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22 de dezembro de 2010

CONTRA MISSÕES IMPOSSÍVEIS

POR FORA - Não assediar é a melhor estratégia de produção. | imagem: Welington Corporation
Eu nunca fiz, sou incompetente nesse quesito. Mas muitas amigas minhas "conseguem" fazer três matérias especiais numa semana. Sim, isso num tempo que lauda, texto e gancho enxugaram. Mas num momento de descaso ou desapego profissional, em que os resultados são cinco parágrafos enganosos, com no máximo uma coordenada de mais um parágrafo para tapear o leitor, todos fazem.

Ninguém é doido de discordar de um pauteiro ou chefe de reportagem. Capaz de vir uma daquelas mandingas brabas de perseguissão. Melhor se fazer de doida. "Lá, lá, lá...", com o mp3 pra cima e pra baixo. Nem isso nem o atrito resolvem. O clima só melhora com um pedido de demissão. A risada diabólica do editor é um eco abafado dentro dele mesmo, disfarsada com uma cara branda...

Muitas são as histórias de assédio moral, isso que jornalista passa de ruim em redação e não comenta nem a pau, com medo de ser taxado de fraco ou qualquer desmérito assim. Poucas que tragam boas novidades sobre o tema, como esta que está empurrando um projeto que logo será lei no Brasil, pra defender vítimas de maus tratos e assédio moral nas empresas.

Os jornalistas e o projeto do bom Jesus

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou na quinta-feira (6/12), por unanimidade, um projeto provavelmente tão pouco conhecido quanto o seu autor, o deputado Marcos de Jesus, do PL pernambucano. O paradoxal é que, por definição, a proposta interessa a todos os assalariados brasileiros – antes a alguns do que a outros, porém, conforme a natureza de seu trabalho e as condições, no sentido amplo da palavra, em que é exercido. Não é preciso ter passado mais de um dia inteiro numa redação para saber que os jornalistas estão entre aqueles com quem o assunto tem tudo a ver.

O projeto pretende punir com até dois anos de cadeia o assédio – moral, no caso – nos locais de trabalho. A expressão, como já se verá, talvez não seja das mais felizes, porque sugere uma duvidosa analogia com aquele outro assédio que consiste em o (a) chefe chantagear o (a) subordinado (a) com o infame "dá ou desce": sexo como moeda de troca para subir no emprego ou para não cair em desgraça.

O assédio que o deputado quer castigar não envolve nenhum dá-cá, toma-lá. Mas, se não é pior do que esse, com certeza é muito mais freqüente e inferniza a vida e a saúde de um número incomparavelmente maior de trabalhadores. Segundo o projeto, estará cometendo assédio moral o chefe que depreciar a imagem ou o desempenho do chefiado, ou que o tratar com rigor excessivo, ou ainda que dele exigir missões impossíveis, como fazer em um dia o que sabidamente leva, digamos, uma semana.

Baseado em dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), segundo os quais 13 milhões de europeus se consideram destratados no emprego e têm problemas de saúde por isso, diz o deputado que "essas situações criam danos físicos e emocionais ao trabalhador". Os jornalistas que o digam.

Não bastassem os ossos irremovíveis do ofício (sendo o maior e mais dorsal de todos a maldição do fechamento) e o brutal acréscimo da carga de trabalho (resultado do downsizing das redações, onde, hoje em dia, se espera de cada qual que faça o que havia três para fazer há uma ou duas gerações de profissionais), exerce-se o jornalismo, em qualquer de suas modalidades, sob o tacão do que se poderia chamar, com perdão pelo pedantismo, "cultura autoritária de comando".

Ela não raro credencia quem manda mais a tratar quem manda imediatamente menos, e assim por diante, até o degrau mais baixo da hierarquia, como algo parecido, em menor ou maior grau, com o proverbial cocô do cavalo do bandido. Essa cultura, como se sabe, é comum a inumeráveis atividades, e, à parte quaisquer outros fatores, tende a se acentuar quanto mais verticalizada for uma estrutura produtiva.

Leia mais: Observatório da Imprensa

Autor: Luiz Weis

Boa - Já passou dessa fase e está tentando levar uma micro empresa de comunicação? Cuidado com o "espírito emergente extravagante", que tanto está levando os novos jornalistas a trabalhos forçados, com cargas horárias escravistas... Baixe manual de boas práticas de mercado (de Pernambuco, mas dá pra adaptar) para atuar com mais respeito aos colegas empreendedores ou freelancers. Guia Boas Práticas

2 comentários:

Jorge Elô disse...

Gostei muito do texto.
Tem total razão sobre a pressão em cima do trabalhador.
E conheço bem essas pressões nas redações da vida.
=)
Parabéns!!!

De acordo com disse...

Vlw, Jorge! É isso mesmo, temos que acabar com essa pressão... ninguém é panela de feijão, né? rss Bjs!