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28 de junho de 2009

*opinião - uns desistem, outros lutam


PREOCUPAÇÃO - estudantes de Jornalismo (PB) pensativos no curso que oferece diploma não exigido no mercado de trabalho | imagem: Val da Costa

por Valdívia Costa

DEPOIS DE UMA VIROSE VIOLENTA QUE INTERNOU O COMPUTADOR POR UMA SEMANA, continuamos vivos e intensos. Vamos a mais uma parte da novela do diploma de jornalista que deve acabar com um capítulo revelador, talvez positivo pra classe, depois da cacetada que levamos com a retirada da obrigatoriedade do diploma pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em Campina Grande (PB), os jornalistas e estudantes de Comunicação Social fizeram manifestos e formaram o Fórum de Luta Contra a Desregulamentação das Profissões do Estado da Paraiba.

Amanhã, dia 29, uma comissão desse Fórum fará uma reunião no Conselho Regional Contabilidade em João Pessoa, a partir das 19h00, pra traçar um cronograma de lutas contra a medida do Supremo. O curioso é que, até nesses momentos definidores dos rumos da nossa profissão, os colegas paraibanos são apáticos, como se sofressem de uma anemia profunda de conhecimento de causa. Os resitentes que desejarem ir à reunião, um micro-ônibus sairá, às 17h00, da Associação Campinense de Imprensa (ACI).


MANIFESTOS - Os interessados devem ligar para o jornalista Fred Oliveira (8878.4819) pra se inscrever nessa viagem. A organização da reunião avisa que todos voltarão pra casa logo após o encerramento do encontro. | imagem do encontro na ACI: Marley Lucena

Não falei com a coordenação do curso em Campina, mas os estudantes viram colegas indignados fechando a matrícula e falando em fazer outro curso. Vai ser difícil mantê-los numa faculdade que forma, mas não forma. Que emite diploma, mas não oferece (nunca deu, na verdade) garantia no mercado de trabalho. Enfim, a parte que será mais atingida com esta medida do Supremo é a classe estudantil.

Jornalistas de batente, assessores e outros profissionais que já atuam na área farão a resistência. Por todo o País seguem os movimentos, agora bem próximos ao Senado, de onde pode partir uma outra lei exigindo a obrigatoriedade do diploma. Como todos já sabem, os políticos que são contrários a decisão do STF não querem bater de frente com os juristas federais. Aí ficamos a esperar que essa politicagem acabe.

Nesse vai e vem, eu estou mais calma, como a maior parte da classe. Visualizei os horizontes possíveis de atuação dentro da Comunicação, como as carreiras acadêmica, literária e até de empreendedora. Na verdade o diploma nunca foi impecilho pra eu atuar nessa profissão, dada as minhas habilidades de escrita, imagem e interlocução. Mas ainda defendo o diploma. Mesmo as escolas sendo capengas, sem laboratórios intensificados dos pilares da profissão, mesmo as teorias sendo mal aplicadas.

Como diz um provérbio chinês, "ser pedra é fácil, o difícil é ser vidraça". Por isso não apedrejo aquilo que desconheço, me escondo debaixo das leituras de mundo e não publicizo meu telhado de vidro a todos. Mas o interessante mesmo é observar como somos amados e odiados pela sociedade. A ponto dessa dicotomia sentimental coletiva abalar a alguns jornalistas em sua verdadeira noção de profissionalismo.

Não estamos numa guerra, onde haverá vencedores e vencidos. Mas sim numa demonstração irradiativa de abuso de poder por parte dos ministro federais, encabeçados por Gilmar Mendes, que destituíram uma profissão de mais de 40 anos. Os poderes brasileiros não se confabulam mais em decisoes importantes para a sociedade. E a pessoa que tem mais direito de destituir, o cidadão comum, pensa que não pode nada. É esse o Brasil em que vivo e no qual trabalho.

18 de junho de 2009

*opinião - "E agora José", sem diploma???


ESQUEÇA - ele que viveu entre nossos principais documentos, o diploma de jornalista, pode ser esquecido, rasgado ou emoldurado pras gerações posteriores | imagem: Desenhos para crianças

por Valdívia Costa

Foi trepidante para a classe jornalística brasileira. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de invalidar o diploma de jornalista, deixou-nos com aquela música de Chico Buarque rondando nossas mentes: "e agora José"? Acreditem, muitos dos nossos colegas souberam do lamentável por mim e caíram no choro. Outros aproveitaram o momento para gargalhar (tem jornalista que é masoquista, vocês sabem), como vingança por nunca ter conseguido atuar num jornal. Eu, confesso, fiquei numa espécie de estado de escuta, catando, remoendo, pensando, comparando... e até o momento ninguém ainda sabe como se darão as mudanças.

A notícia foi pior para os estudantes desta profissão que tende a se modificar nos próximos anos. Sem o objetivo do curso, o diploma, eles estão em povorosa e à deriva. Amanheceram o dia de ontem, 18, fervilhando em uma dessas faculdades, no bairro do São José, em Campina Grande (PB). Muitos já estavam com listas de outros cursos escolhendo carreiras menos conflituosas. Outros ficaram como eu, em estado de alfa, transcedental e inabalável, mas com receios e diversas dúvidas.

Já li todo tipo de artigo que fala dessa decisão, andei pelos sites mas pops da net, pelos blogs, e escolas de Comunicação. Entrei até no site da Escola de Comunicação (Eca) da Universidade de São Paulo (Usp) pra ver se tinha alguma nota, algum parecer, visto que esta é a melhor faculdade de Comunicação do País, segundo os especialistas. Nada. A Eca está mais calada do que defunto. Deve ser para simbolizar o enterro do diploma.

Não tem nada ainda sobre como vamos ficar, se teremos 'regalias' nas seleções públicas (e privadas também) e qual a postura das coordenações dos cursos de Comunicação deveria tomar em relação aos milhares de estudantes que não terão mais o que fazer num curso que não oferece mais diploma.

Fora das universidades, o campo de trabalho está com os nervos elétricos também. Colegas que têm assessorias e empregos nos jornais estão mais apressados, com o olhar perdido, pensando, eu creio, em como mudar depois de anos de batente. Tarefa difícil, mas não impossível. Não tenho certeza, mas acredito que nunca houve isso no Brasil, da Justiça cassar um diploma de um profissional. Talvez por isso esteja todo mundo correndo, assustado, sem saber o que fazer.

Nem o Supremo se preparou para esta mudança. O administrativo do STF ainda não decidiu se irá exigir o diploma para contratar 14 jornalistas num concurso público. Até ontem, 18, o edital exigia o diploma para um salário de R$ 6.651,52. As informações foram divulgadas na Folha de S.Paulo.

A Comissão de Concursos da Corte estuda a necessidade de modificar os pré-requisitos de ocupação das vagas na Secretaria de Comunicação do órgão. Segundo o portal Terra, o próprio presidente do STF, Gilmar Mendes, não esclareceu o caso. "Não está excluída a possibilidade de que seja exigido diploma de jornalista ou de outra profissão. O STF tem que examinar", disse.

Diante desse Inferno de Danti, resolvi estimular o inusitado, o empreendedorismo. Talvez seja o momento de pensarmos em novas empresas de comunicação. Uma coisa a gente sabe, muitas escolas técnicas de Comunicação, com cursos rápidos como os de rádio (dois dias ou duas horas de duração) vão surgir. A medida de invalidar o diploma de jornalistas foi enviada ao Supremo pelos empresários de comunicação, não esqueçam. Eles têm o maior interesse nisso tudo que está acontecendo. E vão investir em padrões novos de empresas, de jornalismo etc. Quem tiver grana, é melhor entrar nesse mercado e rápido, porque os que têm mais com certeza vão dominar tudo.

Incapazes - Agora chegou a nossa vez de ensinar o que aprendemos. E o que aprendemos, se o Supremo taxou de desnecessários os nossos estudos? Eis o ápice da questão. Muitos não aprenderam nada, é verdade. A notar pelos jornais impressos (franzinos) de todo o Brasil e a forma como se pensa o jornalismo hoje em dia, mais atrelado ao comercial do que a qualquer padrão jornalístico. Tem jornal que encarrega o setor comercial de escolher as matérias de Cultura, imaginem.

Olha aí a nossa parcela de culpa no processo. Mas não vamos nos desesperar por causa desse "detalhe". Afinal, não é só jornalista que executa a profissão de maneira "duvidosa" ou que que faz cocô na hora de trabalhar. Os juizes também têm suas falcatruas... e como! O Gilmar Mendes mesmo nunca conseguiu sair bem na fita da mídia. Talvez agora consiga, depois desse ataque violento contra a imprensa, orquestrado por ele, quem sabe o presdiente não consiga um prêmio pela única ação do ano ou algo assim?

Sim, nós sabemos que ministros do Supremo têm regalias demais, conseguidas com nosso suado trabalho, através dos impostos que pingam nas contas do governo Federal. E não são só eles, os políticos também. Como são ricos e circulam nas mesmas rodas sociais, os empresários dos meios também usufruem de uma festinha regada a champanhe aqui, uma viagenzinha à Europa ali... enfim, estão todos no mesmo barco (de última geração e serviços cinco estrelas).

E sabemos disso porquê? Por causa da imprensa. Os profissionais de jornalismo, bons ou ruins, descobriram isso pra gente. Há mais de dez anos que estamos assistindo a decadência do Supremo e de outras instituições governamentais com a ajuda do jornalismo brasileiro. E agora, com os 'novos jornalistas', isso vai ser possível? Vamos viver num mar de paz e quietude. O medo estará nas mentes massacradas dos colegas perseguidos por este golpe contra uma profissão regularizada a mais de 40 anos.

15 de junho de 2009

*música - Balanço na cultura popular de raiz


ITAÚ CULTURAL - paraibanos e carioca gravaram juntos recentemente

Uma “rede” de discussões e apresentações culturais farão parte dos festejos juninos em Campina Grande. A partir de hoje, 17, até a próxima sexta-feira, 19, o projeto Roda Rede, realizará o “Arraial Vila Nova”, idealizado pelo Centro Universitário de Cultura e Arte de Campina Grande (CUCA-CG) em parceria com o Centro Acadêmico Vladimir Herzog. Hoje, já houve a palestra “Mercado Cultural: Cultura Popular em Evidência”, com o poeta, ativista cultural e ex-diretor da FUNJOPE, Lau Siqueira, no Centro de Educação (CEDUC I) Ainda dá tempo pegar as apresentações culturais da Faculdade de Comunicação Social (UEPB) depois de amanhã.

Na sexta-feira, na Faculdade de Comunicação Social, no bairro São José, a partir das 21h00, os grupos começarão as apresentações. O Boi de Rei Estrela do Norte (Mestre Pirralhinho), Caiana dos Crioulos, Benedito do Rojão e Cabruêra. Essa será a sequência da noite que promete reverenciar as tradições folclóricas.

A ideia do projeto Roda Rede é fomentar o debate sobre as tradições culturais em meio a sociedade, além de observar uma troca de expressões culturais de momentos diferentes da história. Numa perspectiva de promover o encontro entre gerações, principalmente dentro das universidades, o Roda Rede surgiu de uma parceria com o Instituto CUCA da UNE, o Ministério da Cultura do Governo Federal e o CUCA-CG.

Numa sequência de atividades, o acesso à cultura popular vai sendo garantido. “Demos início ao projeto porque achamos que seja uma forma de trazer a arte popular para o espaço do saber erudito, que é a universidade. Temos por objetivo fomentar o debate entre o popular e o acadêmico. O projeto é uma forma de democratização da cultura popular”, disse o coordenador de cultura do CUCA-CG, Ítalo Jones.

Entre os meses de junho a agosto, aconteçerão oficinas, debates, palestras, apresentações culturais, entre outras manifestações. O Roda Rede dá um “viva a cultura popular”. É nessa perspectiva, de louvor as manifestações culturais, que o CUCA-CG começa sua temporada.

Mistura - A mistura da música e das danças populares, cheio de personagens folclóricos do cotidiano nordestino, faz parte do irreverente espetáculo do Boi de Rei Estrela do Norte, com o Mestre Pirralhinho. O grupo quilombola, Caiana dos Crioulos, mostra sua cultura e história, com seus instrumentos, sua música e o coco-de-roda, dançado pelas cirandeiras.

A contemporaneidade da música fica por conta de Benedito do Rojão e Cabruêra. Benedito, contemporâneo de Jackson do Pandeiro, compõe, canta e toca pandeiro, embala o coco, marca o samba e enfatiza o rojão há quase 50 anos, além de criar xotes e baiões. O folclore nordestino bebendo de outras fontes atuais para mostrar sua força na word music. Esse é o compasso da banda Cabruêra.

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colaboração Leidiane Alves
leid.alves@hotmail.com

*opinião - "A emepebê precisa se reeditar, sempre"


START - primeiro disco que caracterizou o início da bossa nova

*por Toninho Borbo
Edição: Valdívia Costa


A história da música popular brasileira passou e passa por transformações significativas e decisivas para sua existência enquanto arte. Analisaremos (sem muita técnica, pois sou um músico popular e não erudito), de forma geral, quatro expressões da emepebê da década de 1950 pra os anos 2000. Veremos como, só de lembrar, o Brasil promoveu reconfigurações nas linguagens sonoras durante esse período. Para começar, qual foi a qualidade e a característica da mudança dentro da música popular? A batida de João Gilberto.

Quando Caetano chegou em Santo Amaro (SP)¹ veio um amigo dele dizer que tinha um cara cantando e tocando totalmente desafinado. Ou seja, essa novidade de João Gilberto trazer a batida do violão e a forma de cantar diferentes soava tão estranho para a época que o povo a taxou de “música desafinada”. Isso porque havia a primeira turma do violão, do Noel Rosa a Ataulfo Alves, que já se espelhavam nos sambistas dos anos 30 e 40. Nos anos 50, João Gilberto apresenta essa nova perspectiva.

Da mesma forma como ele conseguiu reconfigurar a música brasileira, Jackson do Pandeiro, três anos depois do surgimento da bossa nova (1958), também contribuiu para a música quando chegou com algo parecido, o ritmo sincopado do pandeiro e as tradicionais brincadeiras rítmicas com rima e palavras.

Pelo Aurélio, em sua última definição, a síncope é o “som articulado sobre um tempo fraco ou parte fraca de um tempo, prolongado ou prolongada sobre o tempo forte ou a parte forte do tempo seguinte”. Isso quer dizer, na linguagem mais leiga, que é a parte da música na qual se brinca com o tempo. O canto dos versos desloca-se do tempo em que a música é composta.

As duas técnicas, de João e Jackson, fazem basicamente a mesma coisa, o que para alguns não-especialistas soa como uma desafinação no cantar e no tocar, por causa desse descompasso no tempo musical. Eles dois arrumaram apenas uma forma de melhorar uma coisa que já vinha sendo feita. O coco e o maracatu, por exemplo, vêm da música negra. A síncope também, com os ritmos de quebrar o tempo. A matriz da música negra é muito forte no ritmo.

O jazz também é uma influência da música negra, que ainda desconstrói o compasso e que é “desafinado”, principalmente para quem é acostumado a ouvir somente um tipo de música. Esse tipo de ouvinte vai achar o João Gilberto, o Jackson do Pandeiro e o Miles Davis, no mínimo, excêntricos.

Chamaram João Gilberto de desafinado porque, ao mesmo tempo, ele se apresentava como um cara da música popular brasileira, só que cantando de forma diferente do que a emepebê estava sendo apresentada. Para o amigo de Caetano dizer isso é como se o sujeito criasse uma comparação de todo o passado auditivo que ele teve com a coisa nova que surgia. Ele, imbuído da própria verdade, de saber o que era música de boa qualidade, disse que tinha um cara cantando e tocando desafinado. Isso não foi dito com uma carga de negatividade, me parece.

Até porque João Gilberto deu outra perspectiva à música brasileira, que foi a iniciativa de trabalhar com os acordes dissonantes, o que o jazz já fazia. A complexidade jazzística era notada principalmente por causa dessa forma de compor música. Tom Jobim, o grande maestro, trabalhava com acordes dissonantes. Isso remete à música Saudosismo, do Caetano “... os acordes dissonantes que nós dois tentamos evitar”, se referindo a Gilberto Gil, no caso. Por esse desenvolver da história percebemos que os músicos daquela época eram iluminados pelo “desafinamento” de João Gilberto.

Nem João nem Jackson pensaram em revolucionar o cenário musical do País. Os dois acrescentaram à música um estilo diferente, mas nada pensado. Mesmo assim, João, sem querer, fez surgir o movimento da bossa nova (1950-60). Na atualidade, um grupo que inovou nesse mesmo sentido, pelo ritmo e melodia, foi Chico Science e Nação Zumbi. Neste caso, a música foi utilizada como instrumento ideológico para criar uma forma de pensar e se comportar, que foi rotulada pela imprensa de Manguebit (1990).

No Brasil, nós só tínhamos visto isso com a Tropicália (1970). Foi um movimento político também porque vivíamos uma ditadura no período, então foi inevitável um posicionamento de contra-cultura, o “proibido proibir”. A música brasileira tinha diversas sonoridades, mas não vivia a antropofagia de trazer o que estava sendo ouvido fora do Brasil e mastigar pra dar outro sentido. Unindo as matrizes rítmicas e melódicas extraídas da expressão popular - como o coco, a ciranda, o baião -, aos ritmos universais - como rock in roll -, a Tropicália era assim.

A diferença – O que difere o Tropicalismo e o Manguebit de João Gilberto e Jackson do Pandeiro é justamente a intenção. Jackson tem nele o cantar e o gesticular ritmicamente luminoso, pois tem a luz considerada do artista. Como João também tem. Eles não trouxeram contribuições políticas e ideológicas pra música, mas revolucionaram-na. Já os movimentos trouxeram, além da música, essas características e a estética visual atrelada. O ressignificado foi completo.


Chico Science falou do mangue, do homem na condição de caranguejo. A todo o momento ele canta em metáfora (“da lama ao caos”), transformando o homem em caranguejo. O urubu e o gabiru também têm lugar como classes sociais

Chico não fala da realidade, como Lobão (“eu sou o tenebroso, o irmão sem irmão, o abandono...”), que é atual. Chico é contemporâneo, só que metaforizando. São linguagens modernas e distintas.

Atualmente, a música independente tenta fazer um movimento como estes, marcantes e passados. Não aquele de mãos dadas em prol de um estandarte. Mas de cunho ideológico e econômico, visto que, os artistas inseridos nesse mercado têm uma forma específica de trabalhar e de ser reconhecido como profissional da música. A arte independente trafega ao contrário da indústria da música, sem a “fórmula” perfeita de se compor para o consumo.

O artista popular, quando vai compor, ele não pensa em conceitos. Ele é livre das técnicas e refém da criatividade. Hoje, a música popular tem representações desde o cara que toca pífano ao que toca um violoncelo inserido numa proposta eletrônica. Essa pluralidade nos remete ao passado, quando esse casamento já foi mais glorioso. João Gilberto tocava com acordes dissonantes e pinta de músico erudito. E o povão consumia.

Mas atualmente, as pessoas não consomem mais nada desse tipo. As pessoas se identificam com artistas ditos populares que adotaram um tipo de sonoridade simples de se construir, até bem repetitiva, visto as décadas que se passaram e nada mudou, como o axé music. Com o gosto musical particular e duvidoso, as massas são induzidas a escolher esses trabalhos extremamente comerciais como sendo os “melhores” pelas mídias. As pessoas não estão mais sensíveis às transformações possíveis que a arte pode realizar na música.

Esse tipo de postura pacífica e estatizante do povo coloca em cheque a arte. O artista é muito importante para o grau de percepção da vida. A vida tem várias profundidades. A cada catarse que se tem, a cada elevação do espírito, analisando pela filosofia, a arte dá a possibilidade de brincar com a vida. Ela subverte a lógica (chata) da racionalidade. Sem saber o que é arte e o que é a vida, o ser humano segue sem brilho algum, sem a menor possibilidade de se perpetuar.

Notas:
1. relembrando parte do videodocumentário do show Circuladô de Fulô (1992).

*músico influenciado por João Gilberto.

13 de junho de 2009

*audiovisual - Taperoá (PB) em videodocumentário


Estudantes de jornalismo da UEPB gravam documentário sobre Taperoá, no Cariri

Não é a toa que o Cariri paraibano continua se destacando no audiovisual. Além de ter a melhor luz para filmagens do Brasil (Cabaceiras - Ruliúde nordestina), o território vem sendo muito procurado por alunos das artes visuais ou não que realizam produções independentes. Taperoá, por exemplo, será palco da história de título provisório “Taperoá, Terra do Imaginário”.

Estão filmando com tudo lá! O trabalho é acadêmico, da disciplina Jornalismo Especializado, do curso de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Para provar a valorização do cenário natural local na produção, Taperoá venceu as cidades pernambucanas Gravatá e Garanhuns, sendo a escolhida pelos alunos. O vídeo será apresentado em Campina Grande entre os dias 18 e 20 de junho, no teatro Rosil Cavalcanti, durante o 6º seminário que analisa os festejos juninos na Folkcomunicação. Em Taperoá, o doc será exibido, mas ainda sem previsão de data.

As filmagens devem continuar até pouco antes do seminário. O doc foi feito com a participação da maior parte dos estudantes de Jornalismo. Eles receberam apoio municipal como outras produções cinematográficas realizadas na cidade, entre elas, A Pedra do Reino e O Auto da Compadecida, ambas de Ariano Suassuna, que por acaso é filho de Taperoá.

Causos - O primeiro a ser entrevistado durante as gravações do doc foi o maestro da filarmônica municipal, José Fernandes, filho de Chico José, o Chicó do filme O Auto da Compadecida, baseado na obra do escritor taperoaense Ariano Suassuna.

Outra pessoa entrevistada foi Chico Queiroz, como é popularmente conhecido, que se emocionou ao falar sobre o que sentiu quando amigos fizeram uma música carnavalesca em sua homenagem. Ele falou também sobre a mania que os seus clientes têm de visitarem seu bar quando termina uma festa. O comerciante chegou a correr atrás de clientes com pedaço de pau pra cobrar o que era consumido e não pago, devido ao tumulto na entrada desses farristas de fim de noite.

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colaboração: ASSESSORIA DE IMPRENSA DA PREFEITURA DE TAPEROÁ
Jandro Gomes - DRT 3808 - gestaodenoticia@yahoo.com.br
Gestão de Notícia e Focando na Notícia

12 de junho de 2009

*namorados - TEM OPÇÃO PRA TODOS


imagem: Val da Costa

MUITO AMOR PRA QUEM É DE AMAR.

APROVEITE O 'DIA DOS NAMORADOS' COM O POVO PARAIBANO. VOU FAZER UM 'MERCHAN' PRA DOIS EVENTOS QUE EU GOSTARIA DE ESTAR HOJE, NOS DOIS, AO MESMO TEMPO. NÃO COSTUMO INFORMAR. MAS TEM COISA QUE VALE A PENA.


imagem: divulgação
NA PRIMEIRA OPÇÃO, EU IA OUVIR UMA SONZERA DA MASSA NO CANDEEIRO ENCANTADO, EM JOÃO PESSOA. CABRUÊRA e ESCURINHO vão se apresentar no local, a partir das 22h00, que fica no Centro Histórico da Capital, ao lado do Hotel Globo. Os ingressos custam R$ 5,00 até meia-noite, depois R$ 8,00. Mais informações pelos telefones 83-8842-8614 / 8820-5707.


Fauna e flora despontam nessa época do ano no Sítio Sabiá | imagem: Val da Costa

JÁ NO SÍTIO SABIÁ, EM ALAGOA NOVA, BREJO PARAIBANO, EU IA DANÇAR ATÉ ME ACABAR NO 'FORRÓ DOS NAMORADOS' HOJE À NOITE. INFORMAÇÕES COM KAKÁ: 83-8870-0231.

*campanha - Pelos blogs, contra o Estadão


REBATE - campanha pra acabar com a suposta intenção do jornal bombardear os blogs | imagem: divulgação

Rola uma campanha nos blogs que observam e criticam as grandes mídias contra o jornal O Estadão. Primeiro, o jornal atacou os blogs numa campanha televisiva, que já foi removida, ninguém sabe se pra evitar uma guerra entre mídias tradicional e virtual ou se por alguma causa judicial. Mas restou uma parte da campanha, um cartaz que anda circulando na net como prova do desacato.


BATE - Paça publicitária que o Estadão distribuiu em suas edições nos últimos dias | imagem: divulgação

Esta peça publicitária já causou reações na blogosfera. Gabriel Tonobohn escreveu sobre o papel particular de cada mídia. "Jornais e revistas online têm um objetivo, que é de apenas informar. Blogs, além disso, dão opinião e possibilitam uma discussão dentro do seu espaço, junto ao leitor. É por isso que muito desses jornais também possuem blogs. Inclusive o próprio Estadão".

E a blogueira Luciana Monte complementou sobre o estilo e a liberdade de criação neste espaço virtual. "Em regra, o blogueiro escreve sobre o que tem vontade. Blogueiros não obedecem a um editor-chefe, não têm pauta pré-determinada e seus artigos não sofrem sucessivos cortes para se ajustarem à linha editorial do veículo que paga o seu salário".

Encontrei essa discussão latente no blog Pensar Enlouquece, que me revelou um mundo de novidades hoje. Aproveitem as discussões sobre novas mídias, blogs e muito mais no espaço. E reflitam sobre a qualidade na informação. Tanto faz ser jornalista ou não, blogueiro ou não, precisamos saber se o que consumimos na leitura virtual tem procedência. Isso só a atividade diária de leitura vai dar ao internauta. Afinal, tem tanta mentira bem maquiada num grande jornal...

7 de junho de 2009

*opinião - "blogs de jornalistas não funcionam" - JULIO DAIO


IROU! - Julio Daio Borges, do Digestivo Cultural, não gosta de jornalista oportunista, que vira blogueiro por diversos motivos, menos por ter jeito ou vontade de fazer a coisa

Atentem para este texto. Ele recebeu mais de 12900 acessos e obteve 28 comentários no Digestivo Cultural. Serve para nós, jornalistas, refletirmos sobre esta condição transitória de ser posto na berlinda: qualquer um pode executar, e muito bem, em determinadas situações, a atividade jornalística. Julio Daio Borges*, em setembro de 2006, escreveu de São Paulo para o site. O cara estava com uma fúria que me senti culpada por ser jornalista e ter um blog!

Mas logo descobri, ao ler o texto, que a crítica é direcionada aos jornalistas que entram na blogosfera como quem está experimentando uma roupa. "Se cair bem, eu compro, se não, jogo na bandeja de volta". Isso aqui não é brincadeira. Dá trabalho manter relacionamentos virtuais. Tem que se dá o devido respeito e função a coisa, se não, vira um diário velho que a pessoa só escreve de ano em ano. Blog desatualizado não está com nada. O negócio é colocar a mão na massa por alguma informação massa também, pra o internauta ficar, ler o que você está escrevendo, e não somente visitar o seu blog de ano em ano.

VEJAM ---------------------------------------------

De repente, a imprensa toda descobriu os blogs... Baixaram um decreto-lei em cada redação e, impreterivelmente até o final do ano, todo jornalista tem de colocar seu blog no ar. Todo. “Mas, pera lá, eu vou blogar sobre o quê?” “Ah, sei lá, não importa: blogue! Inscreva-se no Orkut, visite os fotologs, abra uma conta no Gmail, compre até um iPod se for necessário... mas blogue!” “Como assim ‘blogue’? Eu preciso saber por quê...” “Ora, porque toda a concorrência está blogando – que-nem-lou-ca! Ah, sei lá, por quê... Blogue!”.

E lá foram os jornalistas blogar... Mas jornalista que é jornalista não entende nada de internet, tem preguiça: fugiu dela enquanto pôde, torceu para que a Bolha mandasse a tal “nova economia” pro espaço... Mas, mesmo com a Bolha que enterrou a euforia das pontocom em 2000, a imprensa jamais recuperou seu antigo posto... Outra bolha se formou e os jornalistas têm agora de, inescapavelmente, blogar!

Mas não sejamos injustos. Alguns jornalistas entenderam pra que serve o blog, isso se já não internetavam antes... Então esta crítica não vale para todos, absolutamente todos: vale para uma grande maioria que está blogando por obrigação, quase se arrastando, já que passou os últimos anos menosprezando a internet e, agora – muito a contragosto –, tem de fazer parte... (Depois não entende por que seu blog não funciona...)


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Júlio continua sua opinião afirmando (e justificando) os seguintes tópicos:
>Jornalistas não lêem blogs;
>Jornalistas não sabem lincar;
>Jornalistas não estão acostumados a ter leitores;
>Jornalistas não estão acostumados a ter resposta;
>Jornalistas são interesseiros e, não, desprendidos.

LEIA O TEXTO TODO AQUI.
Leia também "Blogs de jornalistas reloaded".

*Julio Daio, 35, foi graduado em Engenharia de Computação, pela Escola Politécnica da USP, em dezembro de 1997. Foi "redação nota dez" da Fuvest, em 1992. Escreve diariamente. Trabalhou de 1996 a 1997 na então incipiente Monitor (MGDK), como estagiário na área de suporte. Em 1998, no Banco Itaú, produzindo sistemas para a mesa de operações. E, de 1998 a 2001, no Banco Real, na Controladoria do Escritório Regional da América Latina (ROLAC), do então ABN AMRO Bank. Ocupando funções jornalísticas, o engenheiro da computação elabora a redação de Digestivos e mensalmente colunas e entrevistas (perguntas). Ele também supervisiona os colunistas, ensaios e comentários. Elabora os releases e editoriais. Julio também faz a concepção das matérias especiais e a postagem diária no Blog. Ele veicula os anúncios e programa o site. E ainda faz a administração da JDB Editora e Participações LTDA. (empresa que abriga o Digestivo, desde 2003).

6 de junho de 2009

*comunicação - Jornalismo (cultural) multimídia


EMPREENDEDOR - Ricardo começou com um blog, ampliou a proposta e ontem lançou mais uma opção de jornalismo multimídia | imagem: divulgação

Um projeto jornalístico multimídia. Assim começou o Diversitá, organizado pelo jornalista Ricardo Oliveira. Ele quer valorizar cultura e opinião na era da informação, com um conceito que mescla o significado italiano "diferente" com a conhecida "diversidade" do portuquês. O site quer promover o encontro de uma mídia centenária (o rádio) com as mais recentes possíveis.

Um programa de rádio semanal na Tabajara FM (105.5), de João Pessoa (PB), junto a um site atualizado diariamente com cultura e informes global e local. O Diversitá tem transmissão todas as sextas-feiras, das 18h00 às 19h00, com reprise às 20h00 na Tabajara AM (1.110). A apresentação fica por conta de Ricardo Oliveira, formado em Comunicação Social e mestrando em Culturas Midiáticas Audiovisuais na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Ele tinha o blog Diversitá e o transformou num projeto mais amplo.

A síntese dessa mescla entre rádio e internet mostra que as mídias tradicionais não morrem, precisam apenas ser reconfiguradas e transformadas para o presente, convergindo com as nova mídias. A entrevista de lançamento fala do mercado musical e a influência das novas mídias, com o músico paraibano Esmeraldo, do Chico Correa & Electronico Band, e uma pesquisadora da UFPB.

SERVIÇO
Produção: Ana Carolina Silveira, Pedro Macedo e Vanessa Souza
Design: Alê Gustavo (SP)
Informações: (83) 8878-2730 / ricardo@diversita.com.br
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colaboração: Érica Chianca

4 de junho de 2009

*dança - Admilson Maia em oficina


COMEÇO - os alunos alongam pra começar os exercícios | imagem: Val da Costa

texto e fotos: Valdívia Costa

Trocar de posição milhares de vezes, deitar, levantar, rolar, subir, descer, pular, se encolher, se jogar, rodar, virar de ponta cabeça, e suar até o esgotamento. Esses são apenas alguns dos exercícios aparentemente cansativos do método da exaustão, utilizado pelo bailarino, coreógrafo e arte-educador Admilson Maia na oficina de preparação corporal para atores, com duração de um mês, no Centro de Cultura e Arte, antigo prédio do Museu de Arte Assis Chateaubriand (Maac). Cerca de 15 alunos montarão um ensaio aberto com uma coreografia própria no final do curso, prevista para este mês.

Há muitos anos atuante na dança, o coreógrafo voltou a aparecer no cenário cultural paraibano. Admilson realizou seu último espetáculo em 2007, chamado Fhomi, um solo de dança contemporânea produzido pela Mah Cia. de Dança. O espetáculo repele "todas as postulações teóricas que insistem em recortar da arte a vida", como descreve o release.

Admilson contou outra grande novidade: voltar à parceria com o colega Romero Mota, que atualmente é DJ também. Romero fundou a Mah Cia. com Admilson e os dois andam confabulando projetos de montarem ouros espetáculos juntos. Essa dupla representou competentemente o que houve de moderno da década de 1990 na dança paraibana. Mostraram projetos desenvolvidos em Campina por toda a Europa. Esse retorno da união entre duas cabeças pensantes da dança contemporânea é mais do que animador, é importante para a cidade.

Já a oficina realizada por Admilson está na segunda semana de atividades e sem nenhuma desistência dos alunos, apesar de estarem trabalhando o corpo duas vezes por semana com o método. Admilson já trabalhou com diretores como Giselle Tápias (RJ), Márika Gidale e Décio Otero (Balé Stagium de São Paulo), Moncho Rodrigues (Espanha), Phillip Sairre (Suíça), entre outros. A realização da oficina é da coordenadoria de Arte e Cultura da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).







O coreógrafo garante, o método da exaustão aguça as sensibilidades e faz emergir as diversas sensações da qual o ator ou bailarino necessita para a criação e condução das personagens


Exaustão - A técnica é utilizada pelo encenador espanhol Moncho Rodrigues, a partir das teorias do Work in Progress, de Renato Cohen, e a Teoria das Inteligências Múltiplas - que é a inteligência da corporalidade cinestésica - de Howard Garden, além do método da 'subtração', de Jerzy Grotowski, entre outros. O trabalho usa o treinamento que rompe bloqueios e condicionamentos. Os elementos dos exercícios são os mesmos para todos, mas a investigação é individual, dependendo da corporeidade e da personalidade de cada um.

Mah Cia. - Um dos espetáculos mais marcantes e comentados apresentado pela Mah Cia., quando era formado pela dupla Admilson e Romero foi 'Desejos', no qual o amor é mostrado em todas as suas formas, inclusive as que existem à margem do aceitável socialmente. A dança fez entender a complexidade que todo relacionamento desencadeia.

A história - A Mah Cia. de Dança surgiu em 1995, criada pelos bailarinos Romero Motta, Almir Almeida e Admilson Maia. Neste mesmo ano, o grupo participou da IV Mostra de Teatro e Dança da Paraíba, na qual ganhou os prêmios de melhor espetáculo, iluminação, trilha sonora, bailarino (Romero Motta), direção (Romero, Almir e Admilson) e bailarino revelação (Admilson Maia). Tudo isso somente com o espetáculo 'Desejos'.

Em 1998, na VI Mostra Estadual de Teatro e Dança, com o espetáculo 'Alvará', recebeu os prêmios de melhor bailarino (Romero Motta), trilha sonora, cenografia, iluminação, direção, espetáculo de dança e coreografia. O mesmo espetáculo, no ano seguinte, obteve no IV Fenart os prêmios de melhor bailarino (Admilson Maia), iluminação, espetáculo e cenografia. Além de temporadas em Campina, a Mah Cia. participou, entre outros, do Festinart (Natal-RN), Festival de Dança do Recife (PE), Mostra de Artes Cênicas, a convite da Rede Brasil para o Via Bahia, Projeto Circulando a Cultura pelo Brasil, SESC Ipiranga (SP) e Mundão (a convite do SESC Santo Amaro-SP).

contato: mahciadanca@gmail.com

1 de junho de 2009

*opinião - Depois da queda - Renato Janine


QUEDA - imagem da Casa da Cultura

Renato Janine Ribeiro*

Durante quase cinco anos ocupei um cargo na Capes, órgão do Ministério da Educação, no qual eu dirigia - mas não decidia, o que era tarefa coletiva - a avaliação dos cursos brasileiros de mestrado e doutorado. Pedi demissão em setembro, mas depois de um desentendimento com meu chefe, acabei demitido no mês seguinte. Deixar um cargo é uma experiência interessante, que vale a pena descrever.

No século XVIII, um escritor francês de rosto pouco conhecido, o duque de Nevers, escreve um pequeno tratado para os "cortesãos caídos em desgraça". Os reis da França tinham hábitos, às vezes, estranhos. Certa feita, Luís XIV foi mais encantador do que nunca com seu médico. Este voltou todo feliz para seus aposentos - onde encontrou a polícia e uma ordem de banimento imediato.

O médico protestou, mas era verdade: quando o rei o agradava, ele já tinha ordenado seu desterro. Numa época em que "longe de Vossa Majestade não somos apenas infelizes, somos ridículos", como disse outro nobre ao voltar do banimento, a queda súbita do favor era um dos maiores desastres que um aristocrata podia sofrer.

O duque de Nevers foi um sábio: escreveu conselhos para quem vivesse a desgraça. São conselhos simples. "Antes todos o adulavam, agora você é esquecido. Longe da corte, meditará sozinho, ou na companhia dos pouquíssimos amigos que lhe restaram, sobre a fragilidade do favor do governante, da simpatia dos amigos, do amor das mulheres". Mas esses pensamentos, embora tristes, exprimem a verdade. O mundo é assim. Quem erra é quem acredita na lisonja, na adulação.

VAIDADE. Porque, na verdade, quem está no poder é presa fácil da vaidade. Esta palavra tem dois sentidos. Primeiro, é a condição de quem é vaidoso - de quem se acredita superior aos outros ou, mais modestamente, apenas bonito, encantador, inteligente e engraçado. Segundo, é a condição de tudo o que é vão. "Vanidade", dizia-se em português antigo. "Vanitas vanitatis", reza o Eclesiastes: a vaidade da vaidade, ou como ser vaidoso é vão; como é inútil, pretensioso e risível ser vaidoso.

Mais de 2 mil anos de Filosofia trataram da vaidade. Quando se afirma que alguém suportou os dissabores "filosoficamente", entende-se que soube meditar como aconselhava o duque de Nevers. Perdeu muito, perdeu tudo o que era exterior a ele, mas não terá conservado o seu valor interno? Não terá, agora, condições de saber mesmo quem vale e o que vale? Discutir a vaidade é discutir o valor verdadeiro e o falso.

Hobbes distingue o vaidoso e, por outro lado, aquele que conhece o seu próprio e verdadeiro valor. Num caso, temos a "vã glória", a vanglória; no outro, a justa glória. Quem conhece seu justo valor pode orgulhar-se dele. Na verdade, quem sabe o quanto vale nem se orgulha, porque já não lhe importa o reconhecimento pelos outros. O que conta para ele é ser respeitado pelas pessoas a quem respeita. Que me importa ser admirado por quem não admiro? Como respeitar quem só tira o chapéu para quem tem poder?

You're so vain é uma canção de grande sucesso, composta e gravada por Carly Simon, em 1972. "Você é tão vaidoso", diz ela, mas sempre junto com a outra ideia, a de "vão": você é tão inútil. O divertido é que na segunda estrofe ela engata: "... tanto que provavelmente você pensa que esta música é sobre você. Não pensa?" Há um duplo sentido. Ela acusa um homem de ser vaidoso - tão vaidoso que até acredita que ela está falando dele...

" Você é tão vaidoso que provavelmente pensa que esta música é sobre você. Não pensa? Não pensa? "
(Carly Simon, You're so vain)
" A vaidade é um princípio de corrupção "
(Machado de Assis, Dom Casmurro)


O INTERESSE. Se quem está "por cima" é facilmente tomado pela vaidade, quem adula é movido pelo interesse. Confessemos: o interesse é mais forte e possivelmente mais sólido do que a vaidade. Lembra-se do presidente Fernando Henrique, que brincou certa vez: "Sou mais inteligente que vaidoso"? Queria dizer: sou vaidoso, sim, gosto de ser cortejado, mas sei perceber que estão fazendo isso por interesse e não caio na armadilha. A maior parte, porém, cai.

Por que o interesse é mais sólido? Porque é mais racional, mais frio. O problema da vaidade é que, sendo paixão, deixa-nos passivos. Sua luz forte eclipsa. Quando dizemos que uma mulher é deslumbrante, queremos dizer que ela nos ofusca, por excesso de brilho. É como um holofote apontado para nossos olhos. Mas não basta a beleza para ofuscar. O que cega, mesmo, é a esperança insensata de que ela nos ame. É por isso que a mídia nos cega, especialmente num país em que quase todo veículo de imprensa está cheio de corpos lindos e jovens: porque não se vende apenas o voyeurismo, se vende a esperança de que essas beldades nos queiram. Aí entra a vaidade e, com ela, o desastre.

A MODERAÇÃO. Mas, no fim das contas, nem o vaidoso nem o interesseiro têm razão. Nenhum deles está bem. Quem se entrega à vaidade se engana e se torna joguete fácil - dos outros e de suas próprias paixões. Toma decisões equivocadas. Não se prepara para os dias difíceis, que sempre virão. Um presidente um dia se tornará ex, uma modelo envelhecerá.

E quem reduz os interesses pessoais àquilo que pode ser iluminado, fecundado, enriquecido pelo poder (ou pela beleza, ou pelo prestígio) também se fragiliza. É verdade que retira vantagens. Geralmente é hábil para substituir um adulado por outro, e ficar no poder - ou no espetáculo que é a mídia - por muito tempo.

Mas tudo isso é muito vulnerável. Essa é a palavra: tanto o vaidoso quanto o adulador vivem por um fio. Hobbes tinha razão quando elogiava quem conhece o próprio valor. Conhecê-lo significa duas coisas: nem acreditar nos elogios pródigos dos outros (isto é, não ser vaidoso), nem imaginar que o poderoso ou a beldade possam nos fazer feliz.

Podemos causar menos impacto do que nossa vaidade gostaria, mas certamente valemos mais do que nossa subserviência dá a entender. Conhecer essa medida é a moderação. Pode não causar euforia, mas tem mais condições de proporcionar felicidade.

*professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo (USP)
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colaboração: Centro de Estudos Politicos Econômicos e Culturais (Cepec)