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27 de junho de 2010

TERRENO FOFO


OPRIMIDO: Vagar depois da queda, à procura de consolo ou de refúgio. Texto de maio de 2005, um ano confuso. | imagem: Antônio Amaral

VALDÍVIA COSTA

Temos medo do amanhã porque o hoje nos revela a certeza e o que virá depois é terreno fofo, que os passos não firmam caminho. Mas essa confiança de estarmos vivos agora não é sólida também. É ameaça constante, já que a morte nos espreita e as dificuldades a serem superadas diuturnamente nos esmorecem.

A vida demora a se mostrar estável. Temos que atravessar desertos áridos de insconstâncias múltiplas até acharmos um paliativo que nos dê um segundo fôlego e nos prolongue a sobrevivência. O problema que cada um carrega parece ser maior do que o enigma que todos perseguimos, farejando respostas.

E a cada dia fica muitíssimo difícil enxergamos bons motivos, boas causas e boas pessoas. Somos seres infinitamente insatisfeitos e tristes. Buscamos uma felicidade ilusória, moldada pelas nossas invenções, como a televisão. E nem trabalho nem amor nos compensa pela falta imensa de uma realidade plastificada, colorida ao extremo.

O que poderíamos pensar e construir para livrarmos nossos descendentes dessa frustração, que parece crescer desmedidamente ao longo dos séculos? Termos escrito nossa história em livros, manuscritos, tratados, não impermeabilizou o mal-estar. Descobertas, avanços e criações. Nada parece modificar nosso receio de desaparecer no universo, que nem sente nossa existência microscópica.

Ficamos moldados no mundo como enfeites de quarto ou bibelôs de viagem. Nada transmite fé quando o assunto é o humano. A inteligência se desdobra em conhecimentos segmentados, diluidos em especificidades, fracos em essência. E isso impede de nos reconhecermos, nos projetarmos. Quanto mais semelhante, menos confiável.

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