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24 de dezembro de 2010

SENSAÇÃO APOTEÓTICA


Fim de ano é sempre a mesma miséria. As pessoas se empanturram de tudo e quem não tem nada para gastar só deseja. O mal é o primeiro item da lista desses desafortunados. "Porra de Papai Noel! Um velho que distribui presentes muito mal, não é brasileiro e ainda é um escravista animal, com um bando de viados pra arrastar seu peso pelo céu..." Depois desejam dinheiro... "Comprava essas neves, o presépio, meio mundo de presente, os reis magros, os gordos também..."

A tristeza menosprezante da data não é pelo apelo excessivo ao consumo de tudo e ainda 'o diferencial'. É pela falta de noção dos símbolos, pela discrepância entre os signos religiosos ou de entretenimento e pela imensa falsidade de luzes e cores que inebria criancinhas e os adultos também (!).

Campina Grande fica pegajosa nesse período. Há uns seis anos que pegam pesado na pisada do ganzá. Na entrada, no monumento moderno que antes emblemava a cidade com o cosmopolitismo, agora temos um ridículo Papai Noel. Um "nada a ver" com a paisagem e com a história da Rainha da Borborema, mãe macroecumênica de todos, menos daquele ex-boneco erótico inflável.

Seguimos pela "Avenida Brasília" e nos deparamos com uma praça redonda, na frente do Parque da Criança, um dos mais belos lugares verdes de Campina. Hoje tristemente sobrecarregada de eletricidade. Luzes multicoloridas percorrendo troncos de árvores, elevando formas esdrúxulas, atraindo pessoas moscas (aquelas que adoram pisca-pisca para tirar a 'foto do Orkut').

Enquanto essa ornamentação escarlate e de gala percorre diversos outros lugares visitáveis, milhares de crianças e adolescentes passaram, ontem e hoje, os dias mais pancadas de suas pequenas vidas. Nos sinais, nas esquinas, nos bares, restaurantes, praças... Eles estão pedindo, vendendo, oferecendo serviços, o corpo e até os irmãos menores somente para consumir, ao menos, o jantar de Natal.

Sem Jesus de Nazaré, a data ainda foi inicialmente escolhida para corresponder com qualquer festival histórico romano ou com o solstício de inverno. Na verdade, o Natal é o epicentro dos furacões consumistas. Os feriados de fim de ano e da temporada de férias se entrecruzam e ainda trazem boas vibrações para os vindouros doze dias de mais consumo.

Tradicionalmente, é um feriado cristão, mas muitos não-cristãos, como as bruxas ou Wiccas, também aproveitam a festa para emanar boas vibrações, gastar com incensos, velas, comidinhas... Ah, trocamos cartões nesta época. Agora, os virtuais, com suas animações, sons e outras "mumunhas mais". A Ceia de Natal, músicas natalinas, festas de igreja, o peruzão, decorações diferentes como a circundantes guirlandas, o misterioso visco, os cada vez menores presépios...

É tanta representação que esquecemos de fato quem somos e pra onde vamos. Enquanto não sabemos refrear aumentos salariais estratosféricos de políticos e presidente, a festa chega e vamos a mais um branco coletivo. Mesmo lisos. Mesmo lesos. Estratégicos eles! Embriagados nós! Que vidramos em apenas mais um espetáculo midiático, corroborado pela união familiar propiciada pelos feriados. Tchan-ram! A sensação de 'grand finale'. Com pedidos e orações fortes para o próximo ano.
 valdÍvia cOsta

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