8 de setembro de 2010
QUEM É MAIS HUMANA?
CONVERSÃO - O humano muitas vezes vira máquina, e o natural é estar no ciberespaço, totalmente inconsciente da vida... | imagem: Val da Costa
VALDÍVIA COSTA
Respiro o que dá pra sugar desse ar repartido. Divido o espaço com ela, a devoradora das belezas. Mete-se na frente do natural, aparece do nada e se faz notada. Apesar de bonita em cores e formas, ela é montagem humana, eu não.
Fico a regar as plantas, iluminar a terra escura ou poeirenta, inspirar a um poeta apaixonado. Ela, a tremular, corre por pontos concorrentes em segundos, atrai os olhares e vai embora, levada pelas correntes fortes do Sul, fugaz e insolente.
Não reclamo porque, afinal de contas, entendo que ela não tem noção do que é nem do que eu sou. Ela só faz isso porque foi feita para aparecer. Eu não sei pra que fui feita, mas não tenho dono, nem roteiro. Apenas existo e sou alvo por isso.
Ficamos, as duas, no céu. Tarde da tarde nos encontramos, às vezes. Ela, ignorando seu estado inanimado, passa esnobe num semi-círculo desenfreado na minha frente. Também não sou obrigada a falar com quem me é indiferente.
Mesmo que esse ser não saiba de si nem de mim, eu que nada também posso saber, não me obrigo a dar-lhe algum entendimento. Ainda mais hoje, que estou cheia de coisas tristes, enjoada com esse itinerário permanente da constelação solar...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Por este lado do "mundo" costuma-se dizer que:
"andas aluad@"
"com a cabeça na lua"
"a lua é dos poetas"
"ser feliz é contemplar de manhã o sol e à noite a lua"
"cada problema tem uma solução, a lua só tem quatro razões"
... e uma miríade de admirações que os olhares perscrutam nos céus.
Não sei não que é mais humana, mas sei quem está mais humanizada.
Cumprimentos deste lado da lua
À vontade dos ventos
Na leveza do vão,
nesse espaço que mantém
hora tudo suspenso.
A pipa, a lua, o que penso.
Visita de dois poetas à lua! \0/
Valdívia, seus textos são uma poesia fluida, coloquial, que me deslumabram a cada visita possível nesse tempo impossível que manda em nós e que quase não nos permite na correria, a despeito da agilidade própria da net, nem mesmo uma chegadinha num fim de dia para ter esse prazer que a palavra bem dita proporciona. Informação só, não basta. Tem que ter lirismo. E isso você nos oferece, fugindo ao ordinário.
SQ
Uaau! SQ, vc me emocionou. Obrigada pelas flores nas palavras. Volte sempre, viu? Mas, mais poesia pra nós!
\0/\0/\0/
Postar um comentário