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23 de janeiro de 2011

AUTORITÁRIOS

Tira de Jesus Martínez del Vas, copiada do Num Clique
# Uma das coisas que contrastou mais com o jornalismo, na minha mera opinião, foi ver os colegas experientes com uma herança enviesada do militarismo do meu pai. Ele nunca serviu as Forças Armadas, mas foi filho de um homem autoritário. A gente tinha medo dele só dele olhar pra gente. Um chamado dele com raiva era quase como uma chicotada. Lembrei muito dele e desses métodos pressionativos de respeito quando atuei na imprensa paraibana.

Para uma pessoa que se reeducou na vida sozinha, removendo essas arestas grotescas sem um manual, ver jornalistas de carreira "ensinando" a praxe aos focas assim, é incompreensível. Principalmente quando se escuta os gritos, as humilhações e até as indiferenças montadas em nome da produtividade. As táticas de pressionamento psíquico fazem animais, seres que não se comunicam com a fala, se amedrontarem. Imaginem humanos, que entendem a agressividade e ameaças que vêm nesse discurso!

Essa pressão que tanto aliena quanto separa as pessoas comunicativas dos jornalistas militares, digo, militantes, é pela melhor produção possível de notícias. E funciona? Olhando superficialmente o jornal no meio em que ele é posto, impresso ou eletrônico, do ponto de vista comercial, principal retorno que um meio de comunicação busca, às vezes, sim. A manchete é encontrada, ilustrando o noticiário com um chamado que pára tudo para ser lida/ouvida.

Mas, do ponto de vista social, analisando o resultado que essa notícia conseguiu alcançar ou a realização do profissional como difusor de uma informação útil para um maior número de pessoas, não causou nada. Muitos fatos na imprensa só satisfazem um editor executivo e só é absorvido pelos concorrentes. As pessoas hoje procuram por muito mais fontes de informações do que os meios tradicionais. É fácil ser ombudsman atualmente, basta ler mais, acompanhar...

Por causa desse entendimento antigo, de que notícia se tira na pressão, muitos colegas estão no comodismo de um expediente amarelado de um jornal se achando o verdadeiro profissional de comunicação enquanto os blogueiros, por exemplo, ganham mercado, montam empresas, edificam uma nova e evolutiva comunicação. Meu pai também acreditava que nos educava, que nos ensinava a vida, com seu autoritarismo pulsante. Mas eu, com meu subversismo entranhado, conseguia burlar as regras. Por que um ou outro jornalista não consegue?
Tira copiada do Acreano e a Acriano
Apesar dos meus colegas se sentirem o máximo coagindo e aceitando a pressão por um emprego num meio de comunicação, pra mim, esse modo de trabalho só mostra a velha dança das cadeiras, na qual dominados e dominantes se revesam, interminavelmente. Onde tem um grupo de seres humanos, sempre tem os que querem amarrar a língua e distorcer os pensamentos libertários.

O que temos na imprensa hoje com esse método que se arrasta anos adentro na pós-modernidade? Profissionais inseguros, acríticos, frustrados, bitolados à informação... Um dia vi um desses "líderes" serem ridicularizados pelas costas, como é de costume nesse sistema amador de tabalho. Num almoço entre um chefe de reportagem e três jornalistas, ele admitiu que a única leitura que fazia, há anos, era de jornal impresso.

"E os livros?!", as três jornalista questionaram. "Isso", ele disse que ensinava aos filhos. A leitura científica, literária ou qualquer outra que deveria estar formando o jornalista crítico, ele ensinava os filhos a gostar, pois ele mesmo não gostava. Essa conversa dasanimadora, com tom de lavagem cerebral, ocorreu após uma palestra que o jornal no qual eu trabalhava tinha oferecido aos mais de 100 jornalistas. Tudo partiu da lembrança conjunta e envergonhada do palestrante perguntando quem na sala já tinha lido "Casa grande e senzala" e ninguém (até eu) levantou a mão.

Depois dessa convivência emburrecedora, além de ler a obra do sociólogo Gilberto Freyre, que me mostrou a realidade em que eu estava tentando me inserir, no escravismo medíocre e achatador em que eles fazem-nos acreditar ser o jornalismo, tratei de abrir as butucas de olho e ir aterrisando nesse solo desgastado que é nossa profissão.

Nunca pensei que o que "aprendi" numa faculdade, mesmo que pobre, mesmo que ultrapassada, seria em vão. Principalmente leitura, o alimento do comunicólogo ou de quem se propõe a trabalhar com comunicação. E quem o admite, na humilde opinião de uma desempregada, desmilitarizada da imprensa, é o mesmo que emitir um certificado de "porrada" pra o primeiro fóssil preconceituoso atingi-lo no seu discernimento. Sem essa visão, você vai ser mais um caolho em terra de cegos e visionários.

# valdívia costa





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