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30 de outubro de 2010

COMO ARRANCAR TREPADEIRAS


ESCORONAS - Momórdica é uma planta trepadeira com frutos alaranjados e sementes vermelhas chamados de "melões-de-são-caetano" ou "frutas-de-cobra". Tratada como venenosa, mesmo que nunca tenham sido constatados casos fatais.| imagem: Carmichael

Pensar diferente, contrário a tudo que foi imposto como verdade absoluta, é possível. Mas quase sempre isso é tarefa solitária, introspectada na falta de vontade de agir. Coisa bastante comum devido ao processo facilitador de espreguiçamento humano causado pela televisão. Já tínhamos falado dela, semana passada... Mas ela precisa ser consumida crua, como instrumento massificador de difusão de outras ideias amarradas em ligas ao cérebro cooptado. Mesmo que a TV, sozinha, não represente o terror tanto quanto a mente humana.

De tanto falar nesses processos zumbizescos, poderemos, um dia, entendê-los bem e usá-los melhor ainda. Até porque precisamos urgentemente desse conhecimento para não sermos, apenas, peças de um jogo. Com a televisão digital, o processo de "dominação" poderá mudar. Já não temos mais o receptor passivo, como defendiam os teóricos da Comunicação do século passado, devido ao processo de globalização. Provavelmente, a dominação relaxará com a TV digital, e isso dará mais acessos ao Olimpo das informações, antes apenas frequentado pelos "donos" dos meios televisivos.

E não é só midiática essa força que acorrenta as mentes. Assim analisou esta semana o mais novo pensador nordestino das artes, Tone Ely, que transversalizou esses conceitos no campo das ciências Sociais e Políticas e escreveu seus pensamentos numa carta pública. Entendemos que ele está tentando discutir nesse texto o "jeitinho brasileiro". Pra nós, ele compara esse individualismo, que já se instalou no campo das artes, ao de uma planta trepadeira chamada Mormódica ou Fruta-de-cobra.  

É interessante essa comparação, pois vemos mesmo pessoas "enganchadas" umas nas outras (risos), como essa planta, pra poder dar seus frutos. Embora ainda não tenha desenvolvido a ideia a ponto de dar uma solução para tal problemática social, Tone Ely mostra um forte desejo de cortar de vez as perninhas das trepadeiras. É, vez em quando, as trepadeiras tentam se enroscar nas nossas pernas... ou nós nas pernas de quem tem mais para nos sustentar. A discussão é como guiar a arte, atualmente, pelos campos limpos, sem intervenção das instituições (familiares, estudantis, políticas etc.).

Como o texto é aprofundado nas leituras Antonin Artaud, Krishnamurti, Jacques Lacan e Paulo Freire e já foi postado no blog Abaixo do chão, Acima do céu, vou apenas linkar os primeiros trechos pra vocês estenderem-se até lá.
--------------------------------------------------------------------------------Vamos discutir! 

Mormódica ou Fruta-de-Cobra
(a partir de outubro de 2010)

Encontrar um motivo para chegar a escrever uma carta pública é algo muito raro e devo me reconhecer com uma inspiração gigantesca para fazer isso. Já que terei que assumir desde já a possível interpretação que é algo pretensioso, prepotente, arrogante, egocêntrico, somente por achar que tenho algo para dizer a todas as pessoas... Aí, aproveito para assumir também a postura de ridículo, porque nela, sinto-me mais respeitado, respeitando. Espero bastante que o que venho a dizer aqui seja menos incômodo do que me parece para vocês. 

O fato é que passei a acreditar que "de várias maneiras, pessoas se utilizam de modelos pré-definidos de funcionamento de instituições para fazer as outras se comportarem de acordo com seus interesses". E, tais modelos, fazem com que as pessoas, ao adotarem essas instituições, reproduzam esses "hábitos" sem consciência de que isso beneficia as outras pessoas que criaram os modelos, ou sequer, de que isso está prejudicando a elas. Venho através desta carta dizer que há algo covarde, injusto, de tal forma que manipula a natureza do ser humano em coisas que estamos aceitando normalmente em nossas vidas.

Para que todos entendam melhor, farei de referências às instituições presentes nas vidas de todos nós, explicando como são usados esses modelos dentro de cada uma delas. Antes de tratar das instituições, citarei as principais ferramentas usadas para manipular pessoas para que fique mais fácil de entender...

Gerar medo está presente em todas essas formas de controle. É a principal arma dentro dessas instituições para iniciar o processo de controle. Seria algo assim... Gerar 'medo' nas pessoas de modo que elas se 'reprimam' para um dia saber ou dominar um certo 'segredo'. Então elas passam a 'competir' entre si para ver quem está mais perto desse 'segredo'. O 'segredo', só quem sabe ou possui é o grupo de pessoas que mantêm as outras se comportando de acordo com seus interesses. Isto é, pessoas se beneficiando de outras pessoas, que passam a 'acreditar' que devem se comportar de acordo com as 'regras' da instituição ou serão castigadas, tendo que confrontar o 'medo' gerado. 


28 de outubro de 2010

STREET ARTE


INTERATIVO - O conceito de arte de rua é modificável num cenário de pobreza educacional e abandono. Texto (jun/2004) | imagens: Above e Banksy


VALDÍVIA COSTA 

Quem passou pelo centro de Campina Grande, lá pela Praça da Bandeira, à tarde, numa semana de agosto, viu uma cena que não muito comum na cidade: artistas de rua. Um homem auto-nomeado “Alagoas”  e a sua filha Islânia, a Nêga. O pai fazia questão de falar alto que tinha 36 anos e sua filha 11. Comentou, de forma exagerada e machista, que tinha 76 filhos de 46 mulheres diferentes. 

Quem viu aquelas cenas “artísticas” com outros olhos percebeu que nem a Nêga nem Alagoas são profissionais que se possam aplaudir pelo talento do contorcionismo, prática que requer muita disciplina, responsabilidade e segurança, requisitos que os dois não utilizaram. Porém, valeu a pena até ter dado uma gorjeta aos dois por contorcerem-se de forma necessária perante as crises econômicas (não fosse os sussurros dos mais desconfiados, suspeitando de exploração do trabalho infantil). Como um misto de “faz-coisas-impossíveis-com-o-corpo” e vendedor de pomada e sabonete naturais, Alagoas disse levar a cultura da arte de rua em praticamente todas as cidades do Brasil. Novamente com aquele orgulho de quem já muito rodou, ele mostra as fotos tiradas ao lado de Jô Soares e comenta sobre as passagens de seus shows performáticos pela Ana Maria Braga, Ratinho e Altas Horas (com o Serginho “Groisam”, como ele diz). 

Ao arriscar a pele se atirando em um círculo com mais de dez facas pontiagudas espetadas, o artista de rua consegue juntar, em 10 minutos, um público de aproximadamente 100 pessoas. Nem a greve dos professores que circulava ao redor da praça conseguiu atrair tanto a atenção! E tome chicotada para “despertar” mulher preguiçosa! Esse é o verdadeiro show da vida de Alagoas, no qual a filha dele é uma atração. Geralmente com duas crianças, o artista anda sem parar dentro da roda, que ele manda apertar cada vez mais, “para ficar melhor de ver a presepada”. E o povo vai chegando, comprando uma pomadinha, um sabonetinho e dando um real para ver a Nêga se enrolando dentro de uma mala. No final do show, Alagoas diz ter conseguido o sustento do dia para pagar a diária do hotel e comprar o alimento da família. 

O público notou que a menina estava sem graça, meio que forçada a continuar com o espetáculo. Mas, tanto ela quanto o povo, fingiram que não havia nada demais naquilo. Talvez a Nêga já estivesse se cansando daquele blá-blá-blá do pai, de conseguir a vida lhe usando um pouco. Ou talvez fosse só aquela febre que ela insistia em mostrar para ele que estava a incomodando. Alagoas, sempre firme, repetia: “o show não pode parar” e todo mundo aplaudia. Estaria Islânia, no auge da sua infância, sentindo o peso de ser uma moleta para os pais? E lá vão pai e filha, com sessões cansativas e expostos ao sol e à boa vontade do público de rua. Assim como os indigentes que colocam os filhos na calçada para atrair a atenção das pessoas, que geralmente se compadecem e dão esmola, Alagoas e a Nêga dão o tom opaco à tela de miséria na qual se forma o país. Apesar dele enfatizar que vai ficar só três dias na cidade por causa das aulas de Islânia, não é isso que ela demonstra ao soltar os cabelos, baixar a cabeça e começar as lentas cambalhotas em direção à vida nas ruas, dia após dia, cidade após cidade.

Talvez o pai nem tenha culpa por instigar à menina a continuar nos shows de rua. Talvez ela esteja estudando mesmo. E talvez ela mesma queria estar ao lado dele. Em mais uma questão hipotética, o que pode trazer de bons frutos para Islânia aquelas cambalhotas entre o passar dos anos? O que realmente de construtivo pode ter na forma como eles praticam esta arte, que chega a obrigar a filha de 11 anos a estar se locomovendo em busca do sustento da família? De novo, Alagoas responde com o orgulho que o faz ser indiferente à verdadeira vontade da filha: “ela é preparada e treinada”. Teria alguma ligação desta “arte adestrada” com o próprio marketing que ele sabe articular para vender seus produtos entre as apresentações da filha? Nada que venha a intervir na arte de rua, realizada entre adultos, que decidiram seguir por ela. Só dúvidas para com as crianças.

Esses pequenos são jogados na vida de forma irresponsável, como Alagoas joga o seu chicote para cortar pequenos pedaços de jornal, chegando a machucar quem se atreve a ser voluntário. De repente, num futuro próximo, Islânia pode criar a ferida da ignorância. E esta, a pomada, “feita de extratos vegetais pelos índios do Pará”, comercializada pelo pai dela, pode ser um paliativo, mas jamais um antídoto pra sanar a estupidez.

(As imagens desses dois artistas de rua, Above e Banksy, são uma pequena mostra do que a criatividade humana alcança, mesmo quando o visual ou a vida não contribuem.)

24 de outubro de 2010

TUDO POSE

FASHION - "Estou com um figurino hoje de parar o trânsito, meu bem!" Texto de julho de 2004 | imagem: fotolog rose_mad

VALDÍVIA COSTA


O que leva as pessoas a praticarem a indiferença para com os outros? O indivíduo cresce e descobre suas próprias formas de ganhar dinheiro e, ao conseguir – às vezes ganha apenas a ilusão do poder -, desdenha do fraco, do oprimido, das pessoas menos dotadas de inteligência, dos parentes “mal sucedidos”... Talvez, implantando-se nesse modelo de rico emergente, individualismo, apenas.

Isso é a sociedade capitalista atual, mas descende também da época monárquica, dos casamentos por dotes, da escravidão e da exarcebação da ignorante nobreza. O que se vê é uma falsa burguesia, que muitas vezes se baseia na condição econômica deficitária de um país de terceiro mundo para construir uma imagem de "um novo rico".

O problema é salientado pela falta de instrução desse pobre que consegue ascender financeiramente num curto espaço de tempo. Para os emergentes, só importa exibir poder, carregar numa 'ordem', enfim, discriminar gente da sua própria cultura. São uns mendigos de alma, carentes de coragem e valentia verdadeiras, que só os menos favorecidos conseguem ter, antes de, casualmente, ganharem muito dinheiro.

Pena notar isso: em alguns casos, o dinheiro destrói a simplicidade. Procure um “rico” que queira trocar meia dúzia de palavras com um "pobre". Poucos deles ainda conseguem manter o canal da comunicação aberto entre as classes sociais. Nem que seja pra dizer: "rapaz, tou quebrado! Fiz uma viagem recente pra Disneilândia, foi um gasto, viu?!".

É Tudo Pose
Composição: Lobão - Bernardo Vilhena - Ivo Meirelles

Na vida hoje / É tudo pose / Todo mundo se imagina estampado em outdoor / É tudo pose, é tudo pose, é tudo pose / Preocupados com olhares ao redor / Pra entrar no carro / Pra sair na rua / Tudo, tudo vira pose, é bem pior que na TV / Pra tirar um sarro / Cada um na sua / Inventando pose até pra morrer / É tudo pose, é tudo pose, é tudo pose / A vida, vida sempre foi assim / É tudo pose, é tudo pose, é tudo pose / Sai dessa podre ou vê se sai de mim / Pose pra quê? / Pose pra quem? / Com essa pose você não vai ser ninguém / Seja você / Sai do normal / No fim de tudo a vida vira um carnaval / É tudo pose, é tudo pose, é tudo pose / A vida sempre, sempre foi assim / É tudo pose, é tudo pose, é tudo pose / Sai dessa podre ou vê se sai de mim.

19 de outubro de 2010

EXTERIORES

LOBOTÔMICO - No lugar do cérebro, ideias repetidas, jargões e idiotices para uma plástica felicidade. Texto de novembro de 2002. | imagem: Paraíso Niilista
VALDÍVIA COSTA

Se fôssemos feitos de dentro para fora talvez não precisássemos nos enganar com falsas modéstias ou elogios materialistas. Talvez assim sentíssemos que o que mais nos une (ou nos separa) são nossas intenções. E como elas são imperceptíveis! É difícil medir o tamanho de um sentimento. Ou enxergá-lo.

É complicado saber onde começa uma vontade e onde termina a desconfiança. Por isso, nós substituímos as relações fluentemente naturais pelas compensações. Respeitar a si, aos outros e, consequentemente, ao habitat seria fácil se não existisse a ilusão humana. O nosso próprio meio é povoado por pretenções capitais que nos tornam impermeáveis ao sentir.

São as malícias que nos projetam nos status sociais. Estereótipos: quem supera-os? Capa de esnobismo, sapatos de altura egocêntrica e adornos fantasiosos compõem a rala futilidade. Pensar é enfadonho e poucos exercitam os neurônios. Amar é tolice, já que afagos são barganhados por emprego e sexo encomenda-se a qualquer preço.

O homem, carente de tantas coisas, modifica-se quando encaixado dentro desse padrão de vida supérflua. Os corpos moldados de acordo como o mito que as mídias talham, acorrentando o senso crítico de quem assiste a TV, são perseguidos por ricos ou pobres. Os televisivos seres ganharam mais músculos e menos massa encefálica.

Se bem que a única massa interessante a quem desenvolve uma tecnologia zumbizante é a do público. Pela falta de conteúdo coerente ou pela repetitividade de programas, a TV se transformará. Mas um receio reina nesta mídia, a de ser substituída. Através da televisão, adolescentes polemizaram: será que a internet substituirá o livro? Para ela, que teme ficar obsoleta com essa intelectualidade cibernética, o importante é a edição. Montar a vida é fácil, basta roteiro. 

São fugazes esses atalhos sistematizados que desviam do verdadeiro conhecimento. Tudo está embutido num único sentido, o de manter oligopólios comunicacionais. E o bom é ser comum. Seguir a moda é ser igual e a diferença está somente na forma high tech de dizer “oi”.

Atitudes positivas podem ser invertidas com essas distorções teleguiadas. Como as apresentadoras que só trocam de roupa e mantém a mesma caricatura, todos só pensam nos cinco minutos de fama. Pouco tempo passará até encontrarmos o novo de novo. Com uma cara de cansado, mas tatuado, com piercing’s e sotaqueando vantagens. Uma cópia que atravessa a Avenida Brasil num domingo.  

18 de outubro de 2010

NUVEM GREVISTA

HUMPF! - Um pretencioso pedaço de nuvem faz greve no Sertão cascabulho de sol derramado em nós, por nós e para nós | imagem: Val da Costa
VALDÍVIA COSTA

Bem distinta e singela, a nuvem ficou no céu a mostrar sua cor diferenciada do azul acinzentado costumeiramente visto em todo canto. Nem notou que tinha admiradores. Eu e um cão sarnento, que procurava sentir uma chuva ilusionária com um focinho curto apontado pra ela. Mas a nuvenzinha passou pelo Sertão, esnobou o Vale dos Dinossauros e nem quis saber de esfriar a vida!

- O povo pensa que eu tenho obrigação de nascer, crescer e virar chuva. Coitados! Nem sabem que eu sou a única dessas redondezas e que não gosto nem um pouco da ideia de servi-los... - esbravejou a nuvem, meio que olhando com desdém para a cidade quase em labaredas.

Cá embaixo, taquei mão da máquina fotográfica e disse: - já que não queres inflar, nuvem, vais pra prosperidade como uma denúncia, um flagrante de um dia caspento, espinhoso e sem ar. E cliquei. Tsc... Dei a volta em quase toda a varanda da pousada, procurando alguma possível, e também ingrata, companheira gasosa. Nada.

A única nuvem do céu de Sousa, neste dia, foi taxativa: - pensas que vais sair daqui sem sequelas? hahaha... Todo mundo que me olha, eu tosto... - ameaçou aquela nuvem bandida... Fiquei alguns minutos ouvindo suas lamentações, de retentora do calor solar. Nuvem falsa... nem aumentou um tantinho sequer!

Sentei na varanda, procurando o que fotografar, além dessa nuvem-porco-espinho. Nenhuma alma, só rochas, terra seca e um vento quente. Ninguém é doido de encarar um calor de quase 40º. E sem nuvens! Já ia me levantando pra me refrescar com uma ducha, quando a arrogante provocou...

- Vais tomar banho? rss... A água não alivia quando eu não resfrio. Os canos de PVC esquentam, sua pele só vai ficar enrugada do vapor da água... Encare o sol do meio-dia por 20 minutos que conversaremos... - desafiou a ordinária, que se recusou a trabalhar, mas não largou a opressão.

Ninguém desliga o ar-condicionado por causa dessa grave greve pluviosa...

14 de outubro de 2010

ESPERANZA NA MÚSICA

ÁGIL - artista em catarse ao tocar o baixo, que sempre fixa-a no chão, depois de soltar uma voz quase pena, num misto de agilidade e leveza visto em poucos. | imagem: site Esperanza 
VALDÍVIA COSTA

Temos ótimas surpresas musicais ainda hoje. Daquelas que estão despontando, com dois ou três anos de estrada... o tipo de trampo que a gente escuta e diz: "é bom!", mas com curiosidade pra investigar se não passa de uma falsa impressão. Algo assim aconteceu conosco ao nos depararmos com esse som, um jazz feminino. Esperanza Spalding é o nome dela, a singular. Além de criar essas sonoridades encantadas, ela também inova no visu, ao tocar (bem tocado) um baixo acústico e cantar.

Seu álbum de estreia só foi lançado a três anos. A partir dele, o homônimo, Esperanza ficou conhecida principalmente como uma jazzista. Os coroas dessa área a respeitam, apesar dos seus 25 aninhos. Ela também se sente honrada em fazer parte dessa tradição rica. Mas a cantora, instrumentista e compositora, diz que tem inúmeras outras criatividades que vai mostrando ao longo da vida.

Bom, além de ser talentosa na música, Espranza também é crítica, consciente e antenada com o mundo. Canta uma música em português no novo CD, Chamber Music Society, um álbum que combina um power trio jazz com voz e arranjos de Cadeia de caracteres. Mas esse rigor todo não surgiu ontem. Como toda cantora americana, ela vem se formando desde a sua infância, quando tocava música de câmara no violino. 

Apesar dela tocar jazz, sua maior inspiração vem da música clássica, acreditando ser o fascínio pelo conceito de obras que a faz reproduzi-las e vivê-las entre amigos. "Afinal, a música de câmara foi feita para as massas quando surgiu, devido quase todos os segmentos da sociedade poderem encontrar significado e relevância", lembra. O trabalho Chamber Music Society recria esse mesmo tipo de nexus cultural com um lugar onde os conhecedores de música em geral podem se encontrar.

Essa genialidade musical é dividida entre um grupo de artistas que acompanha Esperanza. Seu co-produtor do projeto foi vencedor do Grammy, o compositor e arranjador Gil Goldstein, que já trabalhou com alguns dos mais promissores artistas de jazz das últimas décadas. O pianista Leo Genovese, o baterista Terri Lynne Carrington e o percussionista Quintino Cinalli fazem o meio-campo. E o trio de cordas são os violinistas Entcho Todorov e Lois Martin, e o violoncelista David Eggar.

O brasileiro Milton Nascimento faz uma aparição numa faixa desse CD. Segundo Esperanza, ele foi um dos heróis musicais dela por muitos anos e esse amor é revelado numa simples frase da artista: "ele representa Tudo o que eu gostaria de atingir musicalmente". O respeito que a cantora deposita no brasileiro Milton vai além de qualquer estrelato. "Todos nós queremos ouvir a sinceridade, a originalidade e a verdade na música", reflete, apontando-o como mestre.

Discografia
2010 - Chamber Music Society
 
Apoiado pelo baterista Terri Lyne Carrington e pelo pianista Leo Genovese, além de inspirado pela formação clássica dos seus anos mais jovens, o atual CD de Esperanza cria um grupo de música de câmara moderno, que combina a espontaneidade e a improvisação com o doce e angular string trio de modalidades. O resultado é um som que tece os elementos inovadores da música jazz, folk e mundial em fundamentos duradouros da música clássica.



2008 - Esperanza


Armado com estranho instrumental, uma voz de sirene que abrange três línguas, e composições e arranjos das habilidades que tecem juntos os melhores elementos da velha-escola com a progressiva, este é o álbum de estreia que adota uma abordagem completamente nova e refrescante do jazz. O CD ainda incorpora as ricas tradições do soul, pop, música do mundo e muito mais.



2005 - Junjo
É a primeira direção desta artista norte-americana, Esperanza. Ela dá seus toques para peças que vão desde o trio de jazz moderno, à música brasileira contemporânea e à música folclórica Argentina. Este projeto é um sonho realizado, porque é, ao mesmo tempo, seu primeiro CD e a primeira direção musical. O trio é completo com o talento do pianista Aruán Ortiz e do baterista Francisco Mela.

13 de outubro de 2010

NEO-CORONEL

RIGOR - Todo "pleba" que se preza tem um arsenal visual e sonoro de coisa ruim que ele leva pra todo lugar (Pato Donald atrás das garrafas)... a gente que aguente! | imagem: Fotolog

VALDÍVIA COSTA

Um perfil arrojado e deselegantemente imponente se destaca nos Interiores do Brasil, o neo-coronel. Dotado de muitos bens materiais, muitas vezes incontáveis, este ser contemporâneo tem perfil que merece ser descrito, além de, lógico, evitado. O visual que este cavaleiro moderno da cafussagem tem é complexo como sua mentalidade: poluição de cores, formas e vocabulário. Ele é a própria ejaculação precoce do povo aculturado. Conhecido também como o playboy nordestino, este modelo não para de ser copiado inadvertidamente.

Em cidades como as do Sertão, dominadas pelos antigos donos das grandes fazendas e pelo dinheiro que estes "derramam" em nome da aparição pública, o neo-coronel prefere um boné de Fórmula 1 ao invés do tradicional chapéu de vaquejada. Mas nem precisa dizer qual o "esporte" favorito desse tipo de homem. Na falta dos bois pra apreciar as tradicionais crueldades, o estiloso homem, meio metrossexual, meio lutador de jiu jitsu (!) passeia pelas ruas monótonas e sem arte da região.

O passatempo agora é o famoso "pega", que está presente desde as cidades menores às maiores, como diversão de gente oca, tão vazia quanto o cofre dos pais ficam após uma "aventura" desses playboys sertanejos! Fingem que são vaqueiros pra os pais, donos das propriedades maiores. Interpretam bem ao casar, mas nunca abandonam a vida de "raparigueiro".

O perfil de mulher que se atrai por este estereótipo? A mais bombada, escandalosamente linda e totalmente desprovida de cérebro que existir. Acredite: esse "modelo de feminilidade" cresce a olhos vistos no Interior... vire e mexe tem uma dando "rabissaca" (chicotada com o cabelão ou megahair). É a forma mais peculiar delas atraírem o neo-coronel.

Chega dá saudade quando vemos esse novo cenário "cultural" nos interiores. Antes, o coronelzinho ia pra Capital, voltava letrado, recitando poesias pras negras escravas ou pardas agregadas e delas terem uma noitada deliciosa de amor e dengo. Hoje, só as blonds interessam! Elas vestem-se como num padrão, passam aquele perfumezinho francês paraguaio, um shortinho, pernas talhadas a muita dedicação acadêmica fisiocultural... os coroneizinhos deliram... transam, fazem filhos bastardos, depositam-nos na sociedade como despachos, quando não os abortam em clínicas VIPs.

Mas um neo-coronel sem o seu arsenal de coisas pós-modernas não é ninguém. Por isso, eles preparam um carro armazém, com bebidas das mais baratas e chulas, copos infantis que sinalizam essa infantilidade toda desapercebida por eles e, não podia faltar, a trilha sonora da "gota serena"! São forrós, bregas, lambadas, axés, sertanejos universitários e outros ritmos calientes dos mais procurados pelos jovens sem educação e cultura nas rádios compradas.

Os apelos ruidosos que aquelas guturais orgias, narradas nas trilhas, são espalhados pelas praças, calçadas e feiras... ganham o mundo sem direção, apenas catando um ouvido pinico que sirva para descarrego. Muitos são os que curtem, "dançam", simulando orgasmos múltiplos, transas alucinadas e prazeres nunca antes sentidos... é a festa do AP do playboy nordestino, que não está em espaço privado, mas cada vez mais público e amplamente divulgado!