio nos dias de hoje – online e offline onde está e para onde vai?” O famoso “jabá” (pagar a rádio pra rolar o som durante determinado tempo) ainda existe, mas é só um “bafinho”, segundo Miranda.

11 de dezembro de 2009

*Feira - Música leve, divulgação virtual


ORKUTEIROS - Divulgadores deram mais utilidade aos internautas que vivem navegando, navegando... sem porto de atraque: promoções de marketing virtual pra música são cada vez mais atraentes e agregadoras de público | imagem: Val da Costa

Por Valdívia Costa

Depois da quebra na indústria fonográfica, da baixa nas vendas dos CDs e da desvalorização do cachê dos artistas nos shows, a música encontrou consumidores virtuais que exigem gratuidade em tudo. Para não fazer o mercado minguar mais ainda, causando confusão nos conceitos das artes que geralmente são copiados pela turma do entretenimento no Brasil, o mercado se renovou. Entram em cena o Myspace, o Facebook, o Twitter e o tarimbado Orkut. Estas ferramentas que auxiliam na divulgação de um trabalho musical foram abordadas hoje, dia 11, por palestrantes nacionais e internacionais na Feira Música Brasil 2009.

Muitas foram as perspectivas apresentadas no importante painel Marketing e Divulgação na Era Digital, que lotou o Teatro Apollo no Recife antigo. Todos querem saber como gerar renda a partir dessas novas e bastante utilizadas técnicas de divulgação virtual. Ainda mais com o dado apresentado pelo palestrante Gustavo Zillar, fundador da Aorta, empresa especializada em aplicativos e comunicação por conteúdo em novas mídias.

Segundo ele, no Brasil, quase 50% dos acessos feitos na internet é através de lan houses. Isso quer dizer que a música não é divulgada, nem ouvida, muito menos comprada. Ou seja, metade dos internautas brasileiros é gente que acessa o orkut, responde um scrap, olha os cabeçalhos dos sites e blogs e vai embora. Difícil desse interneuta virar consumidor de música, segundo os palestrantes.

Mas esse dado foi corrigido ao vivo, na hora da palestra de Zillar, por telefone celular, através de mensagem do Twitter. "Quem garantiu que isso é verdade foi o Sílvio Meira, de um dos núcleos de música do Brasil", informou. A mediadora do painel, a jornalista Márcia Elena Almeida, que passou os últimos anos à frente da área de conteúdo digital da Universal Music, não deixou perguntas importantes de lado, como onde estar, como estar e para que estar presente em tudo na internet.

Outro palestrante, Mathias Baus, de Londres, falou dos novas promoções européias, que ele ajudou a desenvolver. Uma das estratégias de marketing mais bacanas desenvolvidas nos últimos tempos na terra londrina foi colocar músicas de uma banda num relógio digital. A promoção gerou mais acessos aos sites e ferramentas de comunicação da banda, aumentando o público e gerando renda pelos downloads das músicas para os relógios.


QUENTE - A Feira é a maior da América Latina no segmento da música independente, que parece ser o único tipo resistente de autoralidade no momento, ainda que submerso nesse mar de lama sonoro que só dá dor de cabeça no brasileiro televisivo | imagem: Val da Costa

Pulverizando - Um dado interessante discutido e bastante ressaltado neste painel foi que, o músico que quer ficar conhecido nacional e intenacionalmente, gerar público e vender fonogramas ou até mesmo CDs, tem que entrar na internet, usar todas as ferramentas, que são gratuitas, e ainda criar um diferencial competitivo das milhões de novas criações musicais que surgem a cada dia na virtualidade.

*Feira - Palcos com novas tecnologias


ENTRE LETRAS - Com cheiro de livros e café quente, a oficina do produtor de palco Sérgio Valença mostrou como fazer uma montagem moderna na Era digital | Imagem: Val da Costa

Por Valdívia Costa

Como as artes hoje em dia interagem constantemente com o mundo digital, a produção de espetáculos musicais também está nesta onda. Na oficina que abordou esse tema durante a Feira Música Brasil 2009, em Recife (PE), o produtor de palco Sérgio Valença, mostrou hoje, dia 11, a dezenas de pessoas, como montar um show. É a vez do velho cenário, montado com todos os riquififes, sair de cena e entrar o digital, construindo telões e se tornando cada vez mais multimídia.

Exemplo: o próprio palco montado para os shows da Feira. Como um acento circunflexo gigante, os dois espaços foram dispostos formando "a seta" do Marco Zero. Essa construção aliada a uma concepção de iluminação profissional, segundo Sérgio, possibilitou imagens nunca antes tiradas dos shows da Feira. "Os fotógrafos profissionais me perguntaram o que tinha contecido. Apenas acertamos numa forma de iluminação que deu o efeito", disse.

Devido ao caráter mais prático desse tipo de capacitação, Sérgio realizou a oficina em dois momentos, hoje e amanhã, dia 12, pra dar tempo de todos verem os milhares de componentes que existem atualmente e as novas tecnologias de palco. Tudo é digitalizado e prático, de acordo com o produtor, que iniciou a carreira no Hollywood Rock na década de 1990.

"Muitos profissionais de imagens procuram sempre fazer as fotos e as filmagens no início dos shows. Seria interessante mudar um pouco essa lógica, invertendo o horário. O melhor momento de se pegar imagens de um show é no final dele, quando todos os probleminhas iniciais das diversas técnicas da produção já foram eliminados", sugeriu Sérgio. Entre outros artistas, ele já produziu os shows de Lenine, do CD Na Pressão.

10 de dezembro de 2009

*Feira - Shows em mercados competitivos


DESENCANTO - proprietários de grandes casas de shows reclamam da falta de público em apresentações de artistas consagrados, como Caetano Veloso. imagem: Val da Costa


Por Valdívia Costa

O mercado competitivo da música começa a ser desenhado pela Feira Música Brasil 2009, em Recife (PE). No primeiro painel do evento, hoje, dia 10, "O mercado de shows no Brasil - um raio-X", explanou como o show ao vivo pode melhorar a condição do artista. Antes um mercado vasto, diverso e comum a todos os músicos, hoje esse tipo de apresentação está formando públicos cada vez mais específicos, abrindo espaços para artistas de determinados nichos.

Mediado pelo manager e diretor executivo da Feira, Carlos "KK" Mamoni Júnior, o painel contou com os debates do músico, particpante do grupo Móveis Coloniais de Acaju, Fabrício Ofuji, o diretor do Sesc São Paulo, Felipe Mancebo, o representante do HSBC, Paulo Amorim e o curador do Studio SP, Alexandre Youssef.

O painel discutiu como está a temperatura do mercado de show nacional. Uma das questões levantadas é se o show ao vivo está realmente funcionando como uma receita necessária pra contrabalançar a queda nas vendas dos CDs e a decolagem da música no mundo digital.

Com uma visão totalmente comercial, Paulo Amorim foi o comentador que exibiu uma realidade até desconhecida pela galera do Nordeste que curte rock. Uma das 'profecias' soltas por ele foi que "o pop rock nacional já era". Segundo Paulo, o mercado nacional está cada vez mais aberto pela globalização, permitindo a entrada de pops internacionais, como Lady Gaga, que vem aumentando o público no Brasil consideravelmente. "Nem Lulu Santos, nem Pitty lotam mais shows", afirma.

Apesar dessa realidade não ser exagerada nem tão distante de dominar um mercado musical nacional, o curador do Studio SP, que possui uma casa de show de porte menor que a casa de Paulo, defende justamente o contrário. "É o momento da flexibilização dos artistas", garante. Pela lógica de Alexandre, os grandes nomes estão passando por déficits econômicos atualmente. Mas ninguém sabe calcular o tamanho do prejuizo.

De acordo com ele, o interessante ao final de uma Feira como a que está movimentando o Recife Antigo é chegar a uma fórmula de se caucular o Produto Interno Bruto (PIB) da cultura de uma região. Uma das questões mais criticadas durante esse painel foi a porcentagem destinada pelas secretarias de Cultura, em alguns casos, menos de 1% do orçamento estadual.

7 de dezembro de 2009

*música - Cadê a máquina? Vou à Feira...


AQUECENDO - Muito som vai rolar durante a maior feira de música da América Latina. | imagem: Val da Costa

Por Valdívia Costa

Já limpei a máquina fotográfica e estou pautando-me pela programação já divulgada. Faltam dois dias para o começo do maior evento de música da América Latina, a Feira Música Brasil, e o De acordo com vai cobrir algumas coisas. O evento começa na próxima quarta-feira, dia 9, e termina no sábado, dia 12. Ah, é em Recife (PE), cidade dos mega choques culturais, emblemática desses tempos franzinos de boa música.

Como tem muita coisa pra ser explorada, e também vou aproveitar pra me capacitar, serão poucos posts, informativos, curtos, mas garanto que com o charme dessa linha editorial que tanto agrada. De antemão, vou requentar uma notícia que acabei de divulgar pelo Sebrae. Apenas Zebé da Loca vai tocar na Feira representando a Paraíba. A banda de João Pessoa, Burro Morto, tocará durante o mesmo período do evento no circuito paralelo, o Conexão Vivo.

O principal intuito do evento é fazer com que artistas independentes se conheçam e troquem contatos para as negociações nacionais e internacionais acontecerem no âmbito da Feira. A organização do evento ganhou uma parceria que garantirá um público maior, a redução do custo nas participações através do Sebrae em Pernambuco.

O interessado que desejar participar da rodada de negócios nos três dias paga R$ 20,00, de acordo com a Fundação Nacional de Artes (Funarte). Já o preço para um único dia de evento passa a ser R$ 5,00. Segundo a organização do evento, aqueles que efetuaram o pagamento da inscrição com os primeiros preços divulgados terão a diferença do valor restituída. Quem já se inscreveu, mas ainda não pagou, deve trocar o boleto. Para se inscrever e obter mais informações acesse o site da Feira.

A rodada de negócios nacional e internacional da Feira será realizada de 10 a 12, no Terminal Marítimo do Marco Zero. Com uma equipe de monitores e tradutores para organizar os encontros entre as empresas e auxiliar na comunicação, os participantes encontrarão ainda três locais para conversas e um cyber espaço com vários computadores à disposição.

Terra Sonora (portal Terra), IMúsica, Universo On Line (UOL), Tocaê, Music Delivery, Biscoito Fino, Som Livre, Sony DADC (distribuidora, microservice) Monstro Discos, Conexão Vivo (Vivo) e Studio SP são algumas das instituições da rodada nacional.

Já a rodada internacional terá a presença das corporações Discograph (França); Laure Duhard, da Believe (França); Matthias Bauss, da Spark Marketing (Estados Unidos); Sharon Trudell, da Trudell Entertainment (Estados Unidos), entre outros.

Sacada - Podem ouvir o que vai rolar na Feira. Alguns: A Trombonada, Aurinha do Coco, Cidadão Instigado, DJ Dolores, Fino Coletivo, Macaco Bong, Mundo Livre S/A, Naurêa, Nina Becker, Orquestra Contemporânea de Olinda e Samba de Rainha.

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Colaboração: Sebrae PB

6 de dezembro de 2009

*opinião - O tio vira lobo


HORA "H" - A crise de meia-idade masculina é descrita por psicoterapeutas e médicos como um dos mais desestruturantes processos experimentados por um homem. | imagem: Notícias Uol sobre crise da meia idade.

Fernando Savaglia*

Com 44 anos de idade A.S. tinha um excelente cargo dentro de uma multinacional. Casado há mais de duas décadas, mantinha uma relação extraconjugal com uma jovem estagiária da área de marketing de sua empresa. Durante meses trocaram e-mails e mensagens combinando encontros num explícito jogo de sedução. Na época, o executivo acreditava que esta relação era uma forma de aumentar sua autoestima e aliviar o tédio de seu casamento.

No entanto, quando o "caso" estava próximo de completar um ano, a jovem resolveu se afastar e, ainda que não tenha decretado um rompimento total, acabou por desencadear uma verdadeira revolução na vida do executivo. Ávido por entender o motivo do desencantamento, aos poucos A.S. foi tomado por crises cada vez mais frequentes de ciúme. Reconquistar o afeto da moça virou uma obsessão.

Aos poucos, os jogos de sedução, que até então eram encarados como algo prazeroso, se transformaram em algo sofrido e desestruturante. Além de passar o dia tentando adivinhar e prever os pensamentos da garota, passou a exibir crises de ansiedade alternados com momentos de melancolia. A angústia do executivo chegou a um ponto que teve de se afastar do trabalho por dias, o que alterou substancialmente sua rotina em família e colocou seu casamento em risco.

Para alguns, o caso descrito acima poderia ser enquadrado como o exemplo típico de uma paixão obsessiva. Para muitos terapeutas, no entanto, os sintomas apresentados indicam que A.S. acabara de se deparar com a mais poderosa experiência psíquica que muitos homens sofrem na vida: a crise de meia-idade.

Conhecida pejorativamente como "idade do lobo", a crise seria mais uma peça no processo descrito pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung como metanoia (palavra grega que significa "mudança") o que se dá a partir da confrontação do indivíduo com o "envelhecer" e, por conseguinte, com a ideia de ser finito. Como uma maneira de auto afirmação, os homens na chamada "idade do lobo" procuram se relacionar com mulheres mais jovens, ou procurar por ex-namoradas.

Na ânsia de conter a angústia dessa fase, alguns homens passam a tomar atitudes que podem causar estranheza para a família como, por exemplo, mudar abruptamente de emprego, despender tempo exageravidado cuidando da aparência ou mesmo realizar algum sonho de consumo de quando tinha 20 anos de idade. Dependendo do olhar que damos ao processo, todas estas buscas podem ter um lado positivo, como explica o analista junguiano José Marcio Luvizotto.

"Estas são idealizações motivadas por resquícios de juventude que clamam por atenção. Se pensarmos na ideia de Jung que nosso destino é a completude e se sentimos que algo ficou faltando lá atrás, essa busca pode ser até interessante. O problema é quando você fica fixado e aí reside o grande impasse do desenvolvimento psicológico, a fixação". Outro sintoma claro da crise de meia-idade, brilhantemente explorado no romance Alta fidelidade, do escritor inglês Nicky Hornby, é a insegurança causada pelo processo e que faz o personagem principal procurar antigas namoradas tentando entender o que deu errado com os antigos relacionamentos e, principalmente, o que há de errado com ele mesmo.


IDADE DO LOBO - A crise seria mais uma peça no processo descrito por Jung como metanoia. | Quadrinhos: Miguel Paiva

A INTUIÇÃO - Enquanto muitos homens atravessam o período se enquadrando em padrões estereotipados de comportamento, as mulheres, ainda que apresentem inúmeras crises existenciais durante a vida, aparentemente, de maneira geral, não se desestruturam tanto quanto eles ao enfrentar a meia-idade. Para terapeutas, médicos e pesquisadores, a diferença do trato com a situação poderia ser explicada a partir da diversidade do funcionamento cerebral dos dois sexos.

A neurocientista Anne Moir, da Universidade de Oxford, no seu livro Brian Sex, concluiu que enquanto o homem busca respostas lógicas para suas questões existenciais, a mulher teria uma capacidade maior de sintetizar e se adaptar às situações, devido a um maior fluxo de comunicação entre os dois hemisférios do cérebro, o esquerdo, mais ligado ao racional e o direito, responsável pelas sensações, pela linguagem não verbal e pela intuição.

Recentemente a pesquisadora publicou, ainda, resultados de estudos em que busca comprovar que independentemente do sexo da pessoa, a quantidade de testosterona que vai entrar em contato com o cérebro do feto no útero pode variar, o que explicaria alguns homens desenvolverem uma sensibilidade mais comum ao comportamento feminino.

Este dado viria ao encontro de uma interessante pesquisa realizada na University of South Austrália em Adelaide. Os pesquisadores australianos identificaram e dividiram um determinado número de homens de meia-idade em dois grupos com padrões de comportamento distintos: os cartesianos e os mais intuitivos.

O jogo de sedução na crise da meia-idade é muito comum. Para tanto, os homens se tornam mais vaidosos. Em alguns casos, a busca pela beleza se torna uma obsessão
uitivos. Observados por um período pré-determinado, constataram que apesar do primeiro grupo se revelar mais apto a realizações no que se refere aos negócios, o impacto da crise de meia-idade foi muito mais contundente do que o observado no segundo grupo, composto por homens que davam especial atenção à intuição.

Na opinião de Luvizotto, para ambos os sexos existe um sentimento equivalente, relacionado ao desejo da manutenção da eterna juventude. "Porém, o homem pauta sua vida no poder adquirido, o que pode acarretar numa crise mais profunda". A partir também de sua experiência clínica, a psicóloga Josefina Rovira Prunor concorda que existe uma diferença de como homens e mulheres encaram o processo e ressalta: "enquanto o homem tenta encarar sua crise de maneira mais individual, mesmo sofrendo, a mulher geralmente mantém sua intenção de preservar e cuidar da família."

Estaria, então, a crise masculina ligada a alguma disfunção hormonal, como a experimentada pelas mulheres na menopausa? É sabido que a partir de certa altura da vida, que pode variar dos 30 aos 40 anos, os homens experimentam uma gradual diminuição da produção de testosterona pelo organismo. Apesar dos inúmeros estudos feitos ao redor do mundo - entre eles alguns que apontam a baixa dosagem do hormônio como responsável por sintomas como depressão, nervosismo, disfunção erétil e perda de memória - não há nenhuma comprovação científica conclusiva que ligue a diminuição - desde que seja progressiva - da taxa hormonal diretamente ao doloroso processo experimentado por diversos homens na crise de meia-idade. Para muitos cientistas, ao que parece, o conflito é muito mais de origem filosófica e psíquica.


MÃE, PAI E FILHO - Estrutura triangular presente no complexo de Édipo, descrito por Freud, tem um papel fundamental durante o processo da metanoia. | imagem: Miguel Paiva


CASTRAÇÃO E ANIMA - O psicanalista Eduardo Albano Moreira compara a crise de meia-idade masculina como um segundo sair de casa, considerando a expressão "sair de casa" como uma metáfora para a ação do homem no mundo. "A primeira saída de casa se dá muito influenciada pelo desejo ou oposição aos pais por volta dos 20 anos, e é uma separação apenas parcial", opina.

Para o terapeuta, a crise se inicia quando o indivíduo busca um caminho em direção à posição de sujeito, isto é, passando a atuar no universal, deixando o particular da família. "Este processo nada mais é do que a inevitabilidade de se desligar do que é particular e confortável. É a aceitação da falta, entendendo que nenhum objeto passível de investimento vai estar sujeito a um investimento total como você foi pelo seu pai e pela sua mãe. Isto é a castração".

O que torna o processo mais doloroso é que o confronto com a crise se dá sem o homem poder utilizar suas ferramentas de ação no mundo, conquistadas até então. "A sensação é a de que quando se descobre as respostas, a vida mudou as perguntas", sintetiza.

JUNG - Psicólogo e psiquiatra suíço, Jung é um dos maiores nomes da Psicologia analítica. Em seus estudos, ele entendia que nas primeiras fases da vida (infância e adolescência), o homem se adapta à realidade por meio do desenvolvimento da consciência. E, por volta dos 40 anos, pode ocorrer a metanoia, um período de questionamentos, mudanças. Mudanças em que questionamos o sentido da vida para que, segundo Jung, o homem possa, na segunda metade da vida, ter consciência de que a realização pessoal (self) se dará por meio do desenvolvimento interior e não mais do corpo.

O analista ressalta ainda outro aspecto sofrido que muitos homens experimentam durante o processo: a paixão quase sempre obsessiva por uma mulher mais nova. "Esse encantamento, que às vezes desencadeia a crise, é antes de tudo um investimento na não aceitação da falta. Mais que uma paixão, o indivíduo vai buscar uma promessa de acolhimento similar à função materna. O problema é que naquele momento ele se sente desprovido de seu falo simbólico e, portanto, insuficiente e não merecedor daquele amor. A sensação é de total desamparo", explica.

Para Jung, essa paixão avassaladora durante a metanoia é resultado da projeção de anima, o arquétipo que representa a feminilidade inconsciente presente em toda psique masculina. A percepção da anima tende a se intensificar justamente no período que marca a metade da vida do homem, possibilitando, desta forma, integrá-la, resultando na completude do ser, processo este denominado pelo psiquiatra suíço como individuação.

Existem indícios que o próprio Jung tenha experimentado durante sua metanoia uma ardente paixão por Sabina Spielrein, uma de suas pacientes, não por coincidência vários anos mais jovem do que ele.


SACRIFÍCIO - Jung usava o termo para designar a renúncia de uma atitude psicológica em prol de outra. | imagem: Miguel Paiva

PROJEÇÃO - Jung descrevia a projeção como um elemento presente ao desenvolvimento psíquico de todas as pessoas. A maneira como ela se dá na metanoia é explicada por Luvizotto: "ao projetar na mulher por quem está apaixonado, o homem busca, na verdade, um contato com seu mundo interior. Posteriormente ela passa a ser uma função de relação e aí não existe mais a necessidade da projeção. Ao reintrojetar, percebe que o que estava atribuindo a ela na verdade era seu". Para o analista, é só a partir daí que o sujeito vai ter condição de dimensionar o que realmente sente pela pessoa. Luvizotto cita a frase da canção Beijo partido, gravada por Milton Nascimento, para ilustrar o processo: "onde estará a rainha que a lucidez escondeu?"

A opinião é corroborada pelo médico e psicoterapeuta Eduardo Peixoto. "Essa paixão nada mais é do que estender para o outro o feminino que floresce dentro de si. Existe uma ilusão de que é possível lidar com esta porção feminina externamente."
Segundo cientistas, as mulheres enfrentam com mais facilidade suas crises, como a menopausa. Seria por um maior fluxo de comunicação entre os dois hemisférios do cérebro, enaltecendo a intuição na mulher

A já falecida psiquiatra Nise da Silveira, aluna de Jung e um dos nomes mais importantes da Psicologia analítica no Brasil, ao escrever sobre o tema no livro Jung - vida e obra ressaltou o desamparo sofrido pelo indivíduo ao confrontar sua anima, "o homem esperará que a mulher amada assuma o papel de mãe, o que leva a modos de comportamento e a exigências pueris gravemente perturbadoras das relações entre os dois". Não é raro a situação tomar contornos mais dramáticos e confusos, como opina Peixoto, "principalmente se a mulher em questão está buscando no homem mais velho a figura de um pai".

É comum constatar que durante a metanoia muitos homens que se acreditavam donos de grande autoconfiança em relação aos jogos de sedução se desestruturam a ponto de terem avassaladoras crises de ciúmes motivadas pela ansiedade instaurada. O psicanalista argentino J. D. Nazio, em uma de suas mais interessantes obras, O livro da dor e do amor, descreve assim o que seria o momento mais agudo da dor da paixão: "veremos a dor aparecer como um afeto não tanto provocado pela perda do ser amado, mas, sim, pela autopercepção que o eu tem do tumulto interno desencadeado por essa perda."

Para Moreira, a estrutura triangular presente no complexo de Édipo, descrito por Freud, tem um papel fundamental durante o processo: "o triângulo acontece quando existe um desinvestimento por parte do objeto em você. No início da relação, você está num ego ideal, sente-se fálico e poderoso, daí se apaixona e depois triangula e, às vezes, não só com a pessoa, mas com o mundo dessa mulher mais jovem. Provavelmente, vai sentir muito ciúme". O analista ressalta o quão desgastante pode se tornar a crise, tanto no aspecto físico quanto mental: "às vezes, estamos lidando com o limite do funcional. Devido à enorme ansiedade despertada pelo processo, o ramo simpático fica ligado o tempo todo, o metabolismo vai a mil. É comum o sujeito sentir-se exaurido."

Uma das causas dos conflitos que acometem muitos homens no período da metanoia pode ser a falta de preparo ao longo da existência para o encontro consigo mesmo na segunda metade da vida

ENCONTRANDO A SAÍDA - Mas todos os homens estariam fadados a enfrentar a crise de maneira turbulenta? "Acredito que alguns não apresentam os sintomas, mas internamente este rearranjo é inevitável", opina Peixoto.

Já Luvizotto acredita que os grandes conflitos que acometem muitos homens no período são causados pela falta de preparo ao longo da existência para o encontro consigo mesmo na segunda metade da vida, ressaltando que cada caso deve ser analisado de maneira particular. O analista junguiano faz uso de uma analogia para explicar seu ponto de vista; "podemos imaginar a primeira etapa como se estivéssemos subindo uma montanha e, a segunda, como se a estivéssemos descendo. Alguns subiram de costas, fixados em algo, e com a tendência de descer se agarrando e resistindo ao processo. Há alguns, porém, que vão se agarrar de tal maneira que nunca descerão. Estes são os indivíduos que têm o desejo de nunca se tornar adultos".

A autoconfiança dos homens que passam por essas crises é muito frágil. Por isso, ansiedade, angústia e insegurança, inerentes a essa fase de metanoia, desencadeiam sérias crises de ciúme

Já na visão do psicanalista Eduardo Moreira, alguns homens não passam pelo processo, da mesma forma que existem muitas crianças que não vão para a função de sujeito. "O sujeito é aquele que não precisa mais ser interpretado. Ele interpreta. Conheço homens com 60 anos que continuam no ideal do pai ou da mãe". Para o terapeuta, o desenvolvimento do homem se dá no plano simbólico e, como tal, não há garantia do que vai acontecer. "A metanoia ativa a pulsão de morte e você inicia o processo tentando não vivê-lo. Essa paixão que descrevemos como a que geralmente desencadeia a crise é, antes de tudo, um investimento na não aceitação da falta".

Todos os entrevistados para esta matéria foram unânimes em afirmar que a crise, seja ela aguda ou não, requer uma mudança estrutural e de significados na própria vida, o que pode levar o indivíduo a lidar com seus processos psíquicos de uma maneira muito mais sábia.

"Não podemos tratar o processo como neurose, mas como uma voz da essência. É preciso alinhar o sujeito com ele mesmo para que consiga ir à direção que necessita na vida, trabalhando a perda, o desligamento do imaginário familiar do qual ele está se divorciando", opina Moreira. O psicanalista aponta ainda um ponto crucial na terapia dos indivíduos que enfrentam a crise: "eu diria que a 'metástase' da metanoia é a volta ao passado. É fundamental se trabalhar a libertação da pessoa em relação ao passado. Podemos comparar essa crise como uma febre que não se deve diminuir. É óbvio que não podemos deixar a febre matar o paciente, porém, é ela que vai tornar o ambiente inóspito ao vírus, que, no caso, é justamente o passado."

Carl Gustav Jung usava o termo "sacrifício" para designar a renúncia de uma atitude psicológica em prol de outra com um significado mais profundo e abrangente. O processo, por vezes muito sofrido, imposto pela metanoia daria, segundo a visão do médico suíço, frutos que levariam o homem rumo à sua completude. "A metanoia pode desencadear uma crise muito benéfica. É possível se passar pelo processo de uma maneira mais criativa, possibilitando, assim, a passagem para a segunda metade da vida com uma bagagem muito positiva", ressalta Luvizotto.

Também na visão de Moreira, a superação da crise reserva ao indivíduo uma sensação de conquista. "É comum, após a crise passar, sentir-se muito mais alinhado com você mesmo. Por mais sofrida que seja, essa crise pode levá-lo ao lugar em que você deveria estar. É um processo necessário e eu diria que passar por ele é um privilégio."

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*Fernando Savaglia é jornalista, tem formação em Psicanálise.

3 de dezembro de 2009

*Opinião - A boa hora da comunicação alternativa


RESISTENTE - O tipo de comunicação que praticamos aqui no blog pode ser considerado alternativo, sem comercial, com ideologia de transformação, educação etc. | imagem: Val da Costa

Por Flávio Aguiar*

Surge em boa hora a proposta de criação de uma Associação Brasileira de Empresários da Comunicação Alternativa. Ela vem maré montante da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que se realizará de 14 a 17 de dezembro próximo, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. A proposta é pertinente, inclusive, a partir do uso da palavra “Alternativa” para qualificar o empreendimento e, por tabela, seus empreendedores.

A expressão não vem sem controvérsia. Há quem a repudie, por várias razões. Primeiro, vamos a um pouco de história. A expressão “Imprensa alternativa” (então se falava muito pouco em “mídia”) ganhou ímpeto no Brasil dos anos 70 (1). Ela surgiu de várias fontes (entre elas esse escriba), como uma resposta ao carinhoso apelido que o escritor João Antonio deu aos jornais, em geral pequenos, que se contrapunham à censura da ditadura militar e à auto-censura praticada no jornalismo convencional brasileiro: “imprensa nanica”.

O termo “nanica” não ofendia nem desqualificava. Pelo contrário, trazia à tona a metáfora de Davi contra Golias. Pitoresco, dava o sabor de um certo heroísmo, quixotesco ou não, à atividade dos grupos de jornalistas e intelectuais que se reuniam em cooperativas ou com outras formas de organização para se opor à hegemonia que a ditadura e a auto-proclamada “grande imprensa” construíam diariamente no campo da informação – não sem conflitos entre si, como atestam os casos de censura, por exemplo, ao Estadão e em outros episódios.

Mas se ele não desqualificava, tampouco qualificava muito. Não me refiro ao campo moral, mas sim ao conceitual. Deixava brechas importantes. Por exemplo: como qualificar o gigantesco empreendimento de Última Hora, de Samuel Wayner, de quem nos considerávamos herdeiros? Esse empreendimento nada tivera de “nanico”. Mas fora sim alternativo. Alternativo a quê? À busca de hegemonia pela então “grande imprensa” na sua luta (sanha, talvez) para derrubar Getúlio Vargas. O Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, era, na verdade, um “nanico” que só cresceu com o manto protetor de Roberto Marinho, com seu O Globo, e de outros órgãos da imprensa conservadora.

Assim, “na história brasileira os freqüentes alternativos seriam jornais [ou mídia, no sentido atual, mais amplo] que se oporiam ou se desviariam das tendências hegemônicas na imprensa convencional brasileira, que esta pretende [cartelizando-se] tornar hegemônicas no país” (2).

Além de ter profundidade histórica, a expressão “alternativa (o)” ganhou ampla aceitação acadêmica. O exemplo mais conspícuo disso é o clássico “Jornalistas e revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa”, de Bernardo Kucinski (3), tese de doutorado defendida pelo autor em 1991, na ECA/USP. Também deve-se citar que o termo “alternativa (o)” tem larga aceitação internacional, em várias línguas, na esteira do pensamento de Noam Chomsky, Edward S. Herman, Mike Gunderloy e outros, em contraposição ao que denominam, em inglês, a “mainstream mídia”, que, valendo-se do “propaganda model”, definido pelo primeiro, perseguiriam a construção de um “manufactured consent”.

Os que se opõem ao termo preferem, em geral, outras expressões, mas elas padecem de particularismo (como no caso de “mídia de esquerda”, “dos trabalhadores”, “popular”, etc.) ou vão ao encontro de palavras que os próprios próceres da mídia convencional (também chamada de corporativa ou conservadora) usam para se qualificar: “livre”, “independente”, por exemplo. Pode-se perguntar: “livre” ou “independente” do quê? Essas últimas expressões recendem a uma visão também convencional, aquela mesma que quer vender o peixe de que é possível um jornalismo “isento”, “neutro”, e outros pingentes da coroa liberal com que a mídia tradicional quer se cingir.

Quanto ao fato da proposta ser para a formação de uma associação de empresários, também isso vem em boa hora. É inegável que uma boa parte da mídia alternativa no Brasil se faz com organizações do tipo empresarial, ainda que, em geral, sejam pequenas ou médias empresas (ou cooperativas), por oposição às grandes corporações que dominam os mercados privados publicitários e/ou de concessão de verbas públicas, mediante publicidade ou outros meios (isenção de impostos, etc.). Está mais do que na hora de se buscar regras de financiamento que, para além das visões mercadológicas estreitas, garantam uma verdadeira pluralidade na construção da informação no Brasil, para que, ao invés do “manufactured consent” que a “grande mídia” quer impor cotidianamente, se dêem asas a possibilidade da dissensão, do contraditório, do múltiplo, em larga escala.

Esperemos que a iniciativa se concretize, já a partir da 1ª Confecom.

Notas
(1) V. Aguiar, Flávio – “Imprensa alternativa: Opinião, Movimento, Em Tempo”. Em Martins, Ana Luiza e De Luca, Tânia Regina (orgs.) – História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.

(2) V. Aguiar, Flávio – op. cit., nota 1, p. 236.

(3) São Paulo: Edusp, 2003. 2a. ed.
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*Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior - Agência Carta Maior.
Fonte: Observatório do Direito à Comunicação

2 de dezembro de 2009

*opinião - Ética, Estado, Arte e Mercado


MULTICRISE - País enfrentou diversas crises desde o inicio do ano, mas todas controláveis. O efeito de desgaste nos modelos das atuais produções de arte e cultura foi retardado, mas contínuo, de agosto para esse período. | imagem: Coluna Leonardo Brant

Por Leonardo Brant*

(...) Em minha fala no seminário da Fundação Joaquim Nabuco (A Crise na Cultura e a Cultura na Crise), em agosto deste ano, tentei apresentar quatro dimensões para a questão da crise financeira em sua relação com a cultura: a crise Ética, do Estado, da Arte e, por fim, do Mercado Cultural.

Neste primeiro texto quero falar um pouco sobre a minha opção de multidimensionar a crise, com receio de tornar sua análise pontual e desvinculada das mazelas do nosso processo civilizatório.

Confesso que fico um tanto incomodado com a opção da grande mídia de abordar a crise por um viés exclusivamente economicista, para não dizer financista. Parece que tudo não passou de um acidente e que isso poderia ser evitado se não fosse este ou aquele fator isolado. O capitalismo global em nenhum momento está sendo colocado em jogo. Está protegido por uma couraça que, todos sabemos, não passa de uma simples manutenção de códigos e sistemas garantidores de privilégios de uma casta cada vez mais reduzida, que comanda e controla a informação e a circulação monetária no mundo.

Fiquei muito feliz com a opção de Isabela Cribari, da FUNDAJ e do economista Stefano Florissi, de abordarem a crise por sua dimensão cultural e humana. Cristiane Olivieri, também participante do debate, fez uma instigante abordagem setorial que devo comentar e compartilhar em outra ocasião.

Como um conjunto pré-concebido de códigos e comportamentos, a economia global se manifesta de maneira cada vez menos linear, consequência, sobretudo, dos novos processos de sociabilidade e mediação simbólica proporcionados pelos novos instrumentos e tecnologias digitais.

Se os meios de comunicação de massa conseguiram desconetar o ser humano da verdade, substituido-na pelo que é apenas plausível ou possível, ditado por quem possui credibilidade ou verosimilhança, vemos agora uma apropriação voraz do simulacro, por meio de redes socioculturais, blogs, second-lifes e produtos derivativos, provocando uma implosão do sistema de mediação e um choque de credibilidade.

O que poderá acontecer com a civilização, que insiste em considerar conhecimento e/ou conteúdo cultural como mera commodity, quando ela se deparar com a verdade? Não a verdade absoluta, que – como acreditava Gandhi – continuará sendo uma busca, mas algo menos encoberto, filtrado, mediado como na era da media.

O simples estilhaçamento dos vidros de proteção, que blindam o ser humano e o afastam da realidade nua e crua, já nos permitiria encontrar novas possibilidades de transição para um mundo menos monocromático e desprovido de verdades absolutas.

Resta-nos saber se esses mesmos meios serão absorvidos e controlados ou se consolidarão de maneira definitiva como instrumentos de cidadania e participação democrática.
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*Leonardo Brant é pesquisador e consultor de políticas culturais. Presidente da Brant Associados, autor do livro "O Poder da Cultura", entre outros, como a coluna do Cultura e Mercado.