AVELOZ SAUDOSO DOS MEDIEVAIS

PRÉ-EXTINTA - O Aveloz é uma planta boa, cura algumas doenças de pele, ajuda no tratamento contra o câncer... Será que ela vai sumir assim, drasticamente de Fagundes-PB? É bom começar a enteder outras culturas, as agrícolas, da fauna etc.. A cada dia que passa é mais comum a extinsão de seres vivos | imagem: PhitoHerb

VALDÍVIA COSTA

Se tem uma planta que eu cresci olhando para ela essa é o Aveloz. Na casa onde cresci, na zona rural, a cerca que segurava a parte de trás, era feita desse arbusto, de nome científico euphorbia entheurodoxa. Segundo o ambientalista Aramy Fablício, de Fagundes, agreste paraibano, essa poderosa planta vai sumir dessa região em pouco tempo.

O Aveloz, para quem não sabe, vem sendo usado por diversos médicos pesquisadores no tratamento contra o câncer. Um dos institutos que estão pesquisando a planta é o Hospital Israelita Albert Einstein, para criar novo medicamento contra o câncer.

"Caso os resultados iniciais sejam positivos, estudos mais aprofundados da ação da Aveloz em tumores poderão revelar uma nova geração de medicamentos para o câncer", explica o médico Auro Del Giglio, gerente do Programa Integrado de Oncologia do Einstein e um dos coordenadores do estudo.

Um novo medicamento poderá ser disponibilizado no mercado depois de avaliada sua eficiência e grau de toxidade. Seria o primeiro destinado a cura do câncer feito totalmente no Brasil. Eles também descobriram outras propriedades terapêuticas do Aveloz, entre elas, antiasmática, anticarcinogênica, antiespasmódica, antibiótica, antibacteriana, antivirótica, fungicida e expectorante.

Todo esse potencial da planta terá que ser cultivado em outro lugar, já que em Fagundes o Aveloz está ameaçado agora, segundo Aramy. "Com a derrubada das cercas do Aveloz de forma acelerada, ele poderá ser extinto em pouco tempo". Apesar disso, ele dá uma saída. "Preservar os poucos pés que existem ou plantá-los em centros de pesquisas. Como ornamental, poucos se aventuram em ter, devido aos riscos de acidente com o látex que ela produz", explica.

CAUSA - O ambientalista acredita que a modernização e o barateamento do arame farpado estão motivando os moradores a fazerem cada vez mais as cercas com estacas de Sabiá. Numa matéria divulgada no Jornal de Fagundes, o agricultor José Medeiros disse que as cercas dessa planta soltam leite ácido, que provocava queimaduras nos animais. "Por crescer muito (10 metros de altura e 8 de largura), ocupa espaço, reduzindo o pasto do gado e da agricultura", explicou.

Aramy contou uma história sobre a cultura do Aveloz, que era tradicional na região:

Antigamente existia até pessoas especializadas em fazer cercas desses arbustos. Por ser um trabalho hostil e causar medo nas pessoas de cegar, poucos se aventuravam em aceitar e fazer cercas e podas do Aveloz. Um desses corajosos era o senhor Salvino Felix da Silva. Segundo seu filho, José Salvino, seu pai conseguiu criar e sustentar a família trabalhando em cercas de Aveloz. Para se proteger do leite e da cinza ácida da planta, seu Salvino usava uma roupa feita de couro de boi, parecida com um gibão de vaqueiro e uma carapuça de couro que cobria toda a parte da cabeça. Como óculos de proteção era caro, ele improvisava, retirava a parte do brilho de dois espelhos redondos de camelô e usava para proteger os olhos. Esses espelhos eram colados na carapuça ou amarrados com liga de baladeiras. Os trabalhadores do Aveloz, que hoje não existem mais, pareciam mais cavaleiros medievais.

ORIGEM - Os arbustos são originários da África, mas foram levados para outros países tropicais. No Brasil se adaptou bem na região Nordeste, principalmente na parte árida, onde era utilizado pelos proprietários de terra como cerca-verde. Lembro que, nas décadas de 1970 e 80, realmente havia mais dessa planta na zona rural. Talvez porque havia o hábito de fazer cercas com arbustos.

O Aveloz é conhecido também como Figueira do diabo, Dedo do diabo e Pau pelado. Tem uma receitinha caseira para a purificação das ritari (pedra) do Nkisi, no Ritos de Angola. É aconselhada no tratamento de verruga, calo, câncer, sífilis, tumor canceroso e pré-canceroso, neoplasias neuralgia, cólica, asma e gastralgia.

Contatos: aramy.fablicio@gmail.com | 83.9955.5534
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colaboração: jornalista Edimilson Camilo