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11 de fevereiro de 2009

*entrevista - GAYS DEFENDEM RELIGIÃO SEM HOMOFOBIA


contra homofobia: gays propõem diálogo com sociedade na Nova Consciência | imagem: google


Este é o terceiro ano consecutivo que 'gays declarados' chegam a Campina Grande-PB armados de diálogos para destravar a homofobia vigente e instalada nos eventos evangélicos durante o período de carnaval. Este ano, pela segunda vez, o escritor e ativista gay, Fabrício Viana, trouxe o livro "O Armário" e suas palavras para reforçar o Encontro sobre Homoerotismo no domingo de carnaval, no CEDUC 2, a partir das 14h00. Esses e outros bate-papos acontecerão em paralelo ao 18º Encontro da Nova Consciência.

Isso mostra que o homoerotismo entrou na Nova Consciência com força, desde o confronto mais do que militaresco entre eles e os evangélicos (2006). Quem não lembra? Campina se tornou a arena de disputas ideológicas para o Brasil tirar o tema homofobia das cinzas e pra os próprios gays começarem a se unir. Essa 'guerra', que foi mais midiática do que de consequências graves, resultou em bons frutos pra os homossexuais, como a criação da primeira parada gay da cidade e a realização desse encontro carnavalesco pensante.


livro - autor conta experiência pessoal de assumir a homossexualidade | foto: divulgação

Na ocasião, Fabrício vai falar sobre “Intolerância religiosa e exclusão dos homossexuais na sociedade”. Outros debates acontecerão para ajudar a desconstruir o papel excludente da homofobia. O professor da Universidade Estadual da Paraíba, Adriano Barros, apresentará a palestra “Homossexualidade, Escola e Preconceito: a construção social das diferenças”. Já o bacharel em Filosofia (USJT), Alexey Dodsworth, debaterá sobre “Homossexualidade: herança genética ou construção psíquica?”


liberdade - gays são companhias divertidas, mas sensíveis as discriminações | imagem: google

Este último tema é ótimo para quem é muito preconceituoso em relação aos gays. Gente que convive com gays e que os abomina por acreditar que é tudo questão de tara sexual, tratando-os com piadinhas, ou até de um 'desvio mental', que leva as pessoas a terem compaixão do homossexual 'doente'.

Mas vamos deixar a fala para eles próprios. Nós só precisamos atentar um pouco mais os ouvidos, pois a boca já está aberta a muito tempo e não houve condição pra o diálogo entre sociedade e gays, fazendo da homofobia um fenômeno midiático nos últimos tempos.

Na entrevista, o escritor Fabrício Viana fala sobre a mídia, o movimento gay e como o preconceito religioso faz alguém infeliz.

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1.Como lida com a sua homossexualidade no dia-a-dia?
Fabrício - Hoje, tranquilamente. Amigos, vizinhos e colegas de trabalho, todos sabem e isso não muda em nada o meu dia-dia. Quem não gostava de mim, continua não gostando. Quem gostava, continua gostando. Pouquíssimas pessoas se afastaram ou se afastam. E para mim isso é uma grande vantagem, pois a vida é minha e a prioridade é a minha pessoa, meus desejos e minha felicidade plena.

2.Na sua opinião, como a homossexualidade é vista no país?
F - Embora tenhamos paradas gays, visibilidade, muitas pessoas se assumindo com mais facilidade, o preconceito ainda existe, é grande e mata. Homofobia mata. Muitos que não entendem a homossexualidade acabam tentando destruir no outro aquilo que incomoda dentro. Eles fazem palestras contra a homossexualidade, a enxergam como uma doença e um pecado divino. Quando na verdade nunca foi e nunca será. A ciência está aí justamente para provar isso. As pessoas e a sociedade só precisam de mais informações sobre o tema. Isso incluem também jornalistas, a imprensa, principalmente, afinal, eles também são comunicadores e formadores de opiniões. Precisam entender não só a homossexualidade, mas a sexualidade humana.

3.Como o preconceito contra o homossexual se manifesta na sociedade brasileira?
F - Desde um simples olhar discriminativo até a agressão e morte. Muitos se dizem não se importar com a homossexualidade desde que seja longe de sua família. E ai mora o problema, pois muitas famílias têm alguém homossexual ou bissexual internamente (sem saberem). E como lidar com isso? Eles simplesmente não sabem. E quando se dão conta, também discriminam. O maior preconceito vem mesmo de dentro de casa.

5.Como esse preconceito pode interferir na qualidade de vida dessas pessoas?
F - Quando você não respeita a diferença e a individualidade do outro, seja quem ele for, você perde possibilidades de conhecer este “ser diferente”. De aprender coisas novas. Se eu sou heterossexual e só tenho amizades com heterossexuais, eu perco uma gama gigantesca e valiosa de conviver e conhecer homossexuais. Não significa se envolver sexualmente com eles. Mesmo porque homossexualidade não é sinônimo de sexo. Ninguém, nem heterossexuais, fazem sexo 24 horas por dia. Muito menos homossexuais. Todos têm sua vida, seu estilo, seu modo de pensar e que pode, ou não, contribuir para um bem estar social. A base é a troca. Por isso, do outro lado, os homossexuais também perdem com o preconceito dos outros.

6.Você publicou um livro chamado “O armário” que fala sobre como foi o seu processo de “saída do armário” e agora está lançando um segundo livro, que relata, de forma ficcional, algumas experiências sexuais vivenciadas pelos personagens. É possível fazer algum paralelo entre as duas obras?
F - “O Armário” é um livro educacional e quase técnico, mas com linguagem simples para que possa ser entendido por todos. Já o segundo livro é uma obra de ficção, uma história baseada em várias histórias que escuto por ai. O protagonista, que se chama Júnior, é do interior de São Paulo, descobre a homossexualidade com um amigo, é pego por seu pai e expulso de casa. Depois ele é internado em uma clínica de recuperação de homossexuais. Aquelas fazendas religiosas que convertem gays para ex-gays. Em outras palavras uma tremenda furada. O Júnior, quando descobre, foge e vai parar em São Paulo onde acaba morando com um casal chamado Marcos e Michelly. Daí para frente ele faz um resgate com seu passado, com tudo o que aconteceu na clínica e com os outros personagens do presente. Apesar de ser ficção, o “Prometheus” entra em várias questões como o casamento (tanto heterossexual quanto homossexual), relacionamento aberto, dentre outros assuntos. O lançamento está previsto para este ano.

7.Com tantos personagens homossexuais nas telenovelas, a publicação de várias revistas homoeróticas e a luta pela aprovação do projeto PLC 122, que criminaliza a homofobia, você acredita que o momento atual é bom para os homossexuais?
F - Nem um pouco. Está melhor, mas ainda não. Homossexuais nas novelas ainda são caricatos, esquisitos e não podem beijar na boca. E quase ninguém percebe. Você já reparou que personagens homossexuais na Rede Globo tem diminutivo no nome? Sandrinho, Bernardinho, Orlandinho e por aí vai... Dias destes escutei que a novela “Três Irmãs” terá personagens gays apenas porque o ibope estava baixo. É uma tentativa de aumentar a audiência. Ridículo. Eles colocam os homossexuais na mídia justamente para mostrar como “eles são esquisitos”. Só isso. Do outro lado temos a militância homossexual que, segundo uma recente crítica publicada no site da A Capa, esta preocupada apenas em debates, congressos e financiamentos do governo. Claro que não é todo o movimento, mas ainda existe uma desorganização e um mal estar pela luta dos direitos dos homossexuais. Enquanto isso na política, onde se assinam e criam as leis, nota-se um crescente número de políticos-evangélicos-homofóbicos infiltrados que fazem de tudo para derrubar os direitos que nós, homossexuais, não temos. Na prática a situação ainda é bem complicada.

8.É preciso "sair do armário" e dizer ao mundo que se é gay ou é possível se aceitar e ser feliz dentro do armário?
F - Nestes anos todos de estudos posso dizer que foram realmente poucos os que conheci e que vivem felizes dentro do armário. Sair do armário é assumir uma identidade homossexual. É ser você, do seu jeito, doa a quem doer... Engana-se quem pensa que sair do armário é botar uma etiqueta na testa e dizer para qualquer um que é gay. Ninguém sai por ai dizendo que é heterossexual para todos. Uma pessoa segura, que se aceita plenamente, nunca terá qualquer problema quanto a isso. O problema é que a maioria ainda tem. E ai entra o meu trabalho, meu livro e meu interesse – e de muitas outras pessoas – em informar, educar e ajudar a “sair do armário”. Claro que a decisão final é de cada um.

9.O que pensa acerca das diferentes posições religiosas relativamente à homossexualidade?
F - Sou ateu. E como tal não vejo motivos para que um homossexual faça parte de uma religião que condena aquilo que lhe dá prazer, novamente não falo só do sexo, mas sim do companheirismo, do deitar-se com outro homem. De construir um relacionamento estável. Afetivo. Isso é amor. Uma religião que é contra o amor na minha visão não presta. Ainda bem que hoje em dia existem Igrejas inclusivas. Onde as leituras sagradas são re-interpretadas e a homossexualidade é aceita. Ainda não servem para mim e nunca vai existir nenhuma. Mas acho que a base de tudo é o respeito.

10.Como, na prática, o gay pode ajudar a diminuir o preconceito em relação à homossexualidade?
F - Ele precisa primeiro se aceitar e se assumir, depois, precisa eliminar o conteúdo psíquico chamado homofobia internalizada. A homofobia internalizada é um fator importante que faz com que muitos homossexuais, mesmo assumidos, ainda critiquem a homossexualidade. Pode parecer estranho, mas é o que acontece. Só depois que a homofobia internalizada for desfeita é que o homossexual passa a ter auto-estima, a se valorizar e ai sim, lutar por seus direitos. A parte triste desta história é que poucos conseguem. Mas, com informação, tenho notado que cada vez mais um crescente número de homossexuais anônimos passam a lutar por seus direitos. E isso é muito bom.

11.Por fim, quais são as suas expectativas para participar da 18º edição do Encontro da Nova Consciência?
F - Embora ainda esteja no processo de finalização do segundo livro, espero curtir mais o Encontro, passar informações bacanas, trocar experiências e também me inteirar dos eventos. Quanto mais puder passar e explicar sobre a homossexualidade, em todos os seus aspectos, melhor. Afinal, porque a homossexualidade tem a ver com o Encontro da Nova Consciência? Porque antes de tudo, somos seres humanos e como tal precisamos não só sermos respeitados como compreendidos. Essa é a nova consciência, uma consciência inclusiva e que promete ajudar a todos na construção de um mundo melhor.
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Comentário: Valdívia Costa | Entrevista: assessoria ENC

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