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3 de setembro de 2010

MELANCOLIA SEM CADERNO


TEMPESTUOSO - Sensação apertada, saudosista, ao olhar pra um caderno num supermercado. Texto de novembro de 2008 | imagem: Casa azul da arte

VALDÍVIA COSTA

Eu não o toco mais.

Outro dia te vi no supermercado. Passei as mãos em suas costas e pude reviver a lembrança do cheiro que me fazia ficar horas deitada, com o rosto colado, sentido...

Mas desde esse dia, não o pego mais.

Vivemos momentos “Lost”, um preenchendo o outro com mistérios. Eu percorria mundos outros pra te contar histórias. Você, calado, retratava o olhar poético que eu criava dos outros.

Não sentia ciúmes de outras mãos te tocarem. Sabia que voltava. E começávamos novo ciclo de pequenos recortes. Desenhos rebeldes de uma menina apaixonada pelas horas de distração que você me dava.

Aí, os tempos mudaram. Evoluímos nas relações e a comunicação é fast food. Mudei a forma de sentir. Mudou o modo de interagir.

E eu escrevo na informatização da arte agora, mas o reverencio.

Sei que não desaparecerá, mas não o toco mais...

(- -): Dalton Menezes
Tem coisas que gostaria de ter escrito ou de ter pensado... ou de ter sido caderno pra guardar letras... "Eu, você, nós dois, já temos um passado, meu amor... Um violão guardado, aquela flor e outras mumunhas mais. Eu, você, João girando na vitrola sem parar e o mundo dissonante que nós dois tentamos inventar, tentamos inventar, tentamos inventar, tentamos... Eu, você, João girando na vitrola sem parar e eu fico comovido de lembrar o tempo e o som. Ah! Como era bom, mas chega de saudade... A realidade é que aprendemos com João, pra sempre, a ser desafinados, ser desafinados..." (Saudosismo - C. Veloso)

Quando então me canso de tanto divertimento e companhia, e tendo sido levado à meditar em meu quarto, ou em um passeio solitário ao longo do rio, sinto a minha mente completamente absorta em si mesma, e me vejo naturalmente inclinado a conduzir a minha visão a todos esses assuntos sobre os quais encontrei tanta disputa no curso da minha leitura e conversação. Não posso deixar de ter curiosidade acerca dos princípios morais do bem e do mal, a natureza e o fundamento dos governos, e a causa dessas tantas paixões e inclinações que atuam em mim e me governam. Me sinto desconfortável em pensar que aprovo um objeto e desaprovo outro; que chamo algo de belo e algo de feio; que decido a respeito da verdade e da falsidade... sem saber com base em quais princípios eu procedo... Sinto uma ambição crescente em mim de contribuir para a instrução da humanidade... Esses sentimentos surgem naturalmente em minha presente disposição... Sinto que deva ser um perdedor no que concerne ao prazer; e essa é a origem da minha filosofia. (trecho do Treatise of Human Nature de David Hume, Conclusão do Livro I)


3 comentários:

São disse...

Não é esta a versão que mais aprecio deste belissimo trecho musical.Mas gostei de ouvir, claro.

Boa semana.

Margot Félix disse...

Um texto tão melancólico, mas tão gostoso de ler. Gostei demais desse post. E a escolha da música... sensacional!

Abraço!!!

De acordo com disse...

Tudo beeeeem melancolic. Eu gosto tb. Valeu pela identificação! 0/