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12 de janeiro de 2010

SOBRE A CAFUSSAGEM


COMPLEXO - um dos maiores exemplos vivos de uma grande cafussagem: som pra estourar os miolos. Além de brega ao extremo, Freud já explicava que quanto maior o carro de um homem, menor é seu pinto ou sua funcionalidade. E eu completo: o mesmo vale pra o som do carro. Reparem nos cafussus na foto, se sentindo alguém pela primeira vez na vida... imagem: Consulado Social

VALDÍVIA COSTA
Escrevi esse texto em minha agenda de 2006. Estava em meio a uma comemoração de fim de semana numa cidade de pouco mais de 30 mil habitantes. Não vou citar detalhes pra não constranger quem estava comigo. Mas era numa mesa de um boteco onde eu estava, com uns colegas de trabalho. Todo mundo enchendo a cara, se esbaldando na cafussagem e eu filosofando... Tenho uma atração por observar esses exageros humanos. Por que os temos ou os cometemos? É natural do ser humano ser cafussu?

*O termo cafussu é uma gíria bem conhecida no Nordeste brasileiro. Existe um bloco carnavalesco em João Pessoa (Cafuçu, com cedilha) que tem uma farta mostra visual do que seria este ser, que amedronta pela barbárie cafussônica, mas não morde. Para gerar os termos derivados que criei (cafussagem, cafussódromo etc.), tive que adaptar a palavra raiz com dois esses. Queria pesquisar os cafussus cientificamente...
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Fazer parte do todo não é fácil. Como invisível partícula que integra o caos universal, estou absorvendo impurezas intelectuais... e vomitando pensamentos inúteis e dispensáveis para a ocasião. Mas o barulho que eles chamam de forró eletrônico, o sentido de falsa liberdade que eles têm e o meu rejeitar daquilo tudo me faz questionar o motivo e a existência das barreiras culturais.

Elas existem, impostas por nossas intolerâncias humanas. Elas afastam os seres humanos e se impõem entre as culturas. Misturá-las, de vez em quando, é uma opção psicodélica. Triturá-las no grande liquidificador que une tudo numa mistura consistente e humana é o preparo para se conseguir fazer parte do todo e assim não ser “besta”, orgulhoso ou arrogante.

O tolo, o superficial, o momentâneo, não é repelente ao ponto de me prender sempre ao meu intelecto ou de afastar outros pensadores até bem mais inteligentes. Mas me aproximo pelas pessoas, pelas relações sociais presenciais desgastadas, pelos risos e pelas despretensiosas amizades fugazes, sazonais. Não porque gosto.

Não quero dizer com isso que todos me fazem bem nesses contatos, mas quero querer bem a todos, sem descriminações de preferências, mesmo essas que nos são empurradas de goela abaixo. Acho importante os novos contatos pessoais. Procuro-os como quem procura adoçar o amargo para obter um sabor diferente. Como todo contemplador, odeio a rotina.

Interessa-me o oposto justamente pela possibilidade de perceber o diferente e tentar compreendê-lo com a mesma vontade que me fez conhecer o mundo o qual escolhi pra atuar, profissional e pessoalmente. Até porque não ficamos tão distantes assim da cafussagem. Quem nunca teve uma infância ou adolescência carregada de determinadas conturbações que atire a pedra da intelectualidade. Todo mundo foi alvo das breguices midiáticas globais.

No entanto, ocorreu-me um questionamento no momento de indecisão entre se escolher Calypso novamente ou a paraibana Magníficos pra se ouvir e dançar. A sensatez humana é para o homem proporcionalmente oferecida como o pão e o circo? Creio que não. Então não posso deixar de observar ou de criticizar as circunstâncias cafussônicas. Jamais deixarei de concatenar minhas ideias ou abandoná-las por essas banalidades. Até porque é tudo tão repetitivo que dá náusea na cabeça.

3 comentários:

O Antagonista disse...

Caramba... porque eles não compram logo um trio elétrico?

Ahyalla Riceli disse...

Nossa! Adorei o texto. Nada pior do que esses "cafusus" que chegan nos lugares, poluindo o ambiente com o péssimo gosto musical deles, e o pior, poluindo o ambiente sonoro de tal forma que não dá para ter uma conversa agradável com niguém, ficamos simplesmente obrigados a ouvir aquela música e ter que se dedicar única e exclusivamente a aquilo. O mais engraçado é ver a cara deles, achando que são a "bala que matou John Lennon", rsrsrs.

xistosa, josé torres disse...

Vou "concatenar" o meu comentário e deixar "concatenar" as ideias.
Não conhecia a palavra que até pode impedir o pensamento.Mas todos os dias aprendemos.
Gosto muito dos "distribuidores ambulantes de barulho".
São uma cáfila de imberbes ... que exultam com o barulho.

"Não quero dizer com isso que todos me fazem bem nesses contatos, mas quero querer bem a todos, sem descriminações de preferências, mesmo essas que nos são empurradas de goela abaixo"

Também eu, calando-os prontamente.

Um abração.