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5 de fevereiro de 2009

*opinião - Ponte pra cultura - Valdívia Costa


imagem: Google

Hoje se fala muito em ponto de cultura. São Locais ou grupos que ajudam a difundir trabalhos artísticos promovendo o intercâmbio cultural entre as regiões. São mais de dois mil pontos no Brasil e alguns até no Exterior. Mas fico imaginando o que leva um sujeito a fazer parte de uma iniciativa cultural. No caso, aí seria outro termo, a ponte pra cultura.

A minha ponte foi meu irmão. Eu morava no sítio Zangarelhas e ele e a minha irmã mais velhos viveram os primeiros dias úteis de suas vidas com minha avó paterna na cidade. Um dia, numa visita de fim de semana, ele montou um circo com várias redes de dormir na sala de casa. Ele fazia o apresentador, o palhaço, o cantor... Vi o universo brilhar com aquela imitação infantil.

Fiquei a imaginar os bichos espertos dando cambalhotas, saltando... E assim, todo fim de semana era uma novidade, uma piada do palhaço. Até eu atuar, um dia. Foi uma sensação incômoda Deu timidez. Sacudi o microfone feito de batatinha inglesa no chão e voltei pra trás da “empanada”, como mãe chamava as redes-lonas do circo.

Na casa do centro da cidade, ele conseguiu reunir cerca de 10 a 20 expectadores com a reprodução caseira e, por isso, divertidíssima, do circo. Sim, ele sempre foi capitalista. Já cobrava notas de carteira de cigarros pela entrada ao mundo da fantasia.

“Metáforas” à parte, fico divagando sobre essa ponte. Temos essa necessidade pra chegarmos até a cultura, de alguém que pega pela mão e leva ou apresenta um cenário pra gente. Geralmente essa ponte está junto à arte, mas comumente é tudo que há de costume humano gerado e se gerando a nossa volta.

É história e, para tanto, precisa de apoio que se faça perpetuar ao longo dos séculos. Quem incentiva, orienta e vive nessa realidade consegue ser genuinamente resistente. Mas é preciso sentir esse pulsar. Como poetizaram Lenine e Lula Queiroga, “a ponte não é de concreto, não é de ferro, não é de cimento. A ponte é até onde vai o meu pensamento”.

*Valdívia é ativista cultural.

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