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5 de abril de 2010

VIDA LONGA AO GONZOJORNALISMO


IMPERMEÁVEL - Devíamos criar agências de gonzojornalismo pra falar, de maneira nova, brilhante, sobre os fatos corriqueiros, como Gay Talese sempre pregou: "algo que sobreviva ao tempo"; e não vivermos apurando versões da verdade, tentando escrevê-la da maneira a mais regrada possível. | imagem: Dagomir Marquezi

VALDÍVIA COSTA

Demorei hoje a postar porque estava tentando, imprensando, esmagando a mente procurando alguma palavra sobre jornalismo. É, nunca mais escrevi sobre essa profissão estranha que escolhi pra levar. Aí fiquei delirando que, com essa comemoração do Dia do Jornalista esta semana, teria que "dizer" algo a alguém. Tipo: professora de jornalismo (risos). Bem, aí me veio o gonzojornalismo na cabeça. Seria ele o estilo que salvaria nossa profissão?

Sim, porque, no Brasil, a profissão de jornalista está por um fio de escape, avaliando seu real funcionamento depois da desobrigatoriedade do diploma. Até Bayeux-PB já está desdenhando da gente, contratando qualquer pessoa com ensino médio pra fazer a assessoria de imprensa, trabalhando oito horas diárias, ganhando um único salário mínimo. Na verdade, acredito que o buraco é no subsolo, beeeem mais embaixo mesmo.

O nosso maior erro no Brasil foi ter iniciado essa profissão dessa forma, com a "garantia" diplomática que, no fim das contas, só serve pra aquele profissional acomodadão, que fica achando o máximo dizer que é "formado". Quem está no front de batalha atualmente, degladiando e perdendo sangue, são os perfis mais diferenciados de comunicadores, que dipensam não só a formação como a praxe. A internet é a arena deles.

Mais voltando à problemática dessa decaída profissional, o que eu acho que complicou tudo foi o brasileiro querer se meter a fazer uma profissão intelectualizada respirando um ar comercial. Aí entraram em cena interesses políticos e saíram da briga o conteúdo formador e educativo, além de ter fugido da raia o incentivo à leitura. Com esses desfalques, o time da literatura ficou na reserva, sem chutar no gol.

E isso foi péssimo pra nossa identidade, pra o nosso desenvolvimento como classe trabalhadora bem como pra nossa intelectualidade. Ah, mas os meus colegas da praxe, apaixonados pelo release secão, institucionalizado logo no lead, nem ligam! Para eles, o que importa é o piso salarial, cada vez mais ridicularizado. Lembro bem da época em que, na Paraíba, um repórter policial e um editor metidos a gonzojornalistas tentaram escrever as notícias assim, fugindo à pirâmide invertida americanizada.

E eu, trabalhando no mesmo jornal, numa sucursal, achei aquilo o máximo da revolução jornalística. Ninguém, além de nós três, entenderam coisa alguma dessa proposta inovadora. Recordo que o repórter saiu do jornal muito chateado porque estavam dizendo em todo canto que ele não sabia fazer jornalismo. Os policiais me perguntavam se não tinha ninguém pra "ensinar" o repórter da Capital a "escrever de verdade".

Bom, como ainda nem completei meus 10 anos de batalhas nesse terreno inóspito e árido que é nossa área, ainda no calor bitolado do Nordeste, espero que comecem a escrever, na internet (meio que prevalecerá mais daqui por diante), pessoas com bom nível de leitura. E aí, iniciativas como a Irmandade Raoul Duke de Gonzojornalismo podem ser mais aproveitadas, lidas, comentadas e consumidas. Não vou me estender, pois tá tudo lá, conceito, textos gonzos etc.

Apenas queria despertar o interesse de algum estudante de Comunicação Social por este que, sem sombra de dúvida, tem a verdadeira essência do jornalismo: a criação. Afinal, escrita é literatura e o método da pirâmide invertida é só um jeito americanizado e econômico de se escrever. Eita! Mas não digam isso aos editores de jornais diários. Eles podem lhe marcar como uma eterna foca, que não sabe sequer "arrumar" um texto.


PROTESTO - Vejam com esse repórter do Piauí como seria um telegonzojornalismo abrasileirado, muito mais dinâmico, que causa, através do riso, uma reflexão de um problema factual. | vídeo: Daniel

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