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19 de outubro de 2010

EXTERIORES

LOBOTÔMICO - No lugar do cérebro, ideias repetidas, jargões e idiotices para uma plástica felicidade. Texto de novembro de 2002. | imagem: Paraíso Niilista
VALDÍVIA COSTA

Se fôssemos feitos de dentro para fora talvez não precisássemos nos enganar com falsas modéstias ou elogios materialistas. Talvez assim sentíssemos que o que mais nos une (ou nos separa) são nossas intenções. E como elas são imperceptíveis! É difícil medir o tamanho de um sentimento. Ou enxergá-lo.

É complicado saber onde começa uma vontade e onde termina a desconfiança. Por isso, nós substituímos as relações fluentemente naturais pelas compensações. Respeitar a si, aos outros e, consequentemente, ao habitat seria fácil se não existisse a ilusão humana. O nosso próprio meio é povoado por pretenções capitais que nos tornam impermeáveis ao sentir.

São as malícias que nos projetam nos status sociais. Estereótipos: quem supera-os? Capa de esnobismo, sapatos de altura egocêntrica e adornos fantasiosos compõem a rala futilidade. Pensar é enfadonho e poucos exercitam os neurônios. Amar é tolice, já que afagos são barganhados por emprego e sexo encomenda-se a qualquer preço.

O homem, carente de tantas coisas, modifica-se quando encaixado dentro desse padrão de vida supérflua. Os corpos moldados de acordo como o mito que as mídias talham, acorrentando o senso crítico de quem assiste a TV, são perseguidos por ricos ou pobres. Os televisivos seres ganharam mais músculos e menos massa encefálica.

Se bem que a única massa interessante a quem desenvolve uma tecnologia zumbizante é a do público. Pela falta de conteúdo coerente ou pela repetitividade de programas, a TV se transformará. Mas um receio reina nesta mídia, a de ser substituída. Através da televisão, adolescentes polemizaram: será que a internet substituirá o livro? Para ela, que teme ficar obsoleta com essa intelectualidade cibernética, o importante é a edição. Montar a vida é fácil, basta roteiro. 

São fugazes esses atalhos sistematizados que desviam do verdadeiro conhecimento. Tudo está embutido num único sentido, o de manter oligopólios comunicacionais. E o bom é ser comum. Seguir a moda é ser igual e a diferença está somente na forma high tech de dizer “oi”.

Atitudes positivas podem ser invertidas com essas distorções teleguiadas. Como as apresentadoras que só trocam de roupa e mantém a mesma caricatura, todos só pensam nos cinco minutos de fama. Pouco tempo passará até encontrarmos o novo de novo. Com uma cara de cansado, mas tatuado, com piercing’s e sotaqueando vantagens. Uma cópia que atravessa a Avenida Brasil num domingo.  

2 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Então como poderíamos reconhecer um vulcão de perversidade numa cara de pacatez, ou um diabo, numa cara de querubim?
Daí a desconfiança.
Colocarmo-nos em bicos dos pés, para sermos o que não parecemos e, depois ser motivo de gozação interior.
O ser humano "come" o que está na moda e a televisão molda os comportamentos dos mais amolecidos.
Um dia ficaremos sem jornais e depois livros.
A Internet vai devorar tudo o que for palpável.
Só o etéreo vingará, mesmo que seja uma fraude ...

Cumprimentos

Rosaliriss Alencar disse...

Uma cópia que atravessa as ruas do Mundo, todos formatados desde o nascimento, sair dessa formatação é prova de autenticidade, é honestidade consigo mesmo.
Cada vez mais tenho visto esses modelos de gente. Seria gente? Ou bonecos do sistema?
Todos filhos da natureza, trabalhasse a massa, encefálica, abriria um leque de vida e de luz!
Hope!!!
Esperança!!!
Ainda tenho...