Temos tanto futebol assim? Já não estaria na hora de mudar o canal e investir tempo e dinheiro em algo mais real? | Imagem: Hedilberto Júnior |
# Queria uma palavra não tão amena nem tanto asquerosa para definir o futebol brasileiro. Sei do seu poder. Só que, para mim, ele não influi em absolutamente nada. Vou escrever uma vaia então. Para todos que alimentam o falso espetáculo do esporte na mídia. Foi ela quem enfeiou tudo ou a ganância quem deixou os jogos raquíticos? Ou será que futebol do Brasil está plasmado, talvez numa câmara espectral, esperando uma reedição?
Falo isso apenas como torcedora, óbvio. Mas existe muita diferença do atual profissionalismo para a fase brilhante na qual começamos lá atrás, chamada de amadora. Será que foi a TV que amoleceu o futebol do Brasil para o telespectador engolir melhor o engodo? Há tanta diferença que vivemos um eterno saudosismo hoje, após as partidas. “Ah, como a bola era feliz...”.
Desconfio que parte dessa encomenda mal pautada para apreender a atenção de uma massa, ou seja, de um público de milhões, é papa midiática. Sim, porque desde o surgimento do esporte aqui no país, a prática recreativa se transformou em espetáculo teleguiado. Antes, os jogadores eram vistos por poucos e ao vivo.
Sem querer magoar qualquer pretenso famoso jogador, não vou citar craques que acompanhei, os que a própria TV me apresentou. Vou relembrar apenas um, talvez o protótipo de uma espécie que foi extinta, O jogador. Atleta olímpico que, ao invés de ganhar com dribles, investia dinheiro numa prática que era elegante, apreciada pela aristocracia inglesa, sua genitora, digamos assim.
Desse jeitinho era o mineiro, que viveu no Rio de Janeiro. O historiador Marcos Carneiro de Mendonça foi o primeiro goleiro da seleção brasileira, reconhecido como o melhor do Brasil pelas seleções internacionais e pela imprensa local. Uma peça fundamental no primeiro título da seleção, em 1919, no qual o time jogou sem treinador. Além de entender o esporte, o goleiro era transdisciplinar, como o filósofo Edgar Morin denominou o cruzamento de diversas áreas do conhecimento. Marcos tinha habilidades de um matemático, com a inteligência de um poeta filosófico.
Como uma visão totalmente híbrida entre o homem e a bola faz toda a diferença! Enquanto hoje os jogadores são milionários narcisísticos descompromissados com o empenho ou com a qualidade do futebol, Marcos era focado no esporte, leitor da crônica esportiva sem intérprete, como os “comentadores” atuais.
Enquanto hoje assistimos ao futebol pela TV, como o esporte mais popular do país, a 100 anos, o jogo era singelamente uma “matches de football” (partida de futebol), um esporte inglês totalmente amador e jogado pelos rapazes de classe média, segundo o biógrafo Roberto Athayde (“O bandeirante do ferro” - Global Editora - S. Paulo - 2010). De acordo com o livro, Marcos era o primeiro ídolo futebolístico brasileiro. Atuou no marco inicial da bola no Haddok Lobo, depois no América e por fim no Fluminense.
Desde 1910, o futebol também era um ótimo difusor da língua inglesa no mundo. A narrativa esportiva possuía termos como goalkeeper (goleiro) e kieks (chutes). Numa das entrevistas, ele mostrou sua inteligência ao atuar em campo com precisão no gol.
“Tudo é ação direta. A bola, para o goleiro, tem que ser uma figura nítida, que vai se conjugar ao seu corpo. É preciso entrar num conjunto de detalhes de ordem técnica para ser um grande goleiro. Preparar o corpo, os reflexos todos, para se estabelecer uma unidade perfeita entre a bola e o homem. A bola é o elemento perturbador que o homem tem que saber anular”.
Pela lógica, essa fase em que estamos era para ser melhor que a do goleiro Marcos. O futebol devia produzir mais partidas interessantes, melhores craques... E o que temos de mais relevante nesse esporte hoje? A capacidade de projetarmos o marketing do "melhor" além das fronteiras do país (ou nos seios de uma torcedora que ocupa a sessão "delícia" nos jornais internacionais)? Uma legião de zumbis balançando bandeiras esfarelantes, exibindo violência na peladona de domingo pra ser notícia diária repercutida e continuada?
Os patrocínios? Isso é bom para os clubes. Campina Grande investe R$ 30 mil/mês em cada clube futebolístico profissional. O lençol é tão bom... mas descobre sorrateiramente a Cultura, que treme de frio, tosse e está na sarjeta. Analisando a situação mais amplamente, o Brasil nem pode recepcionar um evento como a Copa do Mundo 2014, desta vez segundo a própria Fifa.
Os patrocínios? Isso é bom para os clubes. Campina Grande investe R$ 30 mil/mês em cada clube futebolístico profissional. O lençol é tão bom... mas descobre sorrateiramente a Cultura, que treme de frio, tosse e está na sarjeta. Analisando a situação mais amplamente, o Brasil nem pode recepcionar um evento como a Copa do Mundo 2014, desta vez segundo a própria Fifa.
As justificativas do secretário-geral da Associação de Federação Internacional de Futebol (Fifa), Jerome Valck, pela crítica convicta e irada no mês passado na Rússia, são de que os atrasos brasileiros nas construções dos estádios megaloblásticos, preparação das estradas, da rede hoteleira etc. podem comprometer o evento. Ingênuo não, bem eloquente. Ele pôs as esperanças agora no nosso atrativo principal, o futebol brasileiro, e armou a arapuca. É bom que o Brasil esteja melhor do que está na Copa América!
Já que o “conjunto de detalhes de ordem técnica” para nos definir profissionalmente enquanto futebol de qualidade está sem harmonia (como Marcos perceberia), eu, torcedora, desligo a TV. Vou ler História ou Filosofia que o futebol já foi superado. Fiz um bilhete mental para evitar recaída... "Xô, fantasma redondo!"
#valdíviaCosta
2 comentários:
Tivemos dias melhores e não é saudosismo. É bem o que o Marcos diz. Olha o comentário do cara! vai colocar o Julio Cesar pra definir o mesmo? Deus nos livre! Os cometários e a narração dos jogos, televisivos nos chamam de burros, imbecis e qualquer palavrão. Pois o que vemos é bem diferente (às vezes, claro) do que se narra e se comenta. Será que eles pensam que vão nos convencer de o que estamos vendo é ilusão? Bem, enquanto construirmos esses ídolos e os transformamos em celebridades, estamos cavando e cada vez mas funda a nossa cova intelectual.
A televisão mo Brasil é oportunista em se tratando de usar o futebol como instrumento milionário de alienação. Existem vários fatores que levariam o futebol brasileiro ser diante dos olhos das pessoas o maior fracasso de todos os tempo em comparação com o Voley.
Pedala Brasil!!!
Valeu Nega!
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