seguidores

19 de junho de 2008

*poesia* TONE ELY - Man'infesto da Arte Pós-histórica


MAN'INFESTO - Tone Ely, 5 de outubro de 2005

Só digo aos que hoje em dia
Tentam saber o que é arte...
A propósito,
Eu não ouso tentar uma coisa dessas
Sou de 1980...
Desde então tá complicado;

Mas como essa palavra
Agora invade seu humor vítreo
Nervo óptico adentro
Provocando uma série de signos lingüísticos
Que ainda traçam os sentidos, em geral,
desconexos

Entendo que arte
Tá no estribo também
Totalmente controlada
Pela capacidade de repassar a vibração
de uma pelezinha...
Pra cachola ;

Mas pele é pra outra coisa, né?
Quando não há disafia é sim...
Te desafio a saber
O que suma tudo isso quer dizer;
Inevitavelmente
Enceno uma voz
Sua pra você mesmo
Que de tanta audácia
Sente o amargo no palato e diz:
"Isso não é arte!"

E assim como plásticos artistas
Que com todas as cores possíveis
Não te provocam nada
Me reconheço um ex-artista desde que nasci;
(E naquele tempo a arte já não existia mais!)

Ainda bem que tenho tanto talento
quanto você
E ainda assim tento...
Sem fazer a mínima idéia
Se vou conseguir dizer o que quero,
Ou se sequer palavras existem pra isso;

Como costumam dizer que o que digo
Não se compra
Te lembro contudo que não estou a venda
Toda e qualquer discordância comigo (ou contigo mesmo)
Nunca soará em meus ouvidos
Ou nem teria lido eu até o fim

Lamentavelmente ou não
Com essa tentativa de "arte" você o fará...
Como eu, outros ex-artistas ainda sabem pedir esmolas,
que venham
quaisquer
políticas
públicas miseráveis
para tornar possível
que alguém vivo na verdadeira pós-história,
no futuro, nos veja como parte digna de estar
representando a arte

Com tudo isto,
humildemente te imploro...
que de alguma forma,
depois,
outro dia desses,
reflita no que está em sua cabeça agora.



Traduzindo o Man'infesto da Arte Pós-histórica
por Tone Ely


Esse texto pretende se comunicar com os paraibanos que gostariam de identificar o que podemos considerar como arte em nossa cidade. Aquelas pessoas que ainda procuram soltas, buscam boas apresentações artísticas, exposições descentes ou projeções cinematográficas, e que possam dizer orgulhosas: "É de Campina Grande!"



Podemos lembrar que a partir da década de 80 a cidade pairou. E viu-se por aqui por "motivo algum" uma recessão crescente nas produções artísticas ou, as que ainda realizadas, foram muito pouco vistas/apreciadas. Alguns argumentam que a qualidade foi caindo, que os grandes artistas emigraram, que Campina era pequena para eles. Aos que ficaram, restou a opção de serem engolidos pela necessidade de sobrevivência em outros mercados de trabalho. Aqui, como em quase todo Brasil, as culturas de massa que tinham apoio ou podiam comprar as grandes mídias tomaram conta do mercado e da mente do povo.

Hoje, sem um público fiel, arte por aqui virou hobby. E os profissionais da arte, uma lista longa: atores, músicos, artistas plásticos, cineastas, escritores; renderam-se por não aceitar o título de "frustrados", melhor dizendo, de "desempregados". Perceberiam estes artistas hoje que arte (a de verdade), vai além disso tudo? Perceberiam eles que a boa arte encanta sem barreiras, provocando uma devoção imediata por mexer com o interior da pessoa que vê/ouve/sente? Ou que é melhor acreditar no papo de senso comum, igualzinho ao que vemos sempre nas mídias massa (TV, rádio, ...), a arte para qualquer um?

Esta arte idealizada que vemos em nosso dia a dia trata-se exatamente da arte que tem seu mercado, da que se sustenta. Esse é um manifesto da arte que tem qualidade e que represente as coisas que só acontecem ou são vistas aqui, não somente a arte estigmatizada pelas referências passadas (regionalismo), mas as que são Campina Grande no hoje, no agora.

Políticas públicas, pelo menos no papel, se propõem a ser as salvadoras da arte e cultura campinense. Falo do FUMIC (Fundo Municipal de Incentivo à Cultura, da prefeitura local) e do FIC (Fundo de Incentivo à Cultura, do governo do estado). Eles aprovam projetos relacionados à cultura e a arte, a competição entre arte e cultura (muito bonito isso!..), vamos vê-los separadamente.

O FUMIC tem um baixo orçamento, poucos projetos são aprovados e apenas os que custam pouco, feitos com valores por baixo, contando com patrocínios externos ou tirando do bolso mesmo. Uma comissão julgadora mais politiqueira que burocrática, cortes de verbas são feitos nos projetos assim que aprovados tirando principalmente a grana destinada a pagamento de pessoal, o pagamento dos artistas (viva ao voluntariado!). Dá pra imaginar que arte é tratada como algo sobrevivente, distante do vivo. O FIC também é assim, mas disponibiliza uma verba maior, mais projetos competindo também. As escolhas de projeto num leilão político de interesses. Tem a agravante de "exigir" exclusividade, não se deve ter outras parcerias ou patrocínios para conseguir aprovar um projeto. Muitos atrasos marcam a história deste fundo fazendo com que seja difícil de realizar os projetos já que os preços que estão nos orçamentos crescem à medida que o tempo vai passando.

Ambos são paliativos. Não a um mercado local verdadeiro para as artes independentes (que não se aplicam aos mesmos moldes do mercado das artes de massa), as pessoas globalizadas não apreciam tanto as coisas que falam de sua realidade, nem chegam a pensar na existência ou relevância, então não compram tais artes. Isso dá um desânimo. No fim das contas os artistas de verdade (de alma) respiram tudo isso, vem uma tosse seca que passa logo, e então eles continuam sua jornada dando um jeito de continuar ao menos registrando, realizando, expondo sua arte para poder ser um dia lembrado como parte da cultura deste lugar. Isso não cessa... acredite!... estaremos nós aqui sempre tentando.
-------------------------
tone@pop.com.br

Nenhum comentário: