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10 de fevereiro de 2010

A FALA É COMO UM CAMALEÃO


SACADA - A gíria é uma expressão linguística não-padrão. É um tipo de linguagem utilizada por um determinado grupo como uma espécie de código facilmente compreensível para as pessoas que comumente o utiliza. Como variação linguística não-formal, a gíria tem rompido com conceitos que a discrimina como uma linguagem vulgar e incorreta pra assumir - e por quê não?- um importante papel na comunicação. (...) Não quero, com isso, atribuir a essa variação o status de padrão linguístico, mas não devemos deixar de pensar neste recurso como um elemento útil, em determinadas situações, à comunicação. (...) | legenda e imagem: Jaque Miranda

VALDÍVIA COSTA

É pelo sotaque que nos identificamos enquanto morador de uma localidade. Macaxeira é aipim também nesse contexto. Como muda-se a forma de falar as palavras, acrescentando ou retirando sonoridades, é possível variações linguísticas que denominam diversas vezes a mesma coisa.

Eu, por mais que fale como os habitantes de onde moro, não deixo de reconhecer um conterrâneo pelo sotaque. Comecei a notar essas diferenças ainda pequena. Quando adolescente fui morar com meu irmão em outro Estado e pude sentir na pele a diferença entre uma palavra cantada e outra chiada.

A primeira coisa que notei foi a fala diferenciada. Uma vez até fui alvo de estudos comparativos entre os jeitos de se pronunciar as frases. Como costumo comer alguma síliaba por falar rápido, como todo sertanejo, ao invés de dizer DESSE JEITO, pronunciei DE'JEITO. Isso foi motivo de chacota, mas pude notar as formas de se pronunciar as palavras sem causar ruído na comunicação.

As gírias. Como elas são gostosas e engraçadas. Da minha terra falava muito "criatura". Mas misturava, muitas vezes, isso com um "cabrunco" do lugar onde fui morar. E misturei ainda meu sotaque com o deles. De pouco em pouco enchi meu bornal de falas distintas e cheguei aqui onde estou, no meu silêncio absoluto.

FALAS PELO ORKUT - COMUNA DE JARDIM DO SERIDÓ-RN
04/02/09 | Ivana | Saudade dos meados dos anos 70 - 80
Quando chamávamos mercearia de "budega" (tinha a de Venancio, de Murilo, de Odival, Zé Silva, Nelson Estevão...), onde compravamos pão enrolado em papel de embrulho; de comprar POLI DE COCO QUEIMADO a Baú, que saia nas ruas com um isopor pendurado no ombro; de chupar umbu roubado lá em RUBERTO encostado ao cemiterio; de comprar enfeites de cabelo na BANCA DE CHICO ZEBRA; de comprar o material escolar lá em Biô e ganhar uma caixa de linha vazia para colocar os lápis; de tirar RETRATO no dia do aniversário lá em ZÉ BOIM segurando uma flor "enfincada" em um jarro de gesso; de comer castanhola quente no canteiro onde hoje é o açougue; de comprar groselha cristalizada e casquinha na casa de Luzia; de ler gibis do recruta Zero sentada no patamar da Igreja Matriz; de olhar o rio Seridó de "barreira a barreira" depois de uma chuva; de tomar banho no açude Zangarelhas em uma câmara de ar de pneu de caminhão; até de perguntar "quem morreu?" quando víamos um bocado de pessoas com bacias na rua juntando flores para enfeitar o defunto... tudo dá uma imensa saudade...

UM POUCO DE CONCEITO
As variantes linguísticas são as duas ou mais formas que veiculam um mesmo sentido e compõem o conjunto de uma mesma variável linguística. A variação pode ocorrer no léxico, na fonética (as pronúncias), na morfologia (como o apagamento ou não do morfema indicando infinitivo) e na sintaxe (estrutura das frases).

A Sociolinguística é a área da linguística que investiga como fatores de natureza linguística e extralinguística estão correlacionados ao uso de variantes nos diferentes níveis da gramática de uma língua e também no seu léxico. A Sociolinguística variacionista quantitativa ocupa-se em desvendar como a heterogeneidade da língua se organiza e compreende de que modo a variação é regulada. Um exemplo de ramo de estudo é tentar estabelecer as fornteiras dialetológicas de uma língua.


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colaboração: revista Língua Portuguesa - nº 20 - 2009

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