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20 de abril de 2010

A LUA NOS QUARTOS


SINUOSA - A eterna musa, branca, redonda e sinuosa, ao menos nesta foto, é tema de mais uma declaração derretida, de 2002. | imagem: Val da Costa

VALDÍVIA COSTA

Lua, faz tanto tempo que não admiro-a. Muitas vezes até a vi, mas não suspirei de arrebatamento. Você se esconde por trás das nuvens, tímida? Rsss... Hora deve ser meio cheia, puta com tudo. Mas hora deve ser minguando mesmo, de tanto nada que a cerca. Daqui de baixo, a gente só te vê lindamente lua, mas daí, do seu lado, sei que és monocromaticamente fria.

Todas as noitas são suas e você já é ciente desse encontro. Sempre esbelta no chegar e tão soberana em fabricar sombras, sonhos. Ando olhando o chão, chutando as pobres pedras, tropeçando nos meus enganos... e você me envolve com sua luz, grande lua lunática.

Consolo para o desapego, você é lua no quarto criativo crescente de quem fuma. É densa no quarto minguante de quem ama. Mas penso que só sei amá-la assim porque és só uma lua. Imagine ter que admirar mais de 60 luas, como os habitantes de Júpter têm que fazer?! E não venha me lembrar que Júpter não tem habitantes. Mas, se tivesse, imagine...!

Você é única, pedaço de pedra branca, empoeirada, que fica escondida do sol por trás da Terra. Grande corpo celeste já visitado por humanos e ainda guardador do mito de São Jorge, que todas as noites mata o dragão aos olhos de quem crê. Lua, você é mentirosa? Ou, simplesmente, nós é que somos aluados?!

Não vou te ver porque acho a viagem de três dias muito longa. Mas fico aqui embaixo, me sentindo enormemente atraída por você, lua louca, de tantas facetas e tantos cobiçadores. E você, lua menina, fica a brincar de ciranda com os outros astros, a girar e girar em torno de nós, lançando seus raios prateados, inseminando-nos com seu desvairado luar avulso.

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