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22 de julho de 2010

DE VOLTA À LEITURA


GROSSO: Um dos livros mais lidos pelas crianças e adolescentes me chamou a atenção: mais de 200 páginas de Harry Potter despertam a vontade de ler outros livros? "Estudo" despretencioso de 2006, durante especialização de Educomunicação (UEPB). | imagem: HP Lexicon

HARRY POTTER E O RETORNO AO HÁBITO DA LEITURA
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
Departamento de Comunicação Social - Especialização "Educomunicação"


VALDÍVIA COSTA*

Resumo
Este estudo enfoca um pequeno corte em um fato relevante na cultura brasileira, que ocorreu a partir dos lançamentos dos livros de Harry Potter, da autora escocesa Joanne Kathleen Rowlling: o retorno ao hábito da leitura entre as crianças brasileiras de oito anos e adolescentes de 15 anos.

Não nos detivemos em relatar ou pesquisar profundamente quais foram os motivos que fizeram este fato acontecer. Somente colhemos alguns depoimentos de alunos das redes pública e privada de ensino, que constataram o que o Brasil todo soube através da imprensa: Harry Potter tirou este público de uma ociosidade de leitura de livros.

Também não é objetivo deste trabalho afirmar se este é um tipo de leitura recomendável ou não, de qualidade ou não, ou que possa vir a causar algum tipo de bitolação em torno dela. Somente nos concentramos em pesquisar um fato ocorrido em Campina Grande-PB: um aumento de interesse por leitura de livros, neste público-alvo, a partir da "pottermania" (fenômeno da leitura de HP).

Acrescentamos ainda que a escolha do título deste trabalho não tem intenção de fugir aos paradigmas da escrita científica, mas sim de remeter aos títulos dos livros da série potteriana, numa alusão puramente irônica. A pesquisa aqui realizada permite ser ampliada no sentido de obter uma conclusão em favor dos objetivos citados acima e que foram descartados no momento. O enfoque dado ainda poderá ser direcionado para outra análise, como, por exemplo, uma avaliação de professores, em sala de aula, sobre os livros publicados e seus resultados de leitura.

Palavras-chave: leitura; educação; comunicação; recepção

1. Ler nos sentidos de obrigação e prazer
É interessante que comecemos por analisar qual é o significado de ler, no contexto deste trabalho, já que leitura pode ter vários sentidos (Eni Orlandi – 1988): na escola significa aprender a ler e a escrever; em termos acadêmicos, as várias formas de compreender um texto. Pode ser também uma ideologia ou uma atribuição de sentido, entre outras definições. A leitura da qual nos refirimos neste trabalho é a de ficção ou de contos infantis, uma das primeiras leituras que fazemos na infância, que pode vir a instigar ou não o prazer de ler outros gêneros.

Para um texto ser legível depende de cada pessoa que esteja fazendo a leitura. O contexto de vida da pessoa (dentro da sociedade, da família e do trabalho) também influencia para ela ser motivada a ler, para ela sentir prazer por leituras. A compreensão de uma leitura parte da interação entre o leitor virtual (para quem o autor escreve o texto) e o leitor real (pessoa que apenas lê o texto). Se há uma distância entre os dois (que estão na mesma pessoa que lê), fica difícil uma compreensão de qualquer leitura.

Segundo Paulo Freire (1992), só se alcança a compreensão de um texto, com uma leitura crítica (que faz refletir), quando se tem uma percepção das relações entre texto e contexto. De fato, fica mais fácil interpretar uma leitura, ou achá-la interessante ou não, quando se conhece o assunto exposto no texto. Nesta perspectiva, a compreensão do texto é mais importante do que simplesmente decodificar as palavras.

Para as crianças e adolescentes brasileiros desenvolveu-se o hábito, desde a escola à família, de incentivar a leitura somente por necessidade de auto-afirmação como ser social e como profissional, deixando-se de lado um importante fator que é o de se sentir prazer na leitura. Para enfatizar que ler é uma meta obrigatória compreendida por todos no Brasil, menos pela criança, pergunte a uma delas para que ela lê. As respostas mais comuns são “para fazer as tarefas da escola”, “porque meus pais querem”, “pra ganhar presente no final do ano”, “pra ser alguém quando crescer” (Amanda Rabelo – 2005).

Muitos educadores se dividem quando o assunto é indicação de leituras para despertar o hábito de se ler um livro constantemente. Alguns acreditam que os livros de Machado de Assis, Lima Barreto e outros tantos brasileiros que contam as histórias do país na linguagem culta, com traços marcantes e importantes, são os melhores para eles criarem identidade com a cultura brasileira. Outros apostam em algumas leituras mais “amenas”, sem conteúdo algum que acrescente no conhecimento do aluno, apenas para “ler qualquer coisa, mas ler”. Essa divisão de opiniões ou extremismo constate causa uma confusão que faz o leitor não ter interesse por nada escrito e mostra que o professor está despreparado para entender como motivar os alunos à leitura.

O que deveria ser levado em conta é o poder de atração que cada leitura tem para a pessoa a que se destina, se ela tem em seu contexto algo que interesse à criança ou se a recomendação parte do interesse do professor. A leitura deve introduzir conhecimentos novos, mas não deve ser imposta, pois é melhor que a criança leia uma página e que saiba o que leu, do que 100 páginas que foram forçadas a ela e que não acrescentaram em nada. O importante é o que fica de construtivo na leitura e não a quantidade ou o acompanhamento que a criança faz da leitura.

Devido a este “estímulo” mal dado, a criança desenvolve suas defesas em relação à leitura. Surgem, então, as malandragens em relação ao livro, que são bem comuns para se fingir que leu alguma coisa que foi dita como necessária. O mais comum na infância e adolescência é fazer a comparação dos livros. Os mais “adotados” são os de poucas páginas, letras grandes e com imagens, o que facilitaria a leitura, tornando o tempo de ler mais resumido e menos “sofrido” (Fabrício Viana – 2005).

O que geralmente percebemos no país é que as crianças já crescem com essa noção de desvalorização à leitura, pela coesão a qual ela é submetida para ler o tempo todo, fazendo com que a leitura se torne uma obrigação e não um prazer. Pouco se aproveita do prazer de ler para se construir, no Brasil, um hábito de leitura constante e salutar. Ao longo dos anos isso foi se caracterizando e ficou mais acentuado com o advento da televisão, que proporcionou mais comodidade com sua comunicação visual, “dispensando” o uso do texto escrito e da leitura do mesmo.

Mas recentemente, outros adventos das novas tecnologias trouxeram de volta o hábito da escrita e da leitura: o computador e a Internet. A partir daí, muitas foram as invenções para se atrair a atenção a esta máquina, o que a faz essencial nos dias de hoje para a composição simples de qualquer texto, desde os reduzidíssimos scraps (Orkut) aos hipertextos para sites, blogs etc. e aos e-mails, já considerados pelos mais jovens ultrapassados devido a esses primeiros recursos citados, mais atuais.

2. O tipo de leitura que é a de Harry Potter
É importante ressaltar também aqui o papel dos contos infantis no desenvolvimento das crianças, visto que este é o tipo de leitura a ser analisada, uma ficção. Para Bettelhem (1980 [1975]), os contos infantis são fundamentais no processo de amadurecimento emocional das crianças, uma vez que lidam com problemas humanos universais que preocupam as crianças e também se referem ao ego em formação, encorajando seu desenvolvimento. O autor acredita que esse tipo de leitura oferece elementos para entender o que está se passando em seu Eu inconsciente, ajudando no autocontrole e na convivência com problemas psicológicos do crescimento, tais como decepções narcisistas, dilemas edipianos, rivalidades fraternas, dependências etc.

Na sua análise de efeito psicológico, Bettelhem, diz que os contos indicam caminhos para a construção de um sentimento de individualidade, de autovalorização e de obrigação moral. Isso se deve ao fato deste tipo de literatura espalhar com clareza as estruturas básicas da psique humana, que são a expressão mais pura e simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo. Os contos infantis são uma herança universal e não uma criação da sociedade de massa, como muitos afirmam. Alguns deles vêm sendo transmitidos oralmente há séculos, nas mais diversas culturas, como Cinderela, Branca de Neve e os Sete Anões etc.

Os livros de Harry Potter têm, em sua estrutura literária, os mesmos elementos dos contos: em etapas bem definidas, mas não rígidas, o herói é sempre chamado a algum desafio, enfrenta inimigos e acaba vencendo para chegar a um final feliz. É esta a fórmula que agradou tanto a crianças, adolescentes e até adultos, desde o lançamento do primeiro livro no Brasil, Harry Potter e a Pedra Filosofal (Rocco-RJ – 2000). O fato inusitado, que não acontecia há muito tempo, é que o mercado literário nunca havia vendido tantos livros de literatura infanto-juvenil desde o aparecimento da criação de J.K. Rowling.

Segundo dados do site Hogsmeade, um dos muitos existentes no mundo sobre os livros, Harry Potter chegou na editora Rocco, no Rio de Janeiro-RJ, em abril de 2000, quando Pedra Filosofal chegou às livrarias. Até o final daquele ano também seriam publicados os dois livros seguintes, Câmara Secreta e Prisioneiro de Azkaban. Em julho de 2000, Cálice de Fogo batia todos os recordes de lançamento nos EUA e Inglaterra, porém o livro só chegou aqui quase um ano depois, em junho de 2001. O livro Ordem da Fênix demorou menos tempo para ser traduzido: o lançamento brasileiro foi em novembro de 2003, cinco meses depois de o livro chegar nas livrarias anglo-americanas (site Hogsmeade).

Ordem da Fênix conquistou o título de livro mais vendido de 2003, nos quarenta últimos dias deste ano, segundo a revista Veja; a editora Rocco disse ter sido 300 mil exemplares vendidos, de acordo com dados oficiais respaldados pelas grandes redes de livrarias. Hoje, estima-se que cerca de um milhão de livros já foram vendidos no Brasil e mais de 300 milhões em todo o mundo (outubro de 2005 – site Hogsmeade). Ao contrário dos livros, que têm sido considerados como estímulos ao hábito da leitura nas crianças, os filmes já não conseguem atingir tão grande satisfação.

O que aconteceu para todo mundo ler tanto Harry Potter? O que dá para perceber de imediato é que grande parte deste sucesso vem da “fórmula mágica” da escrita da autora, que mistura aventura, misticismo e uma trama que sempre traz mistérios em todos os livros, o que desperta a curiosidade dos leitores.

O personagem principal da saga é Harry Tiago Potter, um menino que não possui pretensão de ser herói, mas que tem coragem para enfrentar os perigos que as histórias trazem. A autora, Joanne Kathleen Rowlling, escreveu o primeiro livro da série depois de um casamento fracassado (1997), segundo o site dela mesma. Com pouco dinheiro e uma filha pequena para sustentar, Rowling escreve Harry Potter e a Pedra Filosofal, que é recusado por nove editoras até ser aceito pela pequena Bloomsbury. Em 1998, enquanto Rowling publica Câmara Secreta, o primeiro livro da saga chega aos Estados Unidos da América (EUA) e é sucesso de vendas na Inglaterra, dando início ao fenômeno denominado pottermania (site Hogsmeade).

O instituto americano NPD, dos EUA, fez uma pesquisa abrangente sobre a popularidade de HP, em março de 2001, dividindo os leitores entre crianças (6-17anos) e adultos (18 acima), quase um ano após o lançamento de Cálice de Fogo naquele país. Ao todo foram 1.511 entrevistados, que tinham que dizer em que grau eles gostavam, detestavam ou ignoravam as obras de J.K. Rowling:

Grau de popularidade em % (Crianças / Adultos)
HP é o melhor (17% / 3%)
Adoro HP (21% / 8%)
Gosto de HP (23% / 16%)
Não Ligo (28% / 66%)
Não gosto de HP (5% / 1%)
Detesto HP (2% / 3%)
Não suporto HP (4% / 3%)

Mais da metade das crianças que responderam ao questionário já haviam lido pelo menos um livro de HP, de acordo com a pesquisa da NPD. Os adultos, ao contrário, pareciam desconhecer o personagem: apenas 14% deles já havia lido alguma obra de J.K. Rowling. Entre os que são maiores de idade, a maioria dos leitores potterianos têm de 35 a 44 anos (27%) ou mais de 55 anos (28%). O resultado desta pesquisa, porém, pode ser considerado ultrapassado, já que nos dois anos seguintes foram lançados um livro, dois filmes e inúmeros produtos da marca HP, aumentando a rejeição e/ou a adoração ao bruxo (site Hogsmeade).

A tradutora de HP no Brasil é Lia Wyler, de Ourinhos-SP; licenciada em Letras e bacharel em Tradução pela PUC-Rio, mestre em Tradução Inglês-Português pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutora de Tradução pela USP. Tradutora profissional desde 1969, ela começou a carreira traduzindo obras de escritores americanos e ingleses como Tom Wolfe, Saul Bellow, e Gore Vidal, entre outros. Como tradutora de livros infantis e juvenis, recebeu o prêmio de "altamente recomendável" da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil pelos três primeiros livros da série Harry Potter; já publicou dois livros: A Tradução no Brasil: ofício invisível de incorporar o outro (1995) e Línguas, poetas e bacharéis: uma crônica da tradução no Brasil (2003).


3. Leitura sedutora ou alienação total?

Apesar de todas essas estatísticas, que são mais comerciais, e de o Brasil entrar nessa onda de leitura, uma grande polêmica rodeia a pottermania: educadores consideram; religiosos e intelectuais rejeitam. Quem pode dizer que a leitura potteriana é realmente execrável a ponto dos pais ou os próprios leitores se preocuparem com essa discussão? Como já foi mencionado aqui, o fato marcante de estarmos lendo mais a partir de Harry Potter levou os brasileiros a não se preocuparem muito com isso. O livro continua circulando de mão em mão e sendo vendido.

O novaiorquino Harold Bloom, 86, autor de ensaios que renovaram os estudos literários (o principal: Angústia da Influência – 1973); como mais de 27 livros publicados; especialista na obra de Willian Shakespeare; é o crítico literário mais popular do mundo, segundo a imprensa; em 2000, publicou um ensaio no The Wall Street Journal que condenava os livros de Harry Potter. No Brasil, Bloom lançou a primeira parte da coletânea Contos e Poemas para Crianças Extremamente Inteligentes (Objetiva, 142 páginas). Nela, o autor coleciona um elenco de textos que considera fundamentais. (Época - Edição 246 - 03/02/2003).

Nesta entrevista à revista brasileira, Bloom explica que Harry Potter é um fenômeno de mercado, considerando este tipo de literatura como “idiota”, que não supre a necessidade de leitura e que estes “tais livros infantis ajudam a destruir a cultura literária”. O autor chega a afirmar veementemente que odeia HP; que a leitura é bruxaria barata reduzida a aventura; diz que é prejudicial ao leitor; que não tem densidade. Ele ainda critica a escrita de J. K. Rowling, taxando-a de “horrível” e ainda se compara a Hamlet (Shakespeare), quando laçou a polêmica, “que defrontou com um oceano de aborrecimentos” e encerrou o assunto dizendo continuava se incomodando com os fãs do pequeno feiticeiro.

Em defesa da leitura (não importando qual), o jornalista e escritor brasileiro, Zuenir Ventura retrucou os comentários de Bloom a respeito da leitura potteriana, em entrevista ao jornalista André Azevedo (na época, estudante de Comunicação Social da Universidade de Uberaba - MG – 2003). Ele considerou o posicionamento de Bloom elitista e disse o mesmo do americano, sem desmerecê-lo. Zuenir também atua no meio literário com grandes obras, como a mais famosa, 1968: o ano que não terminou e estava, à época da entrevista, atuando no jornal O Globo, na revista Época e no site NoMinimo; ele também ganhou os prêmios Esso de Reportagem e Vladimir Herzog de Jornalismo, em 1989. Para completar o comentário, Zuenir citou uma conversa que teve com o amigo José Hugo Fonseca, em que os dois discutiam a questão apenas de se ler, não importando se era Paulo Coelho (que os críticos também não aceitam como leitura válida) ou se “este tipo de leitura levaria o leitor a procurar um Rubem Fonseca da vida”.

Zuenir explicou também que o hábito de ler, quando adquirido, nunca mais será superado. Segundo ele, o leitor que pegasse em um livro que ele gostasse de ler, este, através dos dias que ele passaria lendo, despertaria o desejo natural de estar em contato com o papel, em uma relação “quase erótica” com ele. A idéia de Zuenir é que o leitor se acostume com o livro, com o material entre as mãos, com a imaginação fluindo e isso, para ele, independe da qualidade da leitura. Como definiu Caetano Veloso em uma poesia, “é um status tátil” pegar em um livro. Zuenir ainda fez uma analogia com os traficantes que fazem de tudo para viciar as crianças em drogas e ele faria de tudo para viciar as crianças em livros.

Apropriando-nos um pouco dessa idéia de Zuenir Ventura, passamos para a conclusão do nosso trabalho.

4. O livro que desperta para a leitura de outros livros A importância da leitura na vida dos brasileiros passou por vários momentos de glória em tempos remotos que vão existir na memória de todos apenas como um saudosismo que não recupera nem devolve nenhum hábito de leitura. Esperar que o Brasil tenha melhores condições de ensino, que possa nos oferecer melhores escolas e educadores para que as crianças que ainda estão por vir possam abarcar um mundo literário, é somente um desejo.

Um fato real como o de se ter despertado o interesse por livros através de um "conto de fadas anovelado", devia ser comemorado. Não por fazer as crianças comprarem desesperadamente os livros de HP, mas por levarem até elas um tipo de leitura que, para alguns entrevistados, estava totalmente esquecida com a Era da informação e seus aparelhos virtuais e televisivos que aprisionam no nada. O livro grandão, com mais de 200 páginas.

Em conversas informais com quatro crianças de 8 a 10 anos de idade e seis adolescentes de 14 e 15 anos, todos moradores de Campina Grande e estudantes de escolas públicas e privadas, eles descobriram um mundo inusitado a partir da leitura potteriana. Todos só liam por necessidade de se auto-afirmar socialmente, como explicado no início deste trabalho. E, somente para enfatizar a falta de interesse de leitura, ainda necessitavam da ajuda dos pais para a interpretação dos textos ou livros que a escola recomendava.

A partir dos livros de HP, essas crianças/adolescentes começaram a achar interessante ler e andar com livros e não só os da série de Rowling. Os adolescentes confessaram que sentiam receio em chegar o momento da prova do vestibular e serem reprovados por não saberem interpretar livros como Senhora (José de Alencar) ou Casa Grande e Senzala (Gilberto Freire), pois se nunca tinham lido nem sabiam como ler tais obras! Um desses adolescentes disse ter aprendido a ter “paciência” para “agüentar” livros com mais de 100 páginas a partir da leitura potteriana, pois, como já havia lido os três primeiros exemplares, cada um com mais de 260 páginas, o que viesse nesta quantidade ou com mais páginas seria menos “desesperador”.

Em um país onde a falta de leitura levou o presidente da República a afirmar, em rede nacional, que “ler era muito chato, mas era essencial”, ler os livros de Harry Potter é magnífico, pois leva o leitor a se interessar por outras leituras (quiçá mais densa!) e o leva também a sentir a necessidade pungente de se manter lendo. A partir da pottermania, a criança desenvolveu o hábito não só de ler, mas de conversar sobre livros, de procurar bibliotecas públicas e de “testar” outro tipo de leitura para “comparar” a de HP.

Como bem relatou Zuenir Ventura nesta entrevista citada acima, “à medida em que a pessoa vai lendo, vai melhorando, como em qualquer exercício”. É justamente nessa intenção que pode ser feita a leitura de HP: a partir do primeiro exercício (em muitos casos é isso o que ocorre). O leitor desenvolve a capacidade natural e a curiosidade de ler assiduamente, o que não quer dizer que tenha que ser um processo rápido, mas no tempo de compreensão de cada pessoa. O hábito de continuar lendo, a partir da leitura HP, pode também preparar o leitor iniciante para uma leitura mais complexa, para um nível maior ou melhor, se assim for o caso, na visão de quem estiver passando pelo processo de aprendizagem de leitura de livros.

*Valdívia Costa é jornalista, especialista em Educomunicação pela UEPB


5. Referências
RABELO, Amanda Oliveira – Trabalho da disciplina Bases Teóricas da Alfabetização; curso de Pedagogia da Uni-Rio – RJ;

VIANA, Fabrício D. – Artigo “Para educadores: Prazer de ler”; pesquisado do site Fabrício Viana;

BAPTISTA, Antônio – Ensaio “Leitura, a escrita do livro”; pesquisado do site Ciberforma;

ORLANDI, Eni – Discurso e Leitura, ed. Cortez – SP, 1988;

FREIRE, Paulo – A importância do ato de ler – ed. Cortez – SP, 1992;

SOBRE LITERATURA, INTERNET E 1968; setembro de 2004 – Entrevista com Zuenir Ventura por André Azevedo;

HAROLD BLOOM – ELES NÃO SÃO IDIOTAS; 03/02/2003; Entrevista a Luís Antônio Giron; Época - Edição 246;

SITE HOGSMEADE;

SITE JK ROWLING (em inglês).

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