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9 de fevereiro de 2010

ELES TAMBÉM SENTEM DOR!


TERRORISMO - Fazendo uma leitura (quase) semiótica da foto, o boi não está gostando nada desse negócio de puxarem o rabo dele nas vaquejadas e ser derrubado nos rodeios. Se a imagem tivesse boa daria pra perceber o terror do animal nos seus olhos, ao sentir que foi laçado e que vai cair no chão pedregoso e quente do rodeio. | imagem: divulgação

VALDÍVIA COSTA

Eu também já pensei que vaquejada era diversão ou esporte. Natural, pois sou do Sertão e nesses lugares a truculência por si só já é uma cultura. Mas, na civilidade, nos grandes centros urbanos, essa prática continua sendo taxada de esporte sem ter nada a ver com modalidade esportiva nenhuma. Cadê a Copa dos Rodeios? Onde é que tem uma Olimpíada de Vaqueiros? O que se prolonga com essa prática medieval é somente o sofrimento do boi. Nem de vaqueiro um terrorista que derruba o boi deveria ser chamado.

Para amolecer alguns corações machões, que "pensam" em colecionar derrubadas de bois se orgulhando imensamente, o boi é um animal tranquilão, que vive pouco tempo pra ser morto e nos alimentar. Não bastasse essa dura certeza, de que ele não viveria entre nós sem ter essa função macabra de ser alimento humano, ainda temos que conviver com os maus tratos que esse animal sofre nesses "esportes" que não promovem competição e sim tortura.

Me lembro muito bem que ia a uma vaquejada não pra olhar os bois gigantes caindo, pois já sentia muita dó dos animais, mas sim pra curtir um show de forró (antes, pé-de-serra) e paquerar. Depois não vi mais nada pra fazer nesse tipo de evento, nem fui ao terceiro ou quarto e já me liguei noutra história. Naquele tempo (1990), os "vaqueiros" eram menos exibicionistas, mas nem um pouco menos cruéis.

Atualmente, esses homens que derrubam bois mostram um visual meio estranho (parecendo duplas sertanejas modernas, que não têm nada de sertenajas) e o sentido pra o "esporte" ficou mais vago ainda. Quando trabalhava como repórter de jornal diário entendi porque os jovens, cada vez mais jovens, queriam ser "vaqueiros": pela grana. Eles oferecem milhões em prêmios, caminhonetes etc. pra quem fizer a queda do boi mais bonita.


CAMPANHA - Panfletos rolam por toda Campina Grande com campanha sobre os maus tratos sofridos pelos bovinos nas vaquejadas e rodeios. | imagem: divulgação

Os jurados que avaliam a queda mais perfeita de um boi devem ser uns retardados. O que tem pra avaliar numa queda de boi? Se o animal cair fora das linhas marcadas, a nota é mínima. Mas alguns jurados, se achando o máximo em julgar uma prática violenta e sem noção, dão 10 quando o boi praticamente dá um pulo ninja, revira no ar e cai no chão com as quatro patas pra cima. A macharada da platéia levanta e grita, arrebatados pelo dantesco, a única coisa que os une.

Até as Pegas de Bois, tradicionais corridas pelas matas cinzas e secas do Cariri, nas quais o boi ainda pode se defender e atacar o vaqueiro, eu não desconto o mau trato animal. Se não ficarmos rígidos nessas posturas teremos um "esporte" sanguinário nos seguindo pós-modernidade adentro. Que os "vaqueiros" atuais encontrem numa mulher (ou num homem) o suor necessário pra esgotar essa vontade ridícula de derrubar um boi.

O engraçado é que, sabendo que estamos maltratando e não nos divertindo, podemos brincar com um trocadilho infame nessa história toda: quem é mais gado num rodeio ou numa vaquejada, o "vaqueiro" ou o boi? Só Zé Ramalho pra decifrar esse povim, my God!

...E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz...

2 comentários:

Toninho disse...

Eu concordo em tudo. É uma modalidade da cultura q de fato mostra o dantesco como a Val classificou bem.
Além de fazer essa tortura, a vaqueja hoje em dia é feita nos moldes de um grande evento. Aglomerando uma porção de gente carente de cultura e sensibilidade. Em alguns momentos me parece q temos q deixar de lado o olhar relativista da cultura para um golpe de vista mais no horizonte da vida!

Anônimo disse...

Concordo. Vamos nos mobilizar contra isso?

http://enleio.nafoto.net/