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8 de março de 2009

*mulher - LOURDES CHEIRA A ARTE E HISTÓRIA - Valdívia Costa


Foto: Paraíba Mix
Texto: Valdívia Costa

Visitar Lourdes Ramalho deixa a gente com cheiro de arte e de história. Se ela convidar a ver o cantinho onde ainda produz suas peças teatrais ou seus livros de pesquisas judaicas, um quarto ao lado da sala de visitas, o perfume é essência de raiz. A professora, autora, dramaturga, pesquisadora e incentivadora das artes, mora no centro de Campina Grande-PB há décadas, mas é natural da minha terra natal, Jardim do Seridó-RN.

Sinto-me na obrigação de fazer uma apresentação dessa personagem seridoense, com jeito de serrana, hábitos de sertaneja. Olhar e pensamento afiados, de judeu, e lirismo, muita delicadeza poética na obra que já conta com mais de 100 textos teatrais. Amigos jardinenses, Lourdes precisa voltar a sua terra. Precisa se mostrar paras mulheres da cidade e dizer-lhes que elas também podem pensar e criar, como camponesas ou interioranas.

Lourdes já foi homenageada na sua Jardim do Seridó pela sua arte. Lembro saudosamente da apresentação, em frente ao antigo Centro Educacional Felinto Elísio (Cefe), da peça A Feira, da politizada Lourdes Ramalho, na década de 1990. Eu nunca tinha visto teatro na cidade. Acreditem, e eu já contava com meus 14 ou 15 anos de idade. Encenando A Feira estavam as guerreiras Maria da Luz (Neta), Aparecida e Patrícia, amigas inesquecíveis e artísticas.

Mas havia um estudante que estava antenado e que já conhecia Lourdes Ramalho, Iran. Foi Iran um dos poucos desse pequeno grupo teatral que se montou no 3º ano científico do Cefe que seguiu a carreira no grupo teatral da cidade.

Depois desta única apresentação, o grupo se enxugou mais e caiu na estrada, encenando esquetes de rua em algumas cidades e até em Jardim mesmo. Em 2002 tentei fazer um documentário cultural com Nilson Meira e o entrevistei. Iran teve que desfazer o grupo pela falta de incentivo. Não sei como está a área teatral na cidade ultimamente, mas naquele ano, não havia mais nenhum grupo de teatro local.

Refletir - Porque fazer todo esse retrocesso? Porque quero instigar nas jardinenses a vontade de mexer com arte. Quase não há mulheres artistas na cidade. Assim como estas estudantes que citei, muitas outras estão fazendo seus primeiros experimentos teatrais na escola (ou não). Mas essas adolescentes de hoje têm o que de cultura pra aproveitar em Jardim?

Assim como na maioria das cidades pequenas, Jardim está dominada pela cultura alienada de outros Estados. A música que se escuta é da Bahia ou de outro Estado qualquer que promova a cultura de massa, como o Pará, com o Calypso. Cinema não há. Teatro não há. Artes plásticas nem se cogita a possibilidade. Tenho certeza que Lourdes Ramalho iria inspirar as jardinenses, nem que fosse as pequenininhas, para a leitura.

A partir daí, o mundo artístico de uma outra jardinense seria descoberto. E as idéias, experimentos e, futuramente, produções culturais brotariam no Jardim seco e sem vida artística. Vejam algumas das produções dessa jardinense arretada...

O QUE LOURDES RAMALHO ESCREVE
A maior parte do tempo, textos teatrais. Mas Lourdes mistura, em sua prosa, poesia e ainda contempla a área da genealogia. Ela tornou-se pesquisadora de fontes históricas, interessada em descobrir as raízes judaicas da cultura nordestina e, por extensão, da sua própria família desde o início dos anos 2000.

Lourdes brincava de teatro e suas primeiras peças foram escritas por volta dos seus 10 anos de idade. Incentivada pelos tios e pela mãe, a menina Lourdes colocava no papel as falas e as ações das personagens e, em seguida, comandava os ‘ensaios’ para as apresentações. Tudo era conferido em reuniões familiares e escolares. Datam desse tempo as primeiras versões de alguns dos seus muitos textos teatrais infantis.

Algumas obras:
A Eleição
A Feira
A Mulher da Viração
As Velhas
Chã dos Esquecidos
Charivari
Corrupio e Tangará (O Pássaro Real)
Festa do Rosário
Fiel Espelho Meu
Fogo-Fátuo
Frei Molambo
Guiomar Filha da Mãe
Guiomar Sem Rir Sem Chorar
Maria Roupa de Palha
Novas Aventuras de João Grilo
O Diabo Religioso
O Novo Prometeu
O Reino de Prestes João
O Romance do Conquistador
O Trovador Encantado
Os Mal Amados
Presépio Mambembe
Uma Mulher Dama
Viagem no Pau-de-Arara

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8 comentários:

Unknown disse...

A Val tem toda razão quando diz que que Lourdes Ramalho Cheira a arte e cultura. Também tive a oportunidade do encontro com Lourdes e fiquei pasmo com a densidade intelectual da professora. E ainda brincou quando lhe perguntei se o resultado de tanta produção seria as poucas horas de sono, e ela falou que não." Eu não fico perdendo tempo por aí."
Foi uma grande oportunidade de perceber como trabalha um grande artista.

Anderson Ribeiro disse...

Muito bem, Val. Agora pode ser você a jardinense/seridoense a incentivar as conterrâneas. Já que você é uma mulher que saiu, cresceu, venceu e luta pela arte e pela comunicação. Quanto ao texto, quando comecei a ler percebi a essência poética que ele poderia trazer e achei, que você não iria explorar isso. Mas no 2º parágrafo veio o meu engano e, graças, você deixou-a fluir... como a arte de Lourdes Ramalho. Valeu, mesmo.

curtasegrossas disse...

Escândalo...homenagem e e texto: perfeitos!

Anônimo disse...

Olá Valdívia, realmente vc descreveu em algumas pavlavras a intelectualidade nativa dessa mulher seridoense. Ano passado, opr ocasião das comemorações dos 150 anos de Emanciapção Política aqui de Jardim do Seridó, conversamos um pouco som Dona Lourdes por telefone e ele nos relatou o desejo de voltar a Jardim e ter o prazer de ver mais uma de suas peças representadas por nossos artistas. Como vc mesma sabe Loudes é uma mulher de idade já bastante avançada e, no entanto,não foi possível a mesma comparecer ao evento de lançamento de livros num dia tal que havíamos marcado. Mais, pelas veses que conversei com ela, senti aquela coisinha que se chama cultura seridoense, correndo em suas palavras. Lourdes é seridoense e coloca um pouco desta terra em tudo o que faz. Parabéns a você por nos possibilitar conhecer melhor esta personalidade cultural de Jardim do Seridó, que certamente, 80% da população nunca ouviu falar nesta pessoa. Abraços...

Arimária disse...

Oi,Val! lembro sim,eu também fazia parte da peça.Mais não foi Iram quem montou a primeira peça nos anos 90,e sim,Mílvia Filha de dona Inês de zeca do mangueiral ela era nossa professora de Português e os alunos eram dos 2ºs e 3ºs anos do CEFE.Patrícia estudava comigo eramos do 2º ano de contabilidade a peça era muito grande,,foi um sucesso, apresentamos em várias cidades como:Cruzeta,Acari,São José do Seridó,Ouro Branco e outras.
Um forte abraço.

Anônimo disse...

Que delícia seu blog. E a bem escrita homenagem a Lourdes Ramalho é merecida! Tive a honra de conviver um pouquinho com ela quando a UEPB a escolheu como Paraninfa Geral de uma de suas turmas, o que você diz no texto é a mais pura expressão da realidade. Um grande abraço para você que é uma das minhas jornalistas preferidas.

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto, realmente é de muito valor. Não sabia que Jardim possuia um diamante desses (Lourdes Ramalho). É bom também sabe que na nossa região ainda existem pessoas como você, que se preocupa com a nossa cultura, esquecida há algum tempo. Não dar mesmo para entender a musicalidade que os jovens de hoje curtem, mas seremos persistentes e vamos acreditar que um dia tudo isso possa mudar.
Abraço!

Anônimo disse...

Sorte ter você para mostrar as pérolas de minha saudosa Jardim do Seridó que se deixa corromper pelas culturas de outros lugares; minha tristeza é ainda maior porque esse é um mau comum em nosso país.
Este artigo deve ser coberto de louvor,pois tem um teor extremamente educativo/cultural do qual não há necessidade de tirar nem acrescentar nada, pois o mesmo está completo. Ele ganha um valor extra para aquele que teve a oportunidade de ti conhecer em sua adolescência.Está sendo muito bacana, saber no que se tornou, Val
Meu sincero e emocionante parabéns!