
PROVAR - cliquem nos links que sai som. | imagem: Gabriel Machado
VALDÍVIA COSTA
Bateu um tambor, eu estou dentro. Dançando, sentindo o ritmo. Catando os sons dentro do som. Identificando os instrumentos, os elementos. Viajo nos arranjos, na voz, na letra. Consistente, porém ausente, às vezes a letra está somente na completude da música, em lugar nenhum... mas há um desenho imaginário da canção, que percorre, solto, nossa mente. É a melodia costurando e balançando tudo. Muitas vezes, é música, mas outras é só ruído o que compõe a sonoridade.
O bom de ouvir é o ânimo que este sentido proporciona. Isso até o povão sabe identificar quando escuta uma “música” depreciativa (mesmo no engano). Muitas vezes só sentimos um frívolo ímpeto de se envolver com ritmos estranhos. Mas é só rebeldia sem causa. Quanto mais se ouve, mais se tem a certeza de que falta mais numa sonoridade para ela ser música. Há um filtro do que merece ser repetido dentro do meu apertado tempo.
Fica difícil guiar o gosto, pois agrada tudo o que é feito com minúcias. O que tem zelo sonoro, o que tem acabamento artístico, diferenciado de algo que todos entendem. Pois somos tantos produzindo sons que o Brasil exporta o produto. E, muitas vezes, o que é daqui não toca no país, nem no continente. Por isso procuro ser uma farejadora de hoje, que acha relíquias de agradar ouvidos, diariamente.

Sopra um agudo programado, como aquele naipe de metais em Across the Atlantic (The Budos Band)... Escuto-o quando a situação pede uma atitude de silêncio. Foi essa ligação aos sons que me livrou de uma depressão por trabalhar com o que eu considero desgastante. E tome Tommy (Guerrero)! Foi a medida homeopática que ingeri no trabalho. O intuito repetitivo de Tiny, repetidas vezes, me desintoxicou das mazelas e opressões.
Mas essas queixas urbanas e reviravoltas poéticas são características dos brasileiros. Identifico-me com eles. O estilo livre, misturado, que acentua nossas matrizes africanas unidas com o improviso do jazz ou do soul americanos. Sintetizamos na música negra sem menosprezarmos os ritmos. Não nasceu aqui a world music, mas é no Brasil que ela ganha adornos nordestinos, sulistas e amazonenses.
E esse resultado que nos define também como artistas de ponta, que trafegam em todos os continentes, mostrando criatividade e estilo, é o que nos empolga, nos faz balançar a cabeça com o jeito brasileiro de musicar a vida. Tive esses lampejos sobre música ouvindo Toninho Borbo, Jam da Silva, Lula Queiroga, Mônica Feijó e tantos outros que me fizeram batucar na mesa do computador.
Seria eu uma bajuladora? Creio que sim. Uma sem vergonha de falar sobre o que ouço! Afinal, "a música é a revelação superior a toda sabedoria e filosofia", como bem disse Beethoven. E quem a ama, sempre a verá em tudo, como Arthur Schopenhauer, que a via petrificada na arquitetura.
Um comentário:
É o oxigênio da alma!
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