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15 de novembro de 2010

ILUSIONISTA

SENTINELA - Sempre esperamos um amor perfeito... mesmo sendo imperfeitos. | imagem:  A trama
VALDÍVIA COSTA


Para que a coragem se o que falta é o amor? Para que o amor se o que falta é a liberdade? Nesse labirinto de intenções entrelaçadas a descrenças, perdemos a praxe de procurar a saída. Esperamos a luz, procuramos o foco, mas nada transforma. O vazio é clausura, mas, só ele, é quem preenche a casa.

Cômodos ocos, gavetas transbordantes de exílios, de épocas em que pouco nos preocupavam as pessoas... Assim foi mantida a vida, arrumada pra visitas, enfeitada pra vitrine. Só que sentimos o anúncio de todas as mudanças. Antecipado, ele é alvo de quem calcula, a anos luz de distância, o tempo.

Somente essa passagem nos remete aos porões onde trancafiamos as verdades. O tempo, na casa, arrasta as correntes, assombrando a cela de uma cabeça prisioneira. Assovios... é o vento cruzando quartos e salas, cantando essa solitária vida encravada entre relíquias inúteis para conversas.

Somos nós que instalamos as vontades. Acomodamos todas elas em prateleiras de fácil acesso para querê-las sempre. Essa tarefa, às vezes, desfeita por uma ou outra verdade, que escapole da clausura, é executada à risca por quem tece ilusões sentado em cadeira de balanço, exibindo e recolhendo a dor de não ser, de não saber ou de não aceitar.

 Achar que tudo é lucro causa conflitos intra e extra venal. Misturar valores com sentimentos é querer que a morada seja gente, que o dinheiro fale (e alto!) e que o sentimento flua das paredes. E a casa tem suas lacunas, apesar de mobiliada e frequentada. O sopro frio e milimetricamente congelante percorre o imo de quem mora nela.

Tudo o que preenche os olhos não agrada o espírito porque, de fato, não é conteúdo o que a casa precisa. Sentimentos e sentidos outros que nunca chegam. Por isso, a porta aberta, esperando uma visita que traga lembranças agradáveis.

Ou a esperança, fraca, resiste ou a vida ainda interessa. Certamente, o amor não é água batendo em pedra dura, pois não o vemos, não o sentimos, apenas o confundimos com a doença do apego, que se desmancha como mágica. Amar assim é desdobrar a memória em gestos de carinhos que não repetem-se mais. É tocar nas posses, apertá-las de encontro ao peito, suspirar, chorar e dormir rezando pela próxima visita.

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