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14 de agosto de 2010

BATE TAMBOR, SOPRA METAL


PROVAR - cliquem nos links que sai som. | imagem: Gabriel Machado

VALDÍVIA COSTA

Bateu um tambor, eu estou dentro. Dançando, sentindo o ritmo. Catando os sons dentro do som. Identificando os instrumentos, os elementos. Viajo nos arranjos, na voz, na letra. Consistente, porém ausente, às vezes a letra está somente na completude da música, em lugar nenhum... mas há um desenho imaginário da canção, que percorre, solto, nossa mente. É a melodia costurando e balançando tudo. Muitas vezes, é música, mas outras é só ruído o que compõe a sonoridade.

O bom de ouvir é o ânimo que este sentido proporciona. Isso até o povão sabe identificar quando escuta uma “música” depreciativa (mesmo no engano). Muitas vezes só sentimos um frívolo ímpeto de se envolver com ritmos estranhos. Mas é só rebeldia sem causa. Quanto mais se ouve, mais se tem a certeza de que falta mais numa sonoridade para ela ser música. Há um filtro do que merece ser repetido dentro do meu apertado tempo.

Fica difícil guiar o gosto, pois agrada tudo o que é feito com minúcias. O que tem zelo sonoro, o que tem acabamento artístico, diferenciado de algo que todos entendem. Pois somos tantos produzindo sons que o Brasil exporta o produto. E, muitas vezes, o que é daqui não toca no país, nem no continente. Por isso procuro ser uma farejadora de hoje, que acha relíquias de agradar ouvidos, diariamente.

imagem: Apê da Mix

Sopra um agudo programado, como aquele naipe de metais em Across the Atlantic (The Budos Band)... Escuto-o quando a situação pede uma atitude de silêncio. Foi essa ligação aos sons que me livrou de uma depressão por trabalhar com o que eu considero desgastante. E tome Tommy (Guerrero)! Foi a medida homeopática que ingeri no trabalho. O intuito repetitivo de Tiny, repetidas vezes, me desintoxicou das mazelas e opressões.

Mas essas queixas urbanas e reviravoltas poéticas são características dos brasileiros. Identifico-me com eles. O estilo livre, misturado, que acentua nossas matrizes africanas unidas com o improviso do jazz ou do soul americanos. Sintetizamos na música negra sem menosprezarmos os ritmos. Não nasceu aqui a world music, mas é no Brasil que ela ganha adornos nordestinos, sulistas e amazonenses.

E esse resultado que nos define também como artistas de ponta, que trafegam em todos os continentes, mostrando criatividade e estilo, é o que nos empolga, nos faz balançar a cabeça com o jeito brasileiro de musicar a vida. Tive esses lampejos sobre música ouvindo Toninho Borbo, Jam da Silva, Lula Queiroga, Mônica Feijó e tantos outros que me fizeram batucar na mesa do computador.

Seria eu uma bajuladora? Creio que sim. Uma sem vergonha de falar sobre o que ouço! Afinal, "a música é a revelação superior a toda sabedoria e filosofia", como bem disse Beethoven. E quem a ama, sempre a verá em tudo, como Arthur Schopenhauer, que a via petrificada na arquitetura.

Um comentário:

Toninho disse...

É o oxigênio da alma!