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3 de janeiro de 2010

SURPRESA!


imagem-montagem: Val da Costa

VALDÍVIA COSTA

Voltei de surpresa. O ônibus ia chegando, as casas acanhadas aparecendo como pontas de lápis coloridos na caixa e eu ancioso por encontrar os parentes depois de uma década nos Esteites. Veio à mente aquele frescor juvenil que me impulsionou numa aventura sertaneja quando adolescente desbravador.

Nada como chegar em casa. Home sweet home! Conheço cada ruazinha curta dessa cidade. Sei o quanto elas recebem as fofocas de verão. Nunca me importei. Nem quando era o centro dos rumores com minha rebeldia. Chegava a achar pitoresco o falatório.

Moradores novos. Notei que eles estão chegando. Junto, a modernidade também já está por aqui, com suas novas tecnologias. Muitas lan houses e adolescentes. Será que aumentou a poluição por aqui? Haveria possibilidade de algum "banho" das redondezas ter secado? Essa droga de computador tirou todo mundo dos seus hábitos. Tenho tanta raiva que nem postei um scrap pra minha irmã avisando que vinha.

Tínhamos dois rios cortando a cidade, uma cachoeira e vários açudes sangravam no inverno pra dar banho na gente no verão. Pi! Dona Lourdes acenou pra mim. Deve pensar que sou meu pai. Ou minha mãe. Pareço com os dois e tenho cabelos compridos. Isso deve confundir a quase cegueira dela.

Minha casa. Um pouco abandonada, a pintura se descascando das paredes, das portas... Deve ser porque meu pai andou doente esses últimos anos. Eu entendo. A solidão que invade os idosos é como um monstro oculto pelos cantos: aterroriza calada.

Tão quieto quanto aquela casa. Saí chamando todos pelos cômodos, desarrumados pela manhã que mal estava começando. As ocupações devem ter tragado os meus parentes a ponto deles se tornarem estranhos pra mim, às vezes. Uma mulher baixa, simpática e desmantelada (igual à casa) me encontrou. "Você deve ser o filho mais velho de Dona Carmem, né?", perguntou sorrindo completo.

Só podia pensar que era alguma amiga da família. Respondi que sim, perguntando imediatamente pelos meu pais. "Eles alugaram essa casa pra mim e foram morar no Rio de Janeiro. Ninguém te avisou? Isso faz dois anos...". Pra não parecer um analfabeto digital e doido, inventei uma desculpa, frustrado na minha própria surpresa. A mulher me olhou, balançando a cabeça meio pra cima, meio pro lado, um sorriso morto no canto da boca... Por que eu não liguei?!

2 comentários:

Flaw Mendes disse...

Obrigado pela visita e apoio... Volte sempre! rs!

belo trabalho! Parabéns!

Unknown disse...

Adorei o texto, deu pra visualizar tudo bem direitinho.. rsrs
Amei o novo layout, ficou muito bom