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31 de março de 2010

SERES MAL ENCAIXADOS


RARO - Um dos grandes ícones da juventude nesse período a que me refiro no texto abaixo foi Caetano Veloso, com o movimento tropicalista, que mudou a maneira de vestir e pensar de milhares de jovens brasileiros... E ainda tinha a ditadura militar no tempo desse LP Pipoca Moderna (raro & inédito)... | imagem: Psicodelia brasileira

VALDÍVIA COSTA

Somos fortes e fracos, o tempo todo. Geração estranha essa nossa, que nasceu pós revoluções, pós acentuação do capitalismo, com maior parte das grandes invenções... Vivemos divididos entre valores e tendências, entre ser e estar, entre ideia e matéria. Antes de nós, a densidade humana se formando com pensadores e descobertas inéditas. Depois de nós, a virtualidade e toda a sua complexidade tecnológica.

Viveremos um período no qual o centro de tudo será uma máquina, talvez um aparelho celular? Sim, pois já tivemos Natureza e Deus como centros de nossa existência e nada de além-humano foi consolidado (salvo para os que creem em suas doutrinas). Parece que, em todo lugar, vai haver agrupamento humano e divisões de crenças e ideologias. E nós, geração de 70-80, entendemos os processos, participamos, mas nos sentimos mal encaixados.

"Sinto falta de diálogo, de humanidade, de coisa que só gente sabe fazer, ensinar e gostar". Escuto reclamações assim e me sinto partida ao meio: metade quer ser isso, sabe ser assim e pode passar esse costume adiante; outra metade recusa tudo e já se preocupa no próximo passo à permanência social como competência de alguma coisa.

Felizes são nossos filhos, que vão ganhar o mundo desse milênio. Ou infelizes, depende da ótica e do jeito que vamos continuar mantendo a Terra. Sinto-me arrumando a casa para meu filho. O sentimento de pertencimento não me invade. Vivo pensando num progresso material que não vai me servir, depois de idosa, por exemplo. Mas sim, será do meu filho, talvez mais ainda de meu neto.

Que grandes invensões verá meu neto! Se ele vir... Do jeito que caminhamos, cada vez mais definhando enquanto espécie racional (que cria sua natureza dentro da natureza já criada), imagino a evolução cibernética atrofiadamente desumana que teremos. Talvez sufoquemos o mundo! E talvez o planeta nos expulse com uma sacodidela qualquer em sua crosta. Ainda assim, prefiro estar vivendo.

"Samba devagar..." Disse-me Jam da Silva esta semana. Acredito nele e vou me esquivando das certezas e das verdades. Elas acorrentam e não dá para construir, reorganizar e arquitetar sem liberdade. A divisão entre o bem e o mal seguirá adiante. Somos frutos de um tempo em que os hábitos eram gestos simbólicos. Hoje, os costumes são fragmentários, como o fast food ou a literatura de auto-ajuda.

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