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30 de julho de 2010

O PAI DA LUA CRESCEU!


























AMIGO - Depois de cuidar de um filhote de Pai da Lua, a pessoa fica sendo conhecida pelos pássaros como da família, por isso esse adolescente dessa espécie foi visitar o seu protetor... | imagens: Aramy Fablício

VALDÍVIA COSTA

Na região metropilitana de Campina Grande, no ano passado, a cidade de Fagundes mostrou-nos um pássaro exótico, diferente dos vistos no Nordeste. A ave parece imponente, com seu ar soberano. Primeiro pelo tamanho, segundo pela beleza de pose, a mirar o céu. E foi devido a essa pose que o pássaro ganhou o nome de "Pai da Lua". Lá em Fagundes, ele é super bem protegido pelo ambientalista Aramy Fablício, que escreveu essa história de amor e dedicação em troca de nada material, apenas para salvar a fauna.

Alguns estudiosos denominaram a ave de Urutau-comum (Nyctibius griseus), uma ave da família dos nictibídeos, presente da região da Costa Rica à Bolívia, em todo o Brasil, Argentina e Uruguai. Chegam a medir 37 centímetros de comprimento. Nada de novidade para o ambientalista, que é acostumado com o estiloso animal desde pequeno.

Enquanto os moradores de centros urbanos, pequenos ou grandes, disputavam roupa ou brinquedo melhor, Aramy aprendia com a avó que o canto do Urutau não era horripilante como parecia. Devido aos gritos fortíssimos, monossilábicos (groaa), repetidos de 10 e 20 segundos, o então menino curiou em descobrir mais sobre essa ave que alimenta-se de besouros e morcegos. O que ele conseguiu com essa investida ecológica?

DE ACORDO COM "- Em meio a tanta urbanização, você escolheu cuidar da fauna e da flora do Sítio da Pedra de Santo Antônio. Encontrou um pássaro raro chamado Urutau, o conhecido "Pai da Lua" dos fagundenses. Conte sua história com essa ave rara, que parece um pau apontando pro céu, e que você defende.

ARAMY FABLÍCIO - Nasci, cresci e ainda moro em Fagundes. Desde criança que eu escuto a ave Pai da Lua soltando gritos na noite de lua cheia. Nessa época eu tinha medo, mas minha avó, que viveu até os 102 anos, dizia para eu não ter medo que era só uma ave noturna chamada de Pai da Lua. Daí, uma vez, eu andando dentro da floresta, vi a criatura... fiquei abobalhado com aquela ave enorme, parada, como um pedaço de pau! Passei a, quase toda noite de lua cheia, ir pra dentro da floresta para escutar os gritos dela. O tempo foi passando e não se ouvia falar nesta ave, só os mais antigos escutavam ela cantar, mas poucos viram esse pássaro. Escutar ela gritar é uma coisa, mas ver a ave é outra coisa! Não é à toa que os índios a chamam de "ave fantasma". Sei que, quando eu andava na floresta durante o dia, ela me via e durante a noite, onde ela domina, já que é uma ave noturna, ela também me via. Só tinha visto um Pai da Lua duas vezes até encontrar o ninho em abril de 2009.

" - Continue. Fale sobre esse encontro e o que você aprendeu com essa ave.

AF - Eu lembro que estava indo tirar umas fotos de dois filhotes de urubus quando vi aquele ovinho no topo de um galho seco com a criatura dando complemento ao galho. Fiquei bobo! Mas o ninho tava próximo de uma área que tinha muitos saguis. Era uma área de dormida. Eles formam grupos que variam até doze por bando. Sabia que eles iam comer aquele ovinho, pois são onívoros (que se alimentam tanto de tecidos animais quanto vegetais, como o lobo guará). Quando os saguis acordam estão com uma fome voraz. Se alimentam de frutas e, também, de ovos de aves, filhotes de aves e insetos como gafanhotos. Fiquei lá e dormi em cima de um lajedo, porque estava num período de seca. O perigo deles atacar a ave e comer o ovinho era bem maior. Quando amanheceu o dia, afugentei todos e eles foram pro topo da serra. Fui em casa, peguei minha barraquinha de campo e acampei. Não para estudar a ave, mas para os saguins e outros predadores não comerem aquela pérola frágil. À tardinha, eles voltavam para dormir, mas voltavam com a barriga cheia e não incomodavam. Foram-se passando os dias e comecei a pensar: "esta ave vai nascer quando? E depois de nascida, vai voar com quanto tempo?" Percebi que tinha entrado em uma guerra grande e não podia voltar mais atrás. Passei fome, frio, pois a barraca com o tempo ficou ressecada. Com a chegada do inverno, mal dormia com frio, as chuvas, cada vez mais, eram intensas. Mas sabia que era uma missão. Por ficar muito tempo sem contato com pessoas, comecei a ficar com medo de caçadores ou pessoas que poderiam querer as aves para empalhar e vender para colecionador. Excêntricos, que pagariam uma fotuna por aquelas criaturas exóticas e pré-históricas.

" - Como você estava na floresta munido de máquina fotográfica, fez fotos do achado raro e enviou para a imprensa?

AF - Um colega de jornal escrito publicou uma matéria depois que enviei uma foto. Daí então o telefone tocava o tempo todo e eu não podia mais discriminar nenhum jornal, pois já tinha matéria em outros. Mas foi aí que comecei a pensar e ficar com mais medo de caçador e colecionador. Só ia em casa pegar mantimentos e isto era à noite. Quando saia, quando chegava, dentro da floresta, me escondia numa moita para ver se alguém estava me seguindo. Era uma paranoia! Efeito, já, de tantos dias na floresta. Altas horas da noite ficava olhando se estava tudo bem. Quando cedinho, acordava e ia ver se o filhotinho tinha nascido. Daí, com 30 dias exato, observei que a ave tava com umas penas encobrindo o filhotinho por causa do frio. Percebi que o ovinho tinha eclodido e, quando o dia ficou mais claro, vi a criaturinha, todo peladinho... aí, a responsabilidade aumentou e fiquei mais próximo do ninho, sem sair das imediações. Fiquei tão amigo da ave mãe que passava a mão nela, mas sei que ela já me conhecia desde quando eu andava na floresta. A criaturinha foi crescendo e, mesmo novinho, já ficava com o biquinho levantado para o alto, com o mesmo comportamento da ave mãe. Com 41 dias, sem nunca sair do ninho, o filhote foi se afastando durante o anoitecer. Enquanto fui pegar algo pra comer e um casaco, ele já estava em outro galho e as aves velhas no topo de outra ave seca. Fiquei até umas oito horas, depois foquei com a lanterna e ele já tinha voado pra natureza. Fiquei horas e horas com a lanterna, procurando, pra ver se eu via, mas sabia que a missão tinha sido cumprida.

" - Ao todo, entre cuidados, manutenção do habitat do Pai da Lua, quanto tempo você ficou na floresta? O que essa atitude, de isolação do mundo humano e entrega à natureza, te causou?

AF - Fiquei 71 dias morando na floresta. E mais um dia e uma noite para ver se eu via a criaturinha. Total: 72 dias. De manhãzinha, desarmei a barraca, mas muito orgulhoso porque fiz minha parte. Ajudei aquelas raras criaturas. Um dia desses estava anoitecendo e o filhote estava na beira da floresta, no topo de uma estaca. Fui pertinho e tirei umas fotos. Conheci logo a criatura, levando em conta que eles (mãe e filho), cada um, tinha umas pintinhas diferentes na plumagem, como umas digitais. E a plumagem dele (o filhote) ainda estava um pouco clara, mas já dava para se camuflar. O único erro dele, por ser jovem, foi, antes de anoitecer, estar quase fora da floresta. Mas o legal é que a floresta é muito grande e não tem casas por perto. E ela é muito esquisita, ninguém anda nela, já que faz parte de uma área de preservação do projeto Biqueira Velha, que é uma plaquinha confeccionada com zinco, reaproveitada das biqueiras ou calhas velhas de aparar água para sisternas. Nelas, eu escrevo a frase: PROIBIDO CAÇAR E CAPTURAR ANIMAIS. Essas plaquinhas, eu faço doações para os grandes ou pequenos propietários de terras. Devido às propiedades de Fagundes e cidades vizinhas terem estas plaquinhas em frente a quase todas elas, não importa se tem um ou mil equitares, em toda propriedade que tem plaquinha na frente, se torna uma grande área sem ninguém caçar nem capturar animais. O projeto Natureza Livre, eu falo que é filho do projeto Biqueira Velha, que demarca uma área de soltura e preservação ambiental. Quanto às aves, toda noite de lua cheia, vou pra floresta escutar os gritos dos Pais da Lua. Nesta noite de lua cheia, os gritos foram um show, já que não chamo aquilo de canto.

" - Essas novas fotos, do pássaro filho já adolescente, você as conseguiu este ano?

AF - Estas fotos são raras. É a continuação da história! Todos perguntam pela ave, o tempo todo. Muitos nem entendem que eu tava ali protegendo. Outros pensam que eu tenho ave. Outros perguntam se eu vejo as aves. Já veio até turista apaixonado por esta ave! Ele queria ver, mas expliquei pra ele que a probabilidade era zero. Mesmo assim, ele quis vir apenas para sentir a atmosfera onde estas aves moram, mas, lógico que cheguei apenas perto e expliquei pra ele e ele entendeu e respeitou, ficou satisfeito. Isto (as fotos) foi uma espécie de um obrigado que ele (o pássaro) pediu a mim este ano. E para mim foi uma prova de missão cumprida. A cara dele (a ave) ainda é de adolescente, com aspecto de bobinho ainda. Mesmo com o tamanho e a plumagem quase da mesma cor dos adultos...

6 comentários:

Anderson Ribeiro disse...

Exótico e raro, como o Aramy. Histórias boas de serem contadas e lidas.

Toninho disse...

Concordo com Anderson. Se essa narrativa for verdadeira mesmo como parece, Aramy e a Ave são a glória da vida.

Marília Barreto disse...

Interessante a entrevista com o "padrinho" do pai da lua.

bjs e bom fim de semana =]

Aramy Fablício disse...

Parabéns, jornalista Valdívia, por sua sensibilidade de querer saber como ficou a história das aves fantasmas. ...Vi o filhote apenas uma vez e aproveitei este momento raro para tirar umas fotos de uma ave rara. Esta matéria vai tirar dúvidas das pessoas e informá-las como ficou a história. Por isso, mais uma vez, parabéns por seu profissionalismo e também por você publicar matérias pela causa ambiental, e outras matérias super interessantes.

Anônimo disse...

Simplesmente SENSACIONAL!, PENA QUE SE TENHA TAO POCA DIVULGAÇAO DESTAS COISAS , QUE DEBERIAN SER DO INTERESE PUBLICO E NAO AS BESTEIRAS COSTUMEIRAS. Bravo Aramy, continua assim ValdiviA, MINHA REPORTER FAVORITA!

De acordo com disse...

Valeu, Gustavon! (post anônimo acima) Conheci-o pelo 'sotaque' argentino" rss Até na escrita denuncia-te, hombre! hehehe Vamos atrás do quadrinista da Liberdade... Bj!