seguidores

21 de setembro de 2011

EMPRESÁRIOS, ART DÉCO E MÚSICA

Marca do evento é um rádio no estilo Art Déco para simbolizar a música e a arquitetura predominante da cidade e mexer com a auto-estima do empresariado.

#O tempo correu e eu nem falei do Festival Borborema aqui no blog no mês passado. Uma iniciativa bacana, formada em parceria com o Sebrae e algumas empresas paraibanas. Não vou nem abordar o evento em si, mas uma atitude para lá de bacana que está acontecendo. Todos estão dando as mãos em torno desse projeto.

É o empreendedorismo com a cultura movendo uma roda gigante, pesada ainda, que sai mostrando nossa arte para as pessoas. O turismo cultural de Campina Grande precisa de iniciativas assim para unir os empresários no desenvolvimento territorial. Eles próprios sugeriram um projeto de música na praça principal da cidade.

Há um sentimento de pertença se formando. Afinal, Campina Grande tem que dizer para o mundo que aderiu ao movimento Art Déco. Que tem uma das maiores concentrações da arquitetura desse estilo espalhada por toda a cidade. É a nossa Art Déco Sertaneja, assim denominada pela pesquisadora Lia Monica Rossi.

Por que, então, nós não podemos fazer disso o nosso cartão de visitas? Daí veio a ideia de usar o Art Déco como nosso emblema. Um rádio nesse estilo exibe a beleza do Festival Borborema em seu material gráfico. O rádio ainda é um dos meios mais fortes de veiculação de música. Por que não ouvir um som, no final do mês, na praça, enquanto lancha e bebe um refresco?

Temos um público circulante de milhões de pessoas por dia na cidade. Todos vêm comprar, estudar e fazer negócios. Essas pessoas podem descobrir o Festival e fazer de Campina sua praia de final de mês. 

O mundo corporativo tem que aprender sobre negócios da cultura. Tem que se capacitar nas tendências de comunicação, cultura e comportamento. Como bem esclareceu Grant McCracken, no livro Chief Culture Officer, "a cultura pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma organização". Ele acredita que a cultura é a bola da vez no marketing.

Quem sabe, uma noite, a gente veja a expertise da cultura andando pra lá e pra cá numa corporação de Campina Grande! Philip Kotler recomendou: "sigam o conselho de McCraken, levem a cultura em consideração nas decisões e políticas de sua empresa".

O empresariado está tentando se acostumar a orçar o apoio na ação de cultura local. Mas tem que deixar de pensar que investir em cultura é exibir "música ao vivo" no seu próprio negócio. O empreendedor deve investir na arte pensando no diverso mundo de desdobramentos que isso gera e nas divisas de fronteiras. A cultura pode agregar mais valor à marca, além do dinheiro que todos esperam como retorno.

Campina Grande mostra-se interessada na economia da cultura. Com a criação das secretarias, estadual e municipal, a cidade tende a abarcar algumas políticas culturais, além dos editais como o Fic e o Fumic. O empresário tem um papel importante nesse novo engendramento. Ele é fundamental para se construir uma nova cadeia produtiva das artes.

Nessa construção, tem que se pensar numa forma de isenção de impostos para o empreendedor de perfil cultural. Cada esfera pública deve também apoiá-lo. Mas, pensar que o poder público é quem deve fazer cultura sozinho, é se entregar à mesmice de séculos de escuridão em que vivemos. E de vazio cultural. O que gerou esse apoderamento de uma música plastificada nas rádios.
 
Formando esse tripé entre as esferas pública, privada e a arte, teremos uma base sólida. Para quê? Para apontarmos a cabeça nesse Nordeste rico, de mega empresários de todas as áreas, e dizer: "nós temos arte!". Para atrair pessoas, mas, especialmente, para nos reconhecermos como potencial cultural.
#valdíviaCosta

7 de setembro de 2011

FUSIONADOS



"A felicidade é meu consumo quem consome..." - Toninho Borbo | imagem: Betesda do Uirá

# A questão da identidade cultural não explica para onde vamos, mas não fica difícil saber se olharmos bem nossas relações com os outros e com o planeta. Stuart Hall bem definiu:

As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio. Novas identidades estão surgindo, deixando o indivíduo moderno fragmentado.

Como eu fiz meus primeiros amigos? Tínhamos compatibilidades nas brincadeiras, nos gostos... Mas é. Ele tem razão... Hoje, as relações são descartáveis. Os sentimentos são farelos que se descascam do Ego, pedras soltas do mundo.

Fotografei meus amigos na memória. Revendo-os, às vezes, nas lembranças, percebo que uma amizade só dá certo quando há um interesse maior ligando duas pessoas. Só há relação quando a troca se acentua antes. Isso parece comum, como nos casamentos antigos.

Geralmente, o dinheiro tem servido como intermediador nessa relação delicada entre o homem e a cultura. O status do Ter é imperativo que se joga na cara das pessoas... elas trocaram seus sentidos todos por um único significado de viver.

Sinto até saudade da modernidade. Especialmente quando lembramos que somos peças encaixáveis em qualquer tabuleiro em troca da imagem que tudo deve expressar. Na pós-modernidade somos fantoches, seres articulados por mãos hábeis. Segundo a segundo, diferentes situações.

Saltitantes, procuramos aparição midiática com o conteúdo que for passando no juízo. Identidade híbrida é um penteado punk (que foi símbolo de muita irreverência no distante século XX), na cabeça de um jogador de futebol. Ou tatuagens, signos tribais urbanos, em cantores sertanejos, que têm suas raízes no campo. Ah! Universitários... Assim: nada contra, só exemplificando.

O que eu falo condiz com a nossa realidade coletiva diária. Nossos diálogos são pautados pelas posses. Mas passamos, nos apossando dessa viela entre as calçadas do analógico e do digital. Quando não se tem ineditismo, o sujeito se torna arquiteto do blefe.

#valdíviaCosta (baseado em leitura de Stuart Hall, no livro A identidade cultural na pós-modernidade - 11ª ed.; 2006)