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9 de julho de 2010

BASÍLIO, UM "CURADOR DE ABISMOS"


ACADÊMICO: As curadorias universitárias ou não sempre estão na rotina das distâncias. | Efeito em foto da mesa do 1º Encontro de Literatura de Campina Grande: Val da Costa

VALDÍVIA COSTA

Um sujeito artístico em vários legados nordestinos. Sensibilidade, sobra. Poética e humor, estão na bagagem. Livros, peças teatrais, músicas e uma carreira jornalística ininterrupta em cultura. Tudo indica que ele se garante e será um editor X de cultura de uma revista idosa, mas difundidora da Paraíba, o Correio das Artes. É o "curador de abismos" Astier Basílio, o não-lisonjeiro das palavras.

Natural de Vitória de Santo Antão (PE), mas crescido (física e intelectualmente) na Paraíba, ele ficou conhecido primeiro em Campina Grande e atualmente em João Pessoa. Vencedor do prêmio Novos Autores Paraibanos/UFPB (1999-2000), publicou, entre outros livros, Searas do sol (2001), Antimercadoria (2005) e Eu Sou mais Veneno que Paisagem (2008).


Os poemas inseridos ao longo da conversa que tivemos, iniciada pelo Facebook velho de guerra, integram a Final em extinção, classificada em 1º lugar no concurso Correio das Artes 60 anos (2009). Agora à frente desse suplemento que abastece nossas mentes de conhecimentos e informações atuais, Astier quer dar uma xamegada com as novas tecnologias do mercado editorial. Talvez outro blog...

DE ACORDO COM " - Na Faculdade de Comunicação (UEPB), você apareceu vindo do curso de Letras (UFCG). Já escrevia textos poéticos ou críticos para o Jornal da Paraíba, lançava livros e vi-o tocando viola, ‘um jovem que dava continuidade à arte popular’, como o seu pai, o poeta Tião Lima. Como essas profissões e artes, que se completam, se fusionaram? Que resultados você começou a alcançar nessa época?

ASTIER BASÍLIO - Acho que foi um caminho natural. Na verdade, o princípio de tudo era o de tocar viola, ser cantador. Eu comecei a escrever poemas meio que para ficar próximo disso. O lance da crítica, também foi uma consequência dos estudos e da minha dedicação à poesia escrita. Tudo sempre esteve junto. Mais tarde, resolvi, sim, cantar. Depois descobri que a cantoria é uma arte monogâmica. Que exige tempo, que exige estratégias que vão além do ofício de cantar. Optei pela literatura porque de alguma forma é a arte que eu realizo todas as artes.

" - João Pessoa. Nesse período, começaram suas atuações mais assíduas em teatro, viagens para outros grandes centros como dramaturgo e o lançamento de Antimercadoria. Na sua chegada à Capital, foram traçados ou encontrados os desafios?

AB - A ida a João Pessoa não foi programada. Mas eu pressentia que precisava ir. Era estudante e uma colega, ela já com anos de redação, me disse que as pessoas em Campina não me viam como alguém que pudesse fazer pautas simples como, por exemplo, entrevistar um prefeito. Que me viam como colunista, um cargo que nunca é conferido a um estreante, a quem mal saiu da faculdade. Verdade ou não, eu acreditei naquilo e procurei trabalho fora. O fato de já escrever críticas para o caderno Idéias, suplemento cultural de A União, me abriu portas e fez com que meu texto chegasse lá o que proporcionou essa minha ida à Capital, onde me encontrei profissionalmente. O teatro começou em Campina. Fiz um curso no Dart. Quem me disse que eu tinha ir, praticamente me levou no braço foi Taciano Valério, amigo que à época era só escritor de contos e não o cineasta premiado que é hoje. Iríamos montar o ‘Auto do Inferno’, mas o professor se transferiu, o grupo se dispersou, mas dessa turma há muitos nomes interessantes que seguiram carreira, creio que Mírtia, que hoje está no Quem Tem Boca, acredito que Érik Breno também era da minha turma, além de alguns meninos do Marxuvipano. Ocorre que em 2006 surgiu um desafio – olha como tudo tem a ver com tudo! – devido a um texto crítico meu sobre Ariano, despertei a atenção de um encenador que estava com um espetáculo marcado para estrear no Rio. A partir de então essa pesquisa para compor o texto, essa ligação mais direta com a dramaturgia – que era o que eu buscava deste o Dart – se efetivou e, como não poderia deixar de ser, redundou também numa dedicação de minha parte em termos de atuação profissional, me tornei um repórter especializado, passei a cobrir festivais e a viajar para assistir espetáculos. O lançamento de Antimercadoria veio um pouco antes mas é sintoma desse turbilhão e, creio, é uma poesia que procura refletir muito o tempo em que estou inserido e minha relação com as outras artes.

" - Como um cara antenado, que saca de informática, se dá bem com a net, você já fez alguns blogs, um deles o Eu Sou Mais Veneno que Paisagem. Mas muitos escritores, jornalistas e dramaturgos não conseguem alcançar os avanços tecnológicos. Dentro do mercado editorial isso é um fator determinante atualmente? Que vantagens você tira por ter essa inter-relação com tais ferramentas?

AB - Escrevi dois livros a partir de blogs, Antimercadoria e Eu Sou Mais Veneno que Paisagem. Abrir as portas de sua oficina de criação tem vantagens. Aplaca a solidão. Faz com que determinadas experimentações sejam testadas, incita um bom diálogo. Não sei te dizer até que ponto se estabeleça uma relação com o mercado editorial. Eu sou poeta, então, escrevo um gênero que tem pouco alcance. Vá aos sites de editores em quase todas elas há um aviso: não recebemos originais de poesias; publicamos, mas não por meio de envio de originais. Eu sou alguém que gosta de experiências. Ultimamente, venho me dedicando à prosa e estes escritos são passados para alguns amigos por e-mail. Não sei te dizer a razão, mas não me sinto mais à vontade com exposição de blogs, até porque eu acredito que hoje em dia a blogosfera mudou, as relações entre leitor e escritor na Internet se reconfiguraram, há mais pessoas escrevendo, há muita coisa no ar. Eu não sei te dar uma resposta, nem sei ela há, de como se pode tirar uma boa relação com as ferramentas. Acredito, acima de tudo, que o mais importante é a literatura é a dedicação ao ofício, à arte que, claro, esta pode ser conciliada com estes mecanismos e ferramentas tão úteis à comunicação.

" - O cargo de editoria de cultura, muitas vezes, envaidece o ‘jornalista’ mais do que desenvolve a área, com novos personagens e movimentos. Talvez devido ao engessamento organizacional das empresas de comunicação. O que você pretende apresentar de diferencial, visto que o suplemento já foi feito e refeito de diversas formas ao longo dessas seis décadas? Já pensou em algumas novidades para os leitores, alguma interação com outros conceitos, como os midiáticos virtuais?

AB - O Correio das Artes é uma encruzilhada. Ao mesmo tempo em que é tradição, também é vanguarda; ao mesmo tempo em que é órgão de divulgação da literatura paraibano o é da literatura nacional. Há que se ter um equilíbrio e conciliar estas expectativas. Em relação ao que penso propor de diferencial, um conteúdo que esteja à altura do suplemento e que faça jus ao nome, seja Correio das Artes, que abrigue literatura, cinema, teatro, artes plásticas, música, cultura popular. Não sei se há muito o que fazer além do que os outros já fizeram. Não tenho como criar um novo alfabeto, mas, com as mesmas palavras, é possível criar frases novas e me comunicar bem com elas. Mas respondendo melhor sua pergunta, penso em desenvolver um blog com conteúdos exclusivos, com podcast com colaboradores, mas é algo que ainda está em fase de planejamento, em princípio, preciso ajustar o ritmo das edições para ter tranqüilidade e conseguir realizar edições com capricho e apuro.

" - O que vem por aí, nos seus planos, nas artes? Tem peça teatral, livro ou música à vista?

AB - Minha primeira composição sai agora, em CD. É uma parceria com o amigo Xisto Medeiros. Eu pus letra em uma melodia dele. Gostei do resultado, quero muito ver o que o pessoal vai achar, enfim. Tenho um livro aguardando publicação, o do prêmio Correio das Artes, ‘Final em Extinção’, que deve sair, creio, até o final do ano. Ultimamente tenho me dedicado com muito afinco à produção de prosa de ficção. O primeiro resultado desse trabalho pode ser conferido na coletânea “Tempo Bom”. O livro, uma organização de Cristhiano Aguiar e Sidney Rocha, saiu pela editora Iluminuras. Tem gente muito boa na edição como Marcelino Freire, Ronaldo Correia de Brito, Xico Sá, Nelson de Oliveira. Toda a renda será revertida aos desabrigados do Nordeste. O lançamento acontecerá nesta sexta próxima, em várias capitais em todo o Brasil, João Pessoa também – o local será no Sebo Cultural. Em relação ao teatro, acho que é uma arte que precisa ser feita de encomenda. Tem que haver demanda. Eu não tenho nada na gaveta. Meu senso e minhas ideias teatrais são todos potencializados nos meus escritos em prosa.

4 comentários:

Toninho disse...

Valeu man ... seriedade e competência.

Toninho disse...

Boa entrevista nega!!

Marcos Moraes disse...

Muito boa a entrevista! eu tenho audio daquela mesa sobre literatura que ele participou no encontro da nova consciencia, ta no 4shared.
EStou muito tentado a rebloga-lá para o livre pauta,kkk
Um xero e vamos que vamos!

De acordo com disse...

Rebloga sim, Marcos (sobre matéria da mesa de literatura). Coisas boas sempre merecem segunda opportunity. hehehe
Obrigada pela visita! 0/