POSSÍVEL - Os estudos do músico Silvério Pessoa, agora especialista em psicopedagogia, propõem a inserção do forró nos temas transversais do currículo escolar. | imagem: Extreme |
O FORRÓ COMO CULTURA POPULAR:
Da celebração do povo aos currículos escolares
Faculdade Frassinetti do Recife - Fafire
Especialização em Psicopedagogia
SILVÉRIO LEAL PESSOA
Resumo
Esta pesquisa está voltada para os Estudos Culturais e para área de Didática dos conteúdos específicos. Tem como objetivos investigar a relevância do forró como cultura popular e estruturador da identidade de um povo, e propor a inserção do forró nos temas transversais do currículo escolar. Utilizando de pesquisa bibliográfica, este estudo tem início com a análise dos conceitos de cultura popular e hegemonia.
Analisa também o processo de globalização e como as novas tecnologias da comunicação e do mercado, influenciam a adoção de padrões culturais por parte da escola pública diferentes dos padrões culturais dos seus alunos e alunas. O currículo é averiguado como espaço de resistência e que envolve a construção de significados e valores culturais.
Entretanto, não é um estudo que vai de encontro ao diálogo cultural, multicultural, pois avalia o conceito de hibridismo vinculado à identidade e subjetividade dos alunos e alunas em constante contato com diversas culturas. Assim, esta pesquisa não parte de uma perspectiva ortodoxa, isolando as culturas, e sim de uma interação e integração cultural averiguando o forró como possível fortalecedor de uma identidade, para daí iniciar o processo de diálogo. Para que essa proposta seja efetivada, o forró e a cultura popular devem ser inseridos como temas transversais do currículo escolar.
Palavras-chave: Cultura popular; forró; Hibridismo; Currículo escolar.
imagem: show de forró de Silvério |
1 Introdução O forró, a cultura popular e o currículo escolar têm sido motivo de vários estudos nas últimas décadas, por motivo do impacto que a globalização e a pós-modernidade causaram sobre a identidade de uma região e consequentemente de um povo e de um lugar específico. São vários os conceitos que envolvem o que se comumente denomina-se cultura popular.
Seus agentes são geralmente os trabalhadores advindos das classes sociais sacrificadas economicamente e habitantes do interior; Sertão, Agreste e Zona da mata, ou seja, distante dos centros urbanos das capitais. O forró é cultura popular, identifica um povo, e é da classe trabalhadora rural que geralmente surgem os sanfoneiros, zabumbeiros, e as festas que consolidaram o forró como um gênero que aglutina além da música, o ritmo, a indumentária, a culinária, a dança e a literatura de cordel.
É cada vez mais difícil para a cultura popular conseguir ser “bloco de resistência” diante do processo da pós-modernidade e da globalização. Novos fatores influenciam diretamente para que a cultura popular sofra alterações ou ameaças em suas matrizes, por exemplo: o mundo virtual, as redes sociais, (Facebook, Orkut, Twitter, Myspace) os jogos eletrônicos, as TVs, as antenas parabólicas e os calendários culturais das cidades, nos quais as expressões artísticas advindas do mundo da cultura popular terminam sendo contempladas como manifestações folclóricas e caricaturadas.
Nesse contexto, o forró ocupa um espaço conquistado, histórico, e mesmo com o novo mercado fonográfico priorizando novas maneiras de ouvir músicas, como o Iphone, o Itunes, o mp3 e o download, o forró continua sendo um referencial para identificar um universo classificado como nordestino, popular, cultural, artístico e folclórico.
Por outro lado, a escola pública, historicamente vem sendo solicitada pelo sistema econômico vigente para dar conta das transformações sociais que são resultados dos novos modelos de mercado aplicados arbitrariamente pelo capitalismo, tais como o mercado globalizado e o surgimento de novos padrões culturais que chegam às escolas, inclusive através dos alunos que recebem influências desses padrões pela TV, rádio, internet e publicidade.
São modelos e padrões que distanciam os alunos de suas origens e matrizes culturais. Portanto, as novas maneiras de entender a cultura popular e o currículo escolar diante das novas ferramentas tecnológicas, vêm passando por novos estudos, principalmente por teóricos da America Latina, favorecendo assim uma compreensão mais próxima da realidade do Brasil e consequentemente do Nordeste.
São os novos desafios da escola pública no Brasil, diante dessas ferramentas tais como o Orkut, o Twitter, o Facebook, os sites de música, o mp3 e o download. Tais ferramentas confrontam as tradições com a modernidade e a pós-modernidade, estimulando uma nova forma de modelar o cotidiano das crianças e dos jovens diante de um mundo globalizado. Ao mesmo tempo que provoca reflexões de como a cultura popular e a escola estão entendendo esse novo panorama do mundo atual modernizado e como se “defendem” ou se “hibridizam”. CANCLINI (1999, p. 17).
De acordo com o autor, a escola e os meios eletrônicos têm sido, desde os anos cinqüenta, a principal via de acesso aos bens culturais. O conceito de cultura popular, antes rígido em sua maneira de preservação e multiplicação, agora passa por reflexões que envolvem novos termos, pois a escola recebe os alunos que trazem novas maneiras de linguagem, de se vestir, de discutir o mundo, e de novas formas de aquisição do conhecimento.
imagem: Dança |
Uma cultura híbrida pode ser reconhecida como mantenedora do seu padrão cultural de origem, enquanto dialoga com outras formas de valores e olhares sobre o mundo. O Hibridismo é o diálogo e a combinação entre culturas, e pode acontecer no interior da escola pública quando a cultura do coletivo que frequenta a escola pública se vê diante de novos referenciais culturais. Cabe à escola pública através do currículo escolar, fortalecer a história cultural do coletivo e ao mesmo tempo abrir caminhos para o conhecimento de outras culturas sem perder a matriz original do grupo. É nesse momento que acontece a hibridização.
O forró como cultura popular vem sofrendo a ação da hibridização desde os anos 40 (Figura 2), quando o rádio tornou-se veículo da nacionalidade do povo brasileiro, e posteriormente, com o surgimento do mercado das gravadoras e da chegada através das programações das rádios da música que vem de outros mercados, principalmente o norte-americano. Do baião criado por Luiz Gonzaga até os tempos atuais, o forró vem sendo ornamentado com outros elementos que não fizeram parte de sua origem, conquistando ares contemporâneos e resistindo como música de um povo. Os novos elementos que foram absorvidos pelo forró são por ex: as guitarras, os sintetizadores, as novas situações expressadas pelos textos que não apenas a seca, a fome, o gado, o vaqueiro etc.
O forró como cultura popular, o currículo escolar, o novo mercado globalizado, a identidade e a subjetividade, serão os temas tratados nessa pesquisa e o que motivou a realização da mesma é o momento oportuno e adequado de discussão inserido nas academias, escolas, instituições sociais entre os sujeitos diretamente envolvidos com esse universo tais como professores, professoras, lideres de comunidade, gestores culturais e principalmente a classe artística. O cotidiano da escola pública vai declarar se o padrão contemplado através da prática cotidiana, seja do fazer pedagógico dos professores, seja através da seleção dos livros didáticos, da própria visão conceitual que a escola pública tem de cultura, folclore, tradição, está favorecendo a afirmação da identidade do aluno ou se por outro lado, favorece ao modelo hegemônico de um sistema econômico que assedia a cultura popular observando seus agentes como prováveis consumidores. É a luta de classes encontrada no cotidiano escolar.
Politicamente essa pesquisa observa se a escola pública é uma reprodutora dos modelos econômicos ou se pode ser um espaço de resistência criativa diante desse labirinto pedagógico e cultural. A identidade de um sujeito é o esteio sobre o qual ele forma seu mundo em contato com o mundo dos outros, é a identidade que fortalece o mundo no qual foi construído um referencial de símbolos, imagens e uma vida coletiva, e a escola deve fortalecer e assegurar esse mundo recebido em seus domínios. Quando a escola pública trabalha um padrão cultural que não está relacionado com o mundo do aluno, trava a relação entre o aluno e a escola.
Ao mesmo tempo cria problemas na aprendizagem, efetivando um ato de conflito e contradição. Esse fenômeno acontece no espaço escolar através do livro didático, da prática pedagógica e das matrizes curriculares. É o que veremos também na presente pesquisa. Para efetivar esse estudo, utilizou-se de análise bibliográfica de autores relacionados à pesquisa com os estudos culturais, educacionais e com o currículo, averiguando os temas no atual panorama de um mundo globalizado e pós-moderno com as inovações das novas tecnologias, optando por autores vinculados à pedagogia crítica. Esta pesquisa apresenta a partir do segundo capítulo, o conceito de cultura popular relacionado com os movimentos migratórios e o conceito de hegemonia.
Relacionando a crise da cultura popular com o surgimento do mundo pós-moderno e do sistema econômico globalizado, afetando diretamente a hereditariedade da cultura popular e questionando o papel da escola pública nesse contexto. Finaliza o capítulo uma reflexão sobre o conceito de “trânsito” de Paulo Freire. O terceiro capítulo discorre sobre a identidade e a subjetividade, procurando rever os atuais conceitos e as tensões imbricadas na procura pelos significados que camuflam uma luta de classes existente, quando o terreno de tensão é a escola e a abordagem sobre as diferenças. No quarto capítulo o forró entra em cena.
A abordagem esclarece sobre o forró como música popular ou música folclórica, o significado do termo forró e discorre sobre a dança, ritmos e dimensão. Associa o surgimento do forró no contexto dos movimentos migratórios, da expansão do forró através do rádio e registra a criação do baião por Luiz Gonzaga. Ainda nesse capítulo, um enfoque importante reflete sobre o Nordeste contendo uma identidade própria versus o Nordeste estereotipado.
imagem: Bacurau |
Delineando o que são os temas transversais, é nesse momento que a pesquisa sugere exemplos e possibilidades dos Possíveis conteúdos envolvidos na proposição de ter o forró e a cultura popular inseridos no currículo escolar como temas transversais. Esta pesquisa procura, através de uma abordagem teórica, analisar a relação da cultura popular com a identidade dos alunos e alunas que frequentam a escola pública estadual ou municipal e propor a inserção do forró como cultura popular nos temas transversais do currículo escolar.
Investigar a relevância do forró como cultura popular, bem como questionar sobre o que ocorre com as culturas populares, o currículo escolar, a escola pública e a sociedade, frente ao processo da globalização. Por fim, Analisar a importância dos estudos sobre cultura popular e refletir, através de proposição, a pertinência do tema forró como um elemento que favorece a melhoria da prática educativa nas escolas públicas fortalecendo a subjetividade e identidade dos alunos.
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4 comentários:
Parabéns Silvério. É um tema urgente de discussão e necessário no currículo.
Nada mais justo. O Nordeste pode ser o ponto de partida para que as escolas tragam no currículo a música brasileira.
Além de que, Anderson, os alunos teriam a oportunidade de identificar o que é o forró autêntico e como ele vem se desdobrando enquanto manifestação popular ao longo dos anos. 0/
Gostaria de mais informações sobre o artigo postado no dia 17 de setemb de 2010: O forro como cultura popular. Quando foi escrito? Tentei baixar o arquivo completo, entretanto o link está com erro. Aguardo contato: alleisoj@hotmail.com
Josiella
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