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27 de junho de 2011

MULHERES E MINHOCAS

ECO FAMILY - Mãe e filhas rodeiam o único filho homem, o Rei, e todos integram a família agroecológica, que usam minhocas como adubo. | Imagens: Val da Costa
# A família agroecológica é assim, dia de congresso ou encontro da área, todos vão se capacitar pra encher seu próprio negócio de novidade. Os próprios homens dessas famílias, ao contrário de toda casa rural, incentivam as mulheres a ir colher um novo conhecimento ali, uma nova técnica acolá... No final, tudo vira lucro, porque o que uma mulher cata nesses eventos é muito mais precioso do que dinheiro.

Os homens ficam lidando com a plantação. E muito satisfeitos!

Menos um deles, que fez questão de ir pra um evento agroecológico desses, que vai mais mulher do que homem. Manoel Messias é o cabra, que devido a ser o único homem de uma família de seis filhos já pegou o apelido de Rei. Todos são do Cariri paraibano, mas vieram para a Borborema fazer parte do 1º Encontro Estadual do Pais, no mês passado. Pais significa Produção Agroecológica Integrada Sustentável, ou seja, tudo aquilo produzido por agricultores ecológicos.

Lá no Sítio Lucas, a mãe Helena de Oliveira saía encabeçando a fila indiana feminina, que seguia com Maria Verônica, presidente da Associação dos Produtores Agroecológicos de Monteiro (Apam) e suas irmãs, Maria José, Maria Aparecida, Maria Sueli e Eliane. Todas têm um Pais em casa. (E recebem rajadas de inveja de gente como eu, que entende o que é uma produção agroecológica, mas ainda não pode fazer uma por morar numa cidade.)

Mas nesse grupo caririzeiro tinha umas dez pessoas, todas agricultoras conhecidas, trocadoras de informações, traficantes de conhecimentos que são úteis à plantação ecológica. Algumas não queriam admitir, por exemplo, a utilidade da minhoca. Maria Verônica não. Ela sabe o valor de uma minhocona da boa, conhece todos os tipos e serventias. "Eu pego na minhoca mesmo! Nessa aqui (mostrando uma enterrada) e na outra", disse sussurrando, me puxando pra perto dela e gargalhando.

A mulher caririzeira é fogosa por natureza, não se intimidem. O que Verônica quis dizer somente foi que as minhocas têm muita riqueza e são importantes para nossas atividades humanas. Ah, essa conversa dúbia rolou na hora da oficina de minhoca. O palestrante entrou na onda, pois já tinha muita experiência com minhocas, além de enfeitar seu estande com borboletas, "símbolo da transformação"...
Antes das propriedades das minhocas, voltemos algumas horas...
Na hora do almoço, o palestrante do minhocário entrou na farra com essas alunas... saiu brincando de obstáculos (ele é este senhor curvado, de camisa azul, tentando tomar coragem para caminhar na rede) e, exibindo sua desenvoltura, fez o trajeto todo do playground no hotel fazenda.
A mulherada do Cariri sabe andar na ponte balançando, atravessar de um obstáculo a outro, bem como produzir os orgânicos de melhor qualidade do Estado, atestado pelos órgãos federais de produtos agroecológicos.
De tão animadas que estavam as mulheres agroecológicas, inaugurando o playground depois de horas assistindo palestras de certificação de orgânicos e vendo casos de sucesso de outros estados, elas atraíram alguns homens, como seu Antônio, produtor do Cariri, que não resistiu e caiu na farra.
 Agora, voltando às minhocas, é hora de deixar um dos ensinamentos que tive neste dia, como preparar uma minhoca suculenta, cozida ou frita. O ideal é que a minhoca fique 24 horas sem se alimentar. Com esse castigo, ela seca. Aí, é só temperar com alho ou cebola, cozer com legumes (como sopa) ou fritar.

Outra dica para se produzir uma ótima minhoca, que na verdade serve para adubar bem as plantas com seu esterco maravilhoso (que se chama Húmus nas lojas), é oferecer o melhor em termos de comida de minhoca. "O mel para uma minhoca é o esterco de cavalo", aplicou o palestrante.

Imersa naquela atenção feminina diante de um professor, a pacata Verônica discordou e disse que a minhoca produzida no seu Pais era melhor por causa de uma dieta diferenciada. "Eu corto um mamão bem maduro no meio e distribuo as partes nas hortas. Em poucos dias não tem nem casca mais!", contou a ecológica. "Não creio! É a primeira vez que ouço isso", retrucou o especialista em minhocário, aos risos. Verônica foi enfática e sarcástica: "Mas é. E a sua minhoca nem chega perto da minha".

#valdíviaCosta

15 de junho de 2011

DEPRÊ

Imagem: Diz Lá

# A fala sai do caminho enquanto me afeiçoo a dor. Nem é nada sério. Só uma nostalgia que começou ontem, antes de dormir. Mas sinto aqueloutro odor oco, desfalcado de conforto... Afinal, por que sou triste se a felicidade está à mesa?!

Responde você, que não se abala com a crueldade! A vida me fatia em quatro. Não é de graça que vivemos, eu sei. Só que eu amanheço enquanto a vida é noite chuvosa.

Quanto às palavras, já não as tenho mais... Devem ter recorrido ao suicídio, único caminho de quem deseja o silêncio absoluto. Naufraguei com elas.

Mas não farei do meu fracasso tablado para que sapateiem. Não precisa pisar naquilo que já está fatalizado. Pois há os que se deliciam com o lamento alheio, mas quero crer na insanidade desses para não denegri-los ou puni-los demasiadamente pela displicência.

Lágrimas lavam uma agonia avantajada. Depois seco mais ainda a fala, essa brecha, essa válvula escapatória que é acionada minuto a minuto com os supetões e solavancos humanos... Pshiii... Pshiii... Pshiii...

Tenho minhas críticas sobre o bem, pois são constantes os dias que só peneiro o mal. Ele cai, numa poeira fina, formando uma montanha despretensiosa no fundo de uma bacia, e vai acumulando partículas de agruras para, ao final do dia, virar sólida realidade ao meu lado.

Andar nesse terreno erosivo, no qual a terra cede com a pegada, é um desconsolado letramento.

#valdíviaCosta

 

Numb

Unable so lost
I can't find my way
Been searching, but I have never seen
A turning, a turning from deceit (...)

Entorpecida

Incapaz, tão perdida
Eu não posso achar o meu caminho
Tenho procurado, mas eu nunca vi
Uma volta, uma volta do engano (...)

9 de junho de 2011

EDIFÍCIO LUCAS

INSPIRADOR - interessantes prédios têm uma áurea reconfortante para suicidas, como o Edifício Lucas, que tem três casos em sua história desde a década de 60  | imagem (ed. Joelma): Singrando Horizontes

# Uma antena
uma caixa d'água
um varal esquecido

os pés balançando no vazio
o céu, "irritante"!
doze andares abaixo
bem debaixo, lá embaixo...

A cabeça entre as mãos
do tempo alento
flash back de motivos
uma brisa brinca
num dos cachos...

"Você é zero!"
Eco do ódio reverberando.
Lembrou da primeira boneca
quis ver a mãe com namorado

(ficou alguns minutos
evocando rostos...)

Súbito susto!
Um pássaro freia perto
frio
náusea
insuficiência

(um profundo suspiro...)

Nem dor nem alívio
"Deve ser aqui o inferno"

(um vento forte fecha a portinha
e vai-se o acesso à cobertura)

Sem mover-se quase,
acende o cigarro
puxa a fumaça com força

(os pés parados,
cruzados pés)

veio uma imagem dele
beijos
saudades...
"sua inútil..."

(era quase certo
ter um miado ali)

Viu o pai, perto
Salvou sapos e cães...

(súbita levantada!)

Com o toldo silêncio
o corpo se atira
se entrega à queda.

(o corpo, pesado, cai)

Ela, no chão...

#valdíviaCosta

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Esta é uma depressiva homenagem ao Edifício Lucas, central em Campina Grande-PB, que já serviu de trampolim para alguns suicidas. Segundo o blog CG Retalhos, de onde cpoiamos a foto, o prédio é o mais representativo das Ruas Marquês do Herval e Cardoso Vieira, projetado em 1963 pelo arquiteto pernambucano licenciado Hugo Marques. O edifício possui duas torres, sendo uma delas um pouco curva em relação à primeira, onde ambas se unem por meio dos serviços comuns às duas, a exemplo dos elevadores e suas escadas.